terça-feira, 10 de janeiro de 2012

EPÍSTOLA DO COLETIVO UTOPIA ATIVA AO COMPANHEIRO JOÃO...

Amigo e irmão,
lhe abraço com a ternura azul das manhãs floridas; e se lhe escrevo, o faço para registrar o que andam nos caminhos enluarados dos sonhos e nas campinas verdejantes do nossos corações... Estamos tão perto... Poderia lhe falar; mas, a magia das palavras doiram os trigais do carinho que brotou, cresceu e pendoou...
Os pássaros já cantam alegres e voam com altivez e ousadia: prescindiram no vento a poesia da amizade como caminho e vida, clarão na escuridão e força guerreira na luta...
No CAPS-Maria Boneca, todos sorriem em sintonia com os girassóis que romperam a chuva e se abriram, como se lhe quisessem dizer: floresceremos juntos, apagando as cinzas do tempo...
A Universidade Popular Juvenal Arduini, lhe beija o coração... Nossa gente anda passarinheira, enlouquecidos pela utopia da vida que perambula semeando estrelas e flores, numa primavera que clama por um novo tempo de ternura e amor, compaixão e solidariedade... No entre, da"relva que medra entre as pedras do caminho... E no Entre, da nossa juventude que carregando o cio do caos e do frenesi, bailam grávida de estrelas bailarinas...
Do Xingu, em luta, temos guaraná puro... e a esperança que que Belo Monte será embargada; num ponto final de alegria para nossas matas e o nosso povo indígena... Matas, rios e riachos, aliados aos valorosos guerreiros lutam para que se vete no Código Florestal a vileza da ganância do agronegócio que não pensa, não sente, nem ama a vida que clama por permanecer vida florescente... longe, da destruição final.
O povo negro, com a mesma valentia e doçura, que resistem na luta dos quilombolas... me pedem que lhe entregue algumas cocadas...
O povo da rua lhe aperta as mãos, pedindo-lhe desculpas por as trazerem sujas e sangrantes...
Sim, somos o eco e o sonho da imensidão...
A comunidade GLBT... espera poder abraçá-lo e lhe dizer de como dói viver sem a provação do PL 122/06, que criminaliza a homofobia... São incontáveis as os hematomas, o pânico e as mortes ceifados no no espinheiral do preconceito, da exclusão e da marginalidade...
Mãe Ana, lhe envia o seu axé... O Coração de Maria, as bênçãos da fé na caminhada de luta e partilha...
A esquizoanálise pulsa numa encruzilhada: ativa e inventiva... anda enamorada dos que não perderam o sonho na história...
Há canções, poesias... rodas e cirandas... Uma compreensão de que Direitos Humanos é uma florescência da ética da amizade; tanto quando a ética da amizade é um perfume imanente à pratica e vivência da luta e do exercício dos direitos humanos e da cidadania ampliada...
Escritos nas estrelas lhe dizem do carinho de Che, Rosa, Montoneros e Erpistas, Tupamaros e Guaranis...
Bruxos pós-modernos, me rogaram, que lhe informasse que ouvindo as pulsações da terra orvalhada, receberam um recado de Pachamama, que dizia: fertilidade é um acasalamento entre o sonho e o caminho, entre a decisão íntima de cada singularidade e a ação do infinito que se expressa na beleza do horizonte azul...
Aqui, o cerrado vibra a melodia amorosa de u'a nova suavidade...
Começamos a tentar descobri-la e incorporrá-la nos nossos corpos cansados na velhice; mas, rejuvenescidos na esperança que é fé na vida e na potência do devir que mora nas entranhas adocicadas da humanidade...
Sigamos unidos no carinho... Afinal, "somos todos desertos, povoados de tribos, floras e faunas."...
Já não posso escrever... O caminho é curto... Mas, o sabiá laranjeira que transportará está singela carta, já está cantarolando na alegria de cumprir no caminho da libertação o seu destino de mensageiro...
Meu terno abraço...
Companheiro Jorge Bichuetti


3 comentários:

Anônimo disse...

Companheiro Jorge, agradeço a sua amável carta, sabendo que a "mereço" porque um companheiro de lutas não nega ao outro seus melhores favores. Se bem que se fosse outra pessoa já teria moderado meus comentários, penso. Sou ciente das minhas limitações. Mas eu sei que você tem um coração pulsante. Sou igualmente seu companheiro, dizendo desde já que não quero nada em troca. Sei também que a necessidade nos obriga às vezes a um caminhar quase sempre silencioso não esquecendo, porém, os companheiros que nos ombreiam. Sempre estou de olho neles, sei que não posso oferecer muito, mas meu corpo é um escudo para minha alma e para os que estão no meu coração