sexta-feira, 6 de maio de 2011

ARTE, PRODUÇÃO DE SUBJETIVAÇÃO E LOUCURA

                                                     Jorge Bichuetti

A arte nasce com o ser humano. Um equívoco da ciência que não consegue entrevistar a mãe natureza esta exímia artista com  performances esplendorosas...
E nela construimos uma estética, um canal de expressão para nossas emoções subterrâneas e uma ponte para a virtualidade do porvir e do devir...
Na arte, expurgamos lágrimas contidas, repressadas, e risos suprimidos, domesticados: os afetos e as intuições fluem alheias às barreiras da lógica, do previsível e admissível, das ossificações que nos levam a viver com nossas emoções reprimidas. Ela, assim, é um escoadouro, uma janela para a vida naquilo que o socius controla como indesejável... Que, contudo, se mantido, acumula e explode ou implode, lesa nossa existência... A arte é um instrumento de humanização num mundo coisificante, que nos cristaliza e nos robotiza...
A arte é, também, um dispositivo de subjetivação.
Subjetiva-nos, libertariamente...
O ser humano rodopia nas repetições no meio do redemoinho. O que o torna mesmice, neurose, sofrimento, inflexibilidade, ferida aberta e sangrante.
A arte nos permite bifurcar, derivar, reinventar e criar... Ele acolhe a dor e enxuga lágrimas; porém, o faz, renovando-nos, de tal forma que em conxeção com ela vamos nos subjetivando livres: livres das amarras do ego e livres das correntes do socius.
Ela é a loucura que cura nossas loucuras...
Revoluciona a vida e os caminhos...
Nossa loucura, loucura-chaga viva, de hospício, é uma loucura onde caos se vê capturado e anulado na sua potência criativa. O caos é autopoeiticamente um criador de novidades. Potência negada e massacrada na loucura que gira num buraco negro de dor e terror...
A loucura é a falência da lógica, do pragmatismo, do consumismo, da vida servil... "do mundo de vendedores e vencedores" ( Baremblitt)...
A arte é uma tresloucada ruptura com a racionalidade pragmática...
Um outro funcionamento. Um surreal universo, como o sonho, a magia, o místico,e a própria loucura.
Na arte , então, temos a retomada dos funcionamentos negados pela racionalidade técnico-instrumental...
Ela quebra os ponteiros do Cronos; nos desterritorializa e nos conecta com o universo da criatividade e da magia; da ternura e das paixões; da vida que caminha andarilha nos vitalizando pois nos libera das amarras de angústia e dor deste mundo de falta e negação, imediatismo e servidão.
A arte pode...
Pode gerar vida, singularizar vidas, revolucionar os alicerces da vida...
Ela percute e a vida voa... Voando ganha o infinito e no infinito, se plenifica coo impermanência, multiplicidade, singularidade e permanente devir.
Ela é Fénix, Dionísio, movimento...
Nela, o ser humano se redescobre fragilidade e potência divina... Humanidade cósmica; o sagrado profano que perambula nos singelos caminhos da paz e da alegria.

6 comentários:

Concha Rousia disse...

Jorge, ante alguns de teus textos ajoelho e rezo, eu, que já tantas vezes perdera a fé...
'O mundo capitalista teme a vida que se descobre efervescência vital e a mudança...'... 'Somos subversivos; radicais... E nos condenam como se estes adjetivos não fossem sinônimos de dignidade indignada.' Eu tenho que salientar esses trechos, me emocionaram...

