segunda-feira, 25 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: " A ABELHA FAZENDO O MEL VALE O TEMPO QUE NÃO VOOU"...

                                    Jorge Bichuetti

Os sinos badalam uma suave melodia que acorda a vida entre as cores da aurora e a neblina dos sonhos... Chamados somos pra labuta do dia-a-dia , no caminho das lutas que carregamos, e que muitas vezes nos carregam... Antes havia um galo, ele era um companheiro dos acordes matinais da canção dos sinos... Luinha ladra e numa persistente convocação, dá por iniciado o dia... O orvalho salpica de gotas d'águas o verde que reflete suavemente o sol nascente... A vida recomeça seu caminhar...
Não me frustro com o tempo; meu corpo já se acostumou com o ciclo natural... Porém, noto que se luta muito: à noite, tenta-se prolongar o caminho, retardando o sono; pelo manhã, foge-se num clamor de uns minutinhos a mais...
Sempre queremos mais... mais dia no clarão das atividades; mais sonhos no escuro da vida desacordada.
Nadamos contra a maré... E a maré segue seu movimento... não nos dá ouvidos, cumpre sua destinação.
Quase sempre perdemos muito da vida, gastando horas com um não estar...
No trabalho, nos pegamos imaginamos as alegrias do descanso; no descanso, preocupados com as obrigações do trabalho... Junto do nosso amor, falamos do mundo; no mundo, pulsamos carentes dos afagos amorosos... Se na rua, desejamos estar em casa; no calor do lar, imaginamos o frisson da vida lá fora...
Assim, seguimos vivendo pela metade - meio presente, meio ausente...
Somos danados no tergiversar o tempo, não mergulhando com inteireza... 
Com isso o tempo segue; o rio corre... e passamos a maior parte da nossas vidas como meros expectadores do que nos acontece...
Êta, vidinha complicada!...
Ou melhor, quanta complicação arrumamos  por não viver a vida, desejando-a e intensificando-a na sua movimentação, dança natural... ciclo de realização dos processos cósmicos da vida bailarina que floresce e brilha, dando-nos na existência momentos de quietude e de agitação, de silêncio e de palavra, de solidão e de encontros, de produção e de voos no azul dos sonhos estelares...
Ser na estação: partir e chegar, agasalhar e prosear junto ao fogo no inverno e caminhar entre flores na primavera... re-colher as folhas secas no outono e dá-las ao vento e no verão, deixar nosso corpo livre no ar...
Uma vida no nosso jeito de ser se dá, assim: a criança namora o dia que será um jovem; o jovem, o momento que será um adulto... o adulto treme, desejaria recomeçar... E o velho, aí, rodopia nos redemoinhos da saudade.
Não seria belo e grandioso, fértil e encantado, viver o momento, na beleza e grandeza do momento.
Este corre-corre, este foge-foge... é um dando dum profeta: nos revela que temos medo da vida e que passamos a vida adiando o nosso pleno existir...
A vida é bela... Existir é fascinante e provocador... mas, para viver e existir temos que estar... de corpo e alma, inteiros, vivendo cada ato e cada sonho, com a inteireza de quem sabe que no coração do segundo mora e pulsa a eternidade.



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