Jorge Bichuetti
No dia-a-dia do meu caminho, o trabalho de cuidar me leva a ver, sentir e pensar o grande vazio que nubla os dias de hoje... Vivemos na contemporaneidade um vazio; a vida serpenteia pelo tempo e a vivemos, arrastados pelo vento, sem dar rumo, sem vislumbrar um horizonte, sem se alimentar com o idealismo de um sonho... Vivemos: acordamos, alimentamo-nos, trabalhamos, vemos TV, passamos as horas ou melhor, as horas passam por nós... e nem perguntamos o sentido da nossa existência.
Na vida, produzimos sentido, sentidos... e, assim, tecemos rede de convivência e rizomas que nos subjetivam e nos sustentam no caminho da própria vida.
Muitos vivem atolados no narcisismo; no racionalismo pragmático; outros num ideal metafísico...
Outros, se vêem engolidos pelo ideário de vida que emerge da onipotência cultivada...
Se viver inclui dar sentido; não podemos negar que somos marcados pelo sentido que damos ao nosso existir...
Nada é absoluto... Buscar sentido no passado é incinerar o presente nas masmorras piramidais da mumificação; posição diversa é dos que na memória e nas tradições heróicas dos ancestrais encontram pertência, e se coletivizam, passando a produzir sentido na dinâmica da vida coletiva.
Outros idealizam um paraíso futuro e deles se tornam escravos, vivendo um adiamento permanente da própria existência; diverso dos que numa utopia ativa encontram sentido na luta por mudanças e pelo novo, pela construção de um novo socius e de um novo modo de existir...
A ética que nasce do encontro com o outro é uma fonte inesgotável de sentidos...
O bem comum, o cuidado, a amizade, a solidariedade, a cidadania, a ecologia, a mãe Gaia, os bons encontros e as paixões alegres, a compaixão, a ternura, a liberdade e a libertação são linhas e fluxos da vida que energizam, vitalizam e dão sentidos... Sentidos que provocam saltos, surtos - efervescência vital.
Dão criticidade, escuta e diálogo, ação transformadora...
Tira o ser humano da apatia cristalizada e o coloca em movimento...
A vida se move... e se a vida caminho, o próprio caminho ganha o estatuto de sentido...
A lágrima e o riso do outro; o limite e a potência, se sentidos visceralmente mobilizam na vida a produção de sentidos reluzentes...
Cabe lembrar que produzimos sentidos de modo ativo ou reativo...
Se vivemos, somente, reatvos, passamos a vida, respondendo as provocações do alheio; nunca inventando o novo... nunca nos acercando do devir.
Se ativo, sonhamos... inventamos... produzimos... assim, conectamos produção e desejo e geramos sentidos que nos mobilizam por inteiro.
O tempo passa... O rio da vida corre...
Precisamos dizer a que viemos...
Precisão que exige audácia, coragem, valentia... Tomar as rédeas da vida e guiá-la com as próprias mãos.
Mas, ou ousamos, ou então, nos veremos medíocres marionetes na mão do destino tramado pelos que desejam a perpetuação da exploração, da opressão, da mistificação... e da destrutividade...
Eis... que vendo, assim, reconhecemos nesta reflexão o clamor da vida para que cartografemos a geografia do nosso amar e do nosso se dar...
Tão-somente, dando-se à vida, dela nos apropriamos para vivê-la na intensidade de quem no horizonte azul consegue plasmar a poética dos sonhos... a alma do nosso coração.
4 comentários:
Jorge, e seguimos por vezes sem razão, somente com a emoção do viver...do existir...!
Beijos...com carinho...Mila.
Mila: o existir nos leva a pulsar... e a voar; pois, ele é instigante... Abs ternos, jorge
Olá Jorge,
A contemporaneidade traz um novo sintoma: o medo. O existir nos remete para dentro, para buscarmos o equibrio de nós mesmos. Adorei o texto, mais uma vez oportuno para mim.
Abraços
Elania
Elania: teu carinho e ternura equilibram os sonhos da vida. Abs, jorge
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