quarta-feira, 20 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: VIVER É PERIGOSO

                                       Jorge Bichuetti

Noite de céu claro, luar, estrelas... A luínha dorme, sonha... sonhos de menina. Longe, escuto alguns cães latindo. Penso, preocupado: fome? roubo?preocupação com seus?... Os bichos amam e se mostram leais e fiéis...  A vida segue tranquila. Poesias, o trabalho de cuidado dos portadores de sofrimento mental; canções, amigos; flores; passarinhos... E o luar, encantado e encantador...
Dizia Rosa: viver é perigoso...
Cada época guarda seus perigos específicos...
Penso no silêncio, desta madrugada, nos perigos do nosso tempo...
Guerras, crise económica generalizada, direitos violados, Belo Monte e o Xingu, Código Florestal... A solidão do povo da rua, dos povos indígenas, dos quilombolas, da grupo GLBT, dos que vivem na desvalia... dos velhos e crianças, dos jovens... N perigos rondam o nosso mundo.
Há um, porém, que me alucina... Ele me aterroriza: o perigo da indiferença, da insensibilidade, da apatia, do fatalismo, do niilismo, do imobilismo, da acomodação...
Na TV, nos jornais, nas conversas dos bares... nos diálogos com vizinhos e amigos: há no ar uma força invisível que naturaliza a dor e que nos restringe a uma vida de preocupação absoluta e monolítica com o pessoal, com o que é nosso...
A vida surfa colorida e alegre nas telas da TV...
Escutamos todo dia: que cada um cuide de si...
Capilarizado, no cotidiano, o socius nos acorrenta, não mais com o fuzil, nos paralisa, induzindo-nos a viver isolado do outro, inquieto tão-somente com nossos dores, feridas e cicatrizes...
Recordo, no meio da noite, a voz indignada de Juvenal Arduini: " O sangue da humanidade é sangue nosso."
O outro é meu irmão e parceiro de caminhada...
E a Terra - a nossa Mãe Gaia - é a nossa casa...
Tudo que lhes ocorrem, refletem, imediatamente, nas nossas vidas.
Ainda que não; não suporto o egoísmo de pensar, sentir e agir... como se fosse o centro do universo.
O outro - na sua dor, na sua ferida que sangra, na sua cicatriz que rumina - ele é vida que compõe  a teia do nosso existir.
Ele é como nós: anseios, medos, sonhos, desejos, limites, frustrações... è o humano... o humano na sua travessia.
O individualismo é o grande perigo, a esperta armadilha... Nele, nos desumanizamos e nos isolamos, capturados pelo narcisismo que reaparece racionalizado no neoliberalismo que avilta o ser humano.
A beleza da vida é a comunhão... Somos belos e grandiosos na compaixão, na generosidade, na misericórdia, na solidariedade...
Recordemos o poeta e sejamos belos - belos porque amamos - e o amor é o que nos faz mais belo do que bela é a estrela da manhã...

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