quinta-feira, 28 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: DIÁLOGOS DO LUAR

                                       Jorge Bichuetti

Madrugada... A Luinha quis ficar... Eu aqui no quintal entre tanta vida que chego a desconfiar que desconhecemos o mundo... Flores, folhas, árvores, pássaros, estrelas, luar... E o mágico sol que chegará irradiante, alegre e compassivo... Os álamos me espiam do alto... Me reverencio e lhes pergunto sobre o mundo... Sorriem, bailando levemente com a brisa matinal...
Ontem, uma criança, curiosa e esperta, quis saber se, de fato, eu conversava com a Lua... Tentei fugir; lhe disse que a Luinha era muita esperta... Ele não permitindo minha evasiva, contestou: não, digo com a Lua, a Lua que brilha no céu...
As crianças merecem honestidade...
Lhe contei: que num tempo onde a solidão me inibia e eu não tinha facilidade de partilhar minhas dores e meus sonhos, criei o hábito de dialogar com a Lua...
Conversamos mais... muito mais. Confidências, histórias que só cabem no prosear da mineiridade.
Se escrevesse estas anotações há dois anos, tentaria racionalizar: a lua  - um objeto transacional que me permitia dialogar comigo mesmo...
Ando louco: dialogo com a Lua , conversando com a vida. No entre, para além da autoria das palavras e dos silêncios...
Um dia, ela me disse que era muito feliz... cirandava na noite, alumiava a escuridão, e cuidava dos que pela vida vão no anonimato da desvalia... nos becos das lágrimas; nas esquinas das paixões...
Lhe disse, carinhoso: Vovó Lua, a Senhora é a vela da imensidão que clareia os sonhos e cuida dos esquecidos...
Ela me olhou, carinhosa e acrescentou no diálogo: eu e as suas nobres e valorosas tias, faço minha graça num concerto harmonioso com o trabalho das estrelas que bailam na imensidão, espalhando fios de esperança...
Me confessou que sabia das minhas lágrimas; e que suspirava com meus sonhos...
Sonhos de menino - lhe falei, tímido e envergonhado...
Ela recusou minha argumentação... sonhos dos anjos guerreiros que um dia na quietude silenciosa da aurora você ouviu no prosear do vento.
Respeitoso, quis saber mais...
Lhe perguntei sobre o futuro... E ela com jeito de vó carinhosa, apenas, sussurrou: está pergunta é minha... e a faço diariamente... pergunto aos poetas, aos boêmios. aos filhos da solidão... pergunto aos que despertam no estalar das lágrimas... Pergunto: Meus netos, o que vocês farão com a Terra; a Mãe Gaia conserva o futuro nas entrelinhas das ações da humanidade... A pergunta rodopiou no ar; e a temi... Depois, não... Lembrei das prosas do vento e disse: vamos juntos salvá-la da grande destruição...
Senti que a Lua, discretamente, disfarçava uma lágrima...
Lhe pedi que me abençoasse e aqui estou... com palavras e silêncios no foguear dos sonhos entre lágrimas que correm, ora de desalento, ora de esperança... Mas, não tenho dúvida, não decepcionarei a Grande e Venerável Vovó Lua: lutarei...
Daqui alguns anos, quero no Xingu... olhar o céu, e no encanto do luar, cantar louvores a dignidade da minha gente, do meu povo que não negociará os tesouros da imensidão... por migalhas de prata que queimam a nossa mão e ressecam o nosso coração...
Pela Senhora Vovó Lua, pela humanidade; grito entre lágrimas: Belo Monte não!!! Xingu vivo Sempre!!! 
Como sempre estarei ajoelhado diante da poesia do luar...

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