Maria Luisa Jô
Do absurdo a poesia vem,
se a sua lógica
não lhe corta as asas, espero
a poesia enterrada nos labirintos
dos meus mistérios...
só o absurdo pode expolicar
o que a poesia jamais explica
o que ela não quer encontrar
na música dos ventos
no aroma do jasmin
na graça de uma margarida...
Basta ser,
feres a palavra sem força
e nesta curva fechada
troco o abraço do absurdo
da bruxa poesia
caindo no marasmo da vida.
E, desleixada a noite pendura
sua perplexidade num toco de luz
e, fica adiada a poesia... MAS...
Paulo Cecílio
também eu tive uma índia de mãos ariscas que percorreram as minhas no cerrado
gritamos nas montanhas as ventanias da liberdade voando nos pés alados
promessas feitas descalças com ingredientes mágicos,
com que tecíamos arrepios na pele quente crespa de frio sob a lua que nos iluminava eterna em longos silencios de alegria.
ofegávamos no espelho da relva como potros selvagens: nosso leito era também o lago tinhamos nas unhas o mundo sob os pés descalços
virgens, roçáva-mos os bambus salpicados de pássaros sinfônicos rebeldes afinados
nossa lingua lambia sal no barro branco do desfiladeiro e riamos baixo para não cortar o canto uivante da navalha afiada das cigarras que vibravam correndo contra o tempo.
foi um tempo de magia onde bastava um cacho de luz bastava teu sorriso branco para que todos os tesouros fossem encontrados: moram os tesouros nos sonhos do orvalho, no teu colo despreocupado
teus dedos finos afiados nos meus cachos afagavam frutas que a memória já me confunde o gosto
em nosso cerrado-paraíso tinhamos fruta-conde amoras vermelhas jambos doces da cor da tua pele: as máquinas de metal com suas imensas bocas vieram de madrugada e os arrancaram levando juntos nossos corações.
nem sei mais se é real a sensação que me resta, me roça a pele, a alma, o canto dos sanhaços.
o estreito vale onde jorrava a bica aos borbotões foi coberto por um manto negro que suporta animais de aço sempre apressados em busca de nada.
desconhecem a velocidade do silencio e a quietude da contemplação: foi-se um tempo
quando tento visitar o peixe perdido na memória que se esvai, peço colado ao colo que minha india me recorde com sua voz doce tremida de saudade
me diz ela, pra não chorar, e me lembra dos cristais fabulosos que brotavam das escarpas das harpas dos canários do espelho
dágua que não existe mais.
já nem sei se tudo que ela me diz um dia foi, ou se no seu amor cria navios alados para me ver pegar num sono que não vem
algumas vezes tocado pela ânima em estertor aperto-a contra o peito testemunha que fomos de um tempo esquecido no sorriso fresco do chão batido que não volta mais..
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