domingo, 24 de julho de 2011

POESIA: VOZES DO TEMPO

                                     AGORA
                                                Jorge Bichuetti

Chove, lá fora a vida inundada, parou...
Nós, aqui estamos, ladado a lado, e
silenciosos, nem pensamos que o tempo
é agora:
agora, é o segundo do carinho esquecido;
o instante mágico da ternura adiada;
o momento do beijo, do beijo que consiga
reunir num só afago o calor de todos os beijos -
do quase esquecido primeiro, ali na na praça,
dos outros que se perderam de tão rápidos,
daquela que não ousamos e se aquietou no quartinho
das muitas coisas que nem vivemos, mas desejamos...

Chove, o tempo é agora...
Amanhã, talvez, faça sol
e a labuta retirará de nossos mãos
o relogio da vida;
amanhã, talvez, os sinos toquem
e ai será tarde: 
um quieto de olhos fechados entre velas e orações;
o outro, num canto... chovendo na alma,
perdido no meio das lembranças,
na dor da partida sem o último abraço...



                                                    NAQUELE TEMPO
                                                                Jorge Bichuetti

Não vi a velhice chegar...
Pintei os cabelos, estinguei as rugas...
E me ocupei dos afazeres que de mim mesmo me distraia...
No armário, o volume das pastilhas , xaropes e comprimidos
roubaram o lugar vistoso das roupas novas...
A memória já não era precisa, mas a vida era anotada 
no verso da papel da padaria...
Não vi a velhice chegar...

Só a encontrei quando no prosear, me peguei
repetindo a cada lembrança a mesma e lâconica expressão:
naquele tempo... naquele tempo!...

O tempo corre e busca o infinito;
o relógio conta horas, minutos e segundos...
mas, não nos chocoalha e nos desperta; ele nunca me disse:
olhe, o tempo está a passar...


                                 AMANHÃ
                                             Jorge Bichuetti

A vida é um já...
Na espiral das horas,
ninguém pode se dar ao luxo
de viver para esperar...

Há sempre um amanhã...

Algo valioso, algo querido -
ali é depositado... amanhã:
colherei flores e enfeitarei minha casa;
abraçarei os amigos e cantaremos as velhas canções;
andarei pela tarde encantado pelo entardecer;
dançarei a velha valsa que me fazia sentir entre nuvens e estrelas;
lerei o velho livro, amarelado, mas cheio de primavera;
faltarei ao trabalho e juntos passaremos o dia...
desnudando o mistério da eternidade...
Amanhã: lhe direi os versos onde florescem 
os encantos do amor;
amanhã...

Louco, espero o amanhã...
Nem percebo que entre o já e ele,
pode a qualquer momento chegar
o inominável: a morte...

Quanta vida fica suspensa
nas promessas do tempo;
mas, o tempo passa e não é de conversar...

6 comentários:

Anônimo disse...

Chove em meu coração... Tantas atrocidades no planeta... será que vamos suportar?
Beijos com muita saudade e dor...

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

vamos criar o amor e a paz, na luta... mirando o horizonte azul. Abs. jorge

Ani disse...

Cada palavra,cada frase nos leva a refletir...
Você tem uma essencia ... que muitos perdem na estrada da vida.
Sua aura brilha.
Quero ser sua amiga.
Você me faz bem.

Ani.

Claudia Sousa disse...

Só lembrei de Capinam e Edu Lobo:
"Mas o tempo é como um rio
Que caminha para o mar
Passa, como passa o passarinho
Passa o vento e o desespero
Passa, como passa a agonia
Passa a noite, passa o dia
Mesmo o dia derradeiro
Ah, todo o tempo há de passar
Como passa a mão e o rio
Que lavaram teu cabelo

Meu amor não tenhas medo
Me dê a mão e o coração, me dê
Quem vive, luta partindo
Para um tempo de alegria
Que a dor de nosso tempo é o caminho
Para a manhã que em seus olhos se anuncia
Apesar de tanta sombra, apesar de tanto medo"

Gosto demais dessa poesia.
Pérola de rio, pétala de música!!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Ani: sua amizade enmgrandece e honra minha vida... sinta-se minha amiga, e sigamos no caminho com a paz dos bons sonhos, jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Claudia: sabedoria do rio... ternura na melodia da vida que passa e se nos chama para navegar. Abraços ternos, jorge