segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

POESIA: NA AGULHA, UM FIO... UM FIO DA IMENSIDÃO...

                                  COTIDIANO
                              Jorge Bichuetti

Vinagre e fel na minha boca
aguçam minhas papilas: eu
quero, logo, um gole de tequila!...


Um punhal na minha garganta
ativa meu coração... Trêmulo,
calo a dor com os versos travessos
daquela canção que um dia
soou na noite vazia, engravidando-me de luar...


Assim, sigo meus dias...
Longe dos tronos dourados,
perto dos becos e dos fados
que na solidão da agonia
embriaga o caminho e voa sobre os abismos
num melancólico sonhar...


Depois, acordo inteiro:
eu e minhas esperanças;
amnésico, esqueço as loucuras
do mundo... e as dores do caminho...
Colho na mato u'a flor...
Mirando-a penso que a vida
é uma corda estendida entre
o desespero da morte e o baile da própria vida
que teima em recomeçar...


                                     RESISTÊNCIA
                                  Jorge Bichuetti

Com fiapos de pano velho,
fios eletrificados e pétalas
de flores murchas no vento,
eu teço minha armadura...

Nela, mi'a resistência flui
no bailado das penas que
rodopiam no ar... entre o
céu distante e o ninho vazio...

Talvez, nalguma aventura,
ou num atropelo da sorte,
eu consiga voar... além
das nuvens cinzentas
das flechas envenenadas
dos espantalhos sérios,
sisudos e narigudos
que impedem as aves
e meninos, de na vida, 
rir e brincar... voar no
trapézio, pisar o azul
que goteja nas manhãs
sobre a relva molhada
pelas gotas vindas do luar...

Ah! como é belo o destino
do rio que se perde e se encontra
na imensidão da vida que é mar...


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