E a Mercedes Sosa... essa guerreira, sabes que tenho um parecido físico com ela, estranho, né? mas é... e por isso antes de a conhecer a mim já me perguntavam por ela... e morreu o meu dia de anos... (te convido a ver aki: http://republicadarousia.blogspot.com/2009/10/mercedes-sosa-eu.html )
Grande abraço, camarada na palavra, abraços de fé, Concha

Concha Rousia disse...

este vou imprimir para ler na calma... que agora não tenho, gostei de ver que essa imagem desse abraço do mar também eu tenho em meu blog... Abraços com força da maré, Concha

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Concha, aqui, estou, final de dia, labuta realizada, e recebo teus comentários como quem encontra água cristalina de riacho, sob a sombras de árvores centenárias.
Obrigado pelo carinho.
As reflexões se multiplicam no desejo de veremos a vida despida das cruéis amarras fascista que a inibe na explosão de vida livre.
A arte pode...
Abraços , querida, com ternura,
irei ver Sosa no Rousia.
Abraços, Jorge

Victor Melo disse...

Jorge, agradeço a consideração e a contribuição em meu blog. A UTOPIATIVA tem me inspirado bastante aqui em Palmas, me refazendo com novas práticas e relações. Gostaria de comentar o seu texto com esse outro que escrevi, chamado "Rio de pessoas".
Abraço

Rio de pessoas

É triste quando o rio seca, o leito não corre, as margens definham. Da fonte ainda brota água, nunca inútil, mas, por vezes, escondida no lençol, tímida, insistente. Continua a molhar em algum canto escuro, mas a terra fica seca, a grama morre, os bichos padecem. Do sol não se esperam os pontos espelhados, ele apenas escalda o oásis que sempre se está no longe. E a fonte fervilha caótica, não encontra a boca da terra pra lhe beijar suave e delicadamente. Não encontra sua vazão que nos é tão importante como o ar, esse mesmo que da água também se alimenta. Talvez esse destino pra fora, não seja, necessariamente, o da água. A ela, que não vive da importância que tem cá fora, talvez não importe por onde corra, por onde brinque.
Mas quando o rio é de pessoas, nós, que somos feitos de palavras e de pele, sempre espero que o veio chegue, mesmo que de vez em quando, à caneta, às mãos ou às bocas, que não fique muito tempo sem alcançar as folhas, as notas, as falas, os sexos pois, pode ser que um dia se perca num caminho desconhecido, inalcançavel, desembocante no centro da terra, na larva, na chama. Aí não haverá quem o chame, não escutará quem o grite, pois as palavras, essas mesmas que hoje o compõem, não serão mais de sua composição. Assim não me chamaria Victor, nem José, José, nem Maria, Maria. Isso falando apenas do menos importante, nossos nomes, os nomes de forma geral. Vivemos da importância deles, mas, importante mesmo é quando as letras se evadem no silêncio, no toque simples, no carinho singelo que também é palavra, intraduzível, entendível contudo; denso e caudaloso como o Tocantins, o Negro, o Nilo que têm rumo certo e perene, ao sol e à lua.
Que nos transbordemos todos, seja pelas palavras faladas, seja pelos toques em silêncio, seja pela cumplicidade gemida. Que a fonte de nossas águas, não se transvie a um canto inacessível, um canto que não reconheça a linguagem do abraço, do sexo e do aperto de mão, da arte. Que o rio de cada um, esse que temos em nossos músculos, em nossos estômagos, traduzível na palavra, no gesto, na música, encontre não somente suas margens, mas também seus afluentes, suas árvores, suas pedras, seus caminhos, expostos ao sol, próximos dos olhares amigos, dos olhares amados, das vozes vizinhas, dos gestos encarnados.
Que fales tu, que fale eu, que sorria ele, que abraceis vós, que cantem eles e que gozemos nós.

Abraço.
Victor

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

VICTOR, COM CARINHO ESTAMOS JUNTOS; LUTANDO POR NOVOS HORIZONTES E UM CAMINHO DE PA Z E AMOR.
qUERIA LHE PEDIR A PERMISSÃO PARA PUBLICAR NO BLOG ESTE TEXTO QUE ALÉM DE LINDO, ME FASCINA NO MEU AMOR PELO TOCANTINS.
ABRAÇOS COM CARINHO, jORGE

Victor Melo disse...

Jorge, publique sim meu texto....será um prazer compor em seu blog. Abraço e até.