No dia-a-dia, idolatramos o ego; e não são poucas as correntes , na terapia, na filosofia e nas práticas sociais, que lidam com a intervenção do cuidado, reforçando o ego. Percebem a dor e a angústia, a fragilidade humana vinculadas a ego enfraquecido. Assim, o hipertrofiam, o tornam robusto e sólido.
As dores e a própria impotência, passividade e vulnerabilidade, nascem da tirania do ego, que inibem e suprimem as potências inovadoras do devir.
O devir - vir-a-ser... Novo modo de ser e estar; a emersão na vida da diferença não-atualizada...
Nietzsche dirá que o devir é o ato de se parir os nossos eus não-nascidos.
O ego é uma cristalização narcísica e edípica da subjetividade forjado nos primeiros anos de vida e que , tiranicamente, passa a governar nosso psiquismo, como um núcleo soberano, único e totalizante.
A vida é mais...
Somos mais...
A essência do mundo e da vida é a mudança, a impermanência, o novo, as singularizações e a multiplicidade que nos permite viver, num permanente processo de se fazer, desfazer-se e refazer-se...
Somos metamorfoseantes...
Nenhuma restrição eterna; nada nos é impossível...
O mundo gerado pela subejtividade, nucleada no ego, é um mundo falido... Um mundo de competição, egoísmo, triangulações e de normatizações evitativas do novo.
Um mundo paranóico e fóbico... Um mundo depressivo... Um mundo de desvalia e impotência...
O processo de construção do ego maduro é um processo de supressão das nossa potências que negados, permanecem vegetativas no inconsciente... E nossa vida fica reduzida as fragilidades de um ego que suprimiu a criança, o louco, o artista, o guerreiro, a mulher, o animal, o vegetal, o mineral, o anjo... Linhas da vida, multiplicidades, que suprimidas nos fragilizam na capacidade de resistir e reinventar o caminho.
O apego ao ego é o apego à vida centrada no nosso umbigo... com a perda do que podemos viver e experimentar, reinventando-nos... como redes, rizoma, de multiplicidades, eus- não-nascidos que sendo paridos amplificam nossa potência de existir e amar.
A neurose - dor universal - é na realidade produto do ego tirânico que se cristaliza e evita o estradear, com a vida remoçando e se reinventando na potências dos encantos e magias do existir onde brotam, disruptivos, novos modos de ser...
O ego nos aprisiona e nos limita... nos restringe e nos desqualifica para as vivências do cotidiano de uma caminhada.
Com ele, amamos, alienados, do manancial de ternura que está evitado e suprimido, num eu não-nascido...
Com ele, vivenciamos a opressão, a dominação, a violência e a exclusão, alienados, do que guerreiro que está suprimido e evitado num eu não-nascido...
Com ele, ficamos sisudos, ranzinzos e cinzentos, pois não manuseamos a capacidade de brincar do devir criança que permanece, igualmente, suprimido e evitado num eu não-nascido...
A vida é fonte de alegria, ponte para o porvir...
A vida é floradas do amor, voos da poesia e do sonho...
A vida é partilha e solidariedade, mãos dadas e companhia, doação e cumplicidade...
A vida é liberdade...
Não somos a incapacidade para a vida, nem os predestinados à angústia e ao fracasso...
Não potencializamos nossa capacidade de viver, experimentar, amar, brilhar, sonhar e voar... por um simples motivo: vivemos aquém do podemos... só vivemos nos limites do ego.
Mas, a alegria e o amor, a vida plena moram nos movimentos intempestivos e inovadores do devir, do ser metamorfoseante, no ser um corpo aberto ao novo e à mudança; no ser alguém que não aborta os seus eus não paridos.
6 comentários:
Jorge
Texto lindo, didático e que nos faz pensar! Quando dizes:
"...como redes, rizoma, de multiplicidades, eus- não-nascidos que sendo paridos amplificam nossa potência de existir e amar."
e
"no ser alguém que não aborta os seus eus não paridos."
É de certa maneira tirar o nariz de dentro do umbigo própria, olhar e enxergar a nossa volta, mas ESPECIALMENTE, 'parir nossos eus' reinventados. E aprendi na caminhada que é essencial que nos permitamos fazer isso, e igualmente aprender a nos perdoar e perdoar tanta coisa que as vezes nem sabíamos ou sabemos que precisam de nosso perdão para nos liberar no porvir!
Êta vida trabalhosa mas tão boa!!!
beijão
Anne
Anne, me encanta sua fecundidade vital - vida-estradeira que percorre os caminhos aprendendoe ganhando asas de borboletear na alegria de ser... o existir floral. Abraços com carinho, jorge
Olá Jorge,
Surpreendente! Ontem e hoje refletia sobre isto...
"O processo de construção do ego maduro é um processo de supressão das nossa potências que negados, permanecem vegetativas no inconsciente... E nossa vida fica reduzida as fragilidades de um ego que suprimiu a criança, o louco, o artista, o guerreiro, a mulher, o animal, o vegetal, o mineral, o anjo... Linhas da vida, multiplicidades, que suprimidas nos fragilizam na capacidade de resistir e reinventar o caminho".
"Mas, a alegria e o amor, a vida plena moram nos movimentos intempestivos e inovadores do devir...no ser um corpo aberto ao novo e à mudança..."
E postei no meu blog http://elanianovosrumos.blogspot.com/p/textos.html
Abs
Jorge,senti seu texto como um pensar sistemico,circular,com neuronios espelhos nos bloqueando ver,observar a simplicidade do essencial.
Acredito na necessidade de atualizar o ego sempre.
Assim,a metamorfose se torna provedora
e traz consigo o devir brilho renascimento.
Meu abraco carinhoso,
Maria Eugenia
Elamia; irei ver o seu blog: espero que a gripe me tire hoje da cama; tenho dificuldades de trabalho no noot... ele fosse das minhas mãos.
Abraços com carinho, jorge
Maria Eugêncio, valiosa e poética definião; o ego que se atualiza redimensiona o sistema: a roda gira e nos rodospios da roda, caminhamos, abraços ternos, jorge
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