domingo, 5 de junho de 2011

POESIA: ASAS DA VELHICE

                                     AMOR CREPUSCULAR
                                                               Jorge Bichuetti

Olhos no infinito, no azul e nas estrelas, ali perdido,
procurando encontrar as migalhas de vida deixadas
no longo caminho de lutas, sonhos e desencontros;
no crepúsculo, as miragens de u'a bela e sofrida jornada...

Cabelos brancos. Rugas no olhar, olhar turvo e vacilante,
cheio de medo e insegurança, entre as folhas secas
do outono existencial e o vento do tempo sibilante;
assim, mi'as mãos procuram outras mãos no afã

de viver a alegria da ternura amadurecida nos
abraços e carinhos de um amor crepuscular;
no infinito, as vozes da vida silenciosa cantam
e solfejam no balé que precede a morte

a esperança de um grande antes do adeus final...


                                      ÚLTIMO DESEJO
                                                         Jorge Bichuetti

Que a morte chegue, carinhosa, na hora,
nem antes nem depois... viverei os segundos
de cada hora... Sem espera, sem despedida;
desfrutando o tempo e as curvas do caminho,
livre das lembranças do passado e livre
de um futuro na ansiedade antecipada...

Tomarei meu café, lerei meus poemas, e 
seguirei suavemente...  entre pássaros,
luares e novas ilusões, semeando
no outonos dos meus últimos dias
as sementes das primaveras que
virão e eternamente notícias de mim,
aos que chegarem, certamente darão...

Assim, eu partirei, ficando... nas flores
que nascerão entre os meus derradeiros sonhos
e a minha última palavra:
- se a vida florir , não duvidem, eu voltarei...


                                       MINHA VELHICE
                                                              Jorge Bichuetti

Esperava a velhice, temeroso e inerte;
a pensava melancólica e vazia e a
vi chegando sorridente e mansa,
plenitude do vivido na ternura tecida...

A velhice chegou despertando-me da letargia
que marcou minha juventude, frenética e vazia;
ela me trouxe u'a lentidão de bailarino
e a suavidade da vida que rompe o tempo
e baila festiva a valsa dos luares encantados
e canta altiva a história na afabilidade da sinfonia
dos dias onde já consegue viver a inteireza
de cada novo e renovado segundo...


                                   ETAPAS
                                         Jorge Bichuetti

menino
       ciranda e vadiagem
rios entre         flores e cascatas
           un passarin

juventude
         rebeldia e sonhos
noites entre     luares e cios
           un andarilho

maturidade
         labuta e stress
insónias entre  cifras e desilusões
            un amo seviciado

velhice
         ternura e suavidade
nuvens entre   chuvas e arco-íris
           un deus acocorado
                  seresta
                      da
               eternidade

2 comentários:

Tânia Marques disse...

Nossa, esses poema centrados na morte mexem muito comigo, pois me conheço e sei que tenho muitas dificuldades em aceitar separações. Todavia, são lindos! Jorge, você anda pensando muito sobre a morte nos últimos dias, já li sobre esse assunto mais vezes na semana passada, creio que num Diário de Bordo e noutro poema. Pensemos na vida e nas suas possibilidades inovadorar, renovadoras e criativas sem essa perda de potência. Pensemos no devir-vida. Beijão!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, a vida é belíssima e perdê-la seria cruel... porém, mais valioso é vivê-la com alegria e intensidade.
Abraços com carinho, jorge