Madrugada. Luar, cheiro de terra orvalhada... O limoeiro, cheio de vaidade, lança num suave perfume um convite para um breve diálogo. O vejo: cheio de frutos... Lhe reverencio, e juntos celebramos a nossa Mãe Gaia; Pachamama. A Luínha e seus dengos: oh! como o amor versa modos de se expressar na caça de um chamego... Eu a adoro. Não sei se ela consegue entender os valores quantitativos deste nosso mundo matemático... Não, não sei; mas a amo muito.
No por-do-sol, roda na fogueira...
Ouvi da noite, da nossa Avó Lua, estas palavras... Queria entendê-las... Tomarei um cafezinho quente ; depois, andarei pelas palavras , buscando desnudar as lições que ouvi do luar...
O sol caminha e no seu clarão, labutamos... Semeamos, cuidamos, aprendemos, construimos, tecemos... fazemos nosso labor diário. Suor por pão; cultivo do celeiro...
O trabalho alienado desgasta e mortifica corpos e vidas... O trabalho deveria ser o apogeu: nós co-criadores; inventores... No poetar de Cora Coralina: o acender, eu mesma, o fogão-de-lenha da minha casa, no dia que começa...
Mas, não é assim... Nosso trabalho é fragmentado, repetitivo, robotizado e cinzento... e não somos proprietários nem do ato criativo nem da obra engendrada.
No trabalho, nos exaurimos...
Um dia, será diferente: na associação dos livres produtores...
Todavia, mesmo nela, o trabalho é ato de exteriorização; de projeção; de expansão... é Apolo.
No entardecer, a vida gira... A penumbra, o céu colorido com tonalidades sutis e fumegantes num misto que encanta e nos põe a pensar... Gera introspecção, mergulho no interno...
E entendendo com Deleuze-Guattari que interno e externo não equivalem a um dentro e um fora; pode-se ver no entardecer o clamor da vida por um novo momento no existir.
Visitando a história, a mineiridade diria que é hora de enrolar o cigarro, tocar a viola e prosear...
Já os poetas se atreveriam a dar este tempo para o perambular; vagabundear; borboletear... Tempo da amizade e das paixões...
Os místicos, nele, vêem um momento de oração, de meditação, de serenidade... de busca interior...
Os povos indígenas e os celtas... tenderiam a coincidir e dizer: a hora é de celebração - roda mágica da ternura e da solidariedade grupal que na alegria, ora e se encontra, celebrando a vida. Um Dionísio que alegra-se e alegra para louvar e esperar a aurora...
Roda na fogueira é celebração - poesia - paixão - alegria - contemplação - oração... Canto e dança; prosa... Um devir grupalidade no sob as bênçãos do luar e o cálido acolhimento do fogo.
Um desafogar-se dos miasmas do desgaste para poder penetrar no carisma dos sonhos...
Creio... que entendi o que diz o luar...
O ouvi com a ausculta milenar... de diversos grupos e coletivos.
Roda - convite à superação do individualismo, do cinzento e da do rabugento... Hora de alegria e ternura, trocas solidárias e vida comum... Celebração e meditação... Música e dança... um prosear, um borboletear...
Roda na fogueira é escola da paz...
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