Jorge Bichuetti
Céu estrelado. Longe, seriemas e saracuras piam... um canto enigmático. No silêncio da noite, as vozes da natureza vibram eloquentes. A quietude dos álamos , serena e terna, me revelou um lado zen que nunca havia notado nos meus bailarinos: oram, meditam... As samambaias agradeceram sorridentes a água, água carinhoso que lhes dei, lentamente... O cheiro da roseira me recordou que a vida cheira sempre; não sempre igual...
A Lua anda de ressaca... A rebeldizinha não quis dormir cedo; ficou horas e horas ladrando como se discursasse numa plenária sindical... Queria festa; eu deseja os sonhos...
Os passarinhos nômades começam a chegar...
Com eles, meus pensamentos voam...
O mundo nos deseja apatia, acomodação e covardia...
Não nos aceita num quixotesco devir guerreiro.
A violência não é disfuncional para o capitalismo; ele se alimenta da carne apodrecida da barbárie...
Já a luta, a divergência e a resistência o incomoda, muito...
Podemos ser exótico, nunca singulares...
Podemos até ser criminosos ou terroristas; nunca revolucionários...
O mundo capitalista teme a vida que se descobre efervescência vital e a mudança...
Se nos encontramos cheios de vida, com brilho e pulsações de guerreiros, na alegria do artesão que tece, com dedicação e arte, o novo, somos demasiadamente perigosos.
Nem Deus belisca o couro duro do capitalismo. O capitalismo teme os que incorporam na integridade de uma vida o outro: o outro marginalizado, excluído, espoliado, oprimido...
quando entendemos que o outro faz parte de nós, já não nos permitimos na inércia vegetativa da submissão.
Questionamos, rebelamo-nos, resistimos... Somos insurgentes. Guerreiros da mudança no perambular do cotidiano.
Somos a voz que denuncia e profetiza, anunciando um outro mundo possível...
Somos subversivos; radicais...
E nos condenam como se estes adjetivos não fossem sinónimos de dignidade indignada.
Subverter a ordem? Por que não? A ordem vidente é exclusão, miséria e fome, doenças, abandono, guerras, intolerância, fascismo...
Não ser radical é não mergulhar com destemor e valentia no que cremos e pensamos... É descompromisso, negociata, oportunismo...
O desejo de mudança é sonho, utopia, caminho. Travessia.
Um dia, olharemos para a vida e escutaremos, novamente a voz da América Latina, no corpo indígena de Mercedes Sosa, e ela nos dirá, reflexiva: " Eu só peço a Deus que a dor não me seja indiferente; e que a morte não me encontre, assim, vazia e só, sem ter feito o suficiente."
Sigamos nas asas dos ventos da mudança...
Não cultivemos a ilusão de que o outro é um ente alheio, somos um nós...
Deixemos de evitar uma profunda e radical efervescência vital... que o corpo esteja na vida, sentindo-a, pulsando com ela e com ela, se indignando diante de toda e qualquer injustiça...
Sigamos, assim... Busquemos nossa alteridade.
Semeemos com e para a humanidade as flores da nossa sonhada eterna primavera.
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6 comentários:
Pois é meu amigo tudo lindo ... mas um dia tive uma experiencia triste cruzando a serra da Bocaina , entre Paraty-RJ e Cunha-SP ... Parei no alto da serra do Mar para contemplar a mata , a alvora e o azul do mar de angra ao fundo ...e saiu isso ai que se segue ..um abraço
fraterno...
Ecológico
Vozes da mata
(Tributo a uma Jaguatirica atropelada)
Cai a noite,
Ouça as vozes da mata
A mata anoiteceu
Ouça cantos primatas
Quem adormeceu no seu seio?
Contamos um a um
Porque a Jaguatirica não veio?
Araçás! Jabotis! Olá, Seu Ipê!
Pomba - rola que noticias nos traz?
Que podes nos dizer?
Contamos um a um,
A Jaguatirica não vem mais?
Gato-do-mato, maracajá,
Arara-azul venha nos contar.
Então? Sabe não?
Na palmeira, sabiá não quer cantar!
Onde passava rio,
Hoje passa caminhão.
Chora, chora natureza,
Cachoeiras e cascatas
Biomas de vidas e pureza
Mata verde, virgem mata.
Saracura!Saracura!
Mata escura de tristeza
Orquídeas, samambaias,
Mangues, selva e mar,
Orvalho chora nas folhagens
Das bromélias e ananás,
Jaguatirica fez longa viagem,
Mais um, não volta mais
(@By Adilson S. Silva)
Adilson, cada poesia sua é um capítulo da vida que se encanta na ternura do amor e na liberdade das paixões.
Belísssimo poema.
Abraços, Jorge
Jorge, busquemos a nossa alteridade, boicotemos todos os motivos gerados pelo capitalismo para a tristeza da humanidade. Não nos deixemos ser explorados, espoliados sentimentalmente. Façamos dos nossos pensamentos armas carregadas de flores embriagadas em sonhos de paz e amor. Beijos
Querida amiga Tânia, este teu pensamento- um belo aforisma poético, me parece traduzir um caminho de afirmação da alegria e da paz nos entreveros da vida.
Abraços com ternura na alegria da partilha; Jorge
Congratulações por este texto lindo, devo dizer diferente, eu já disse tantos parabéns, rssrs, mas tudo merecido a ti Dr. Abraço cheio de luz da amiga LuGoyaZ.
Lu, andei batendo tambores noo seu blog nas ressonâncias da nossa Mãe África. Um carinhoso abraçoe a gratidão pelo carinho; Jorge
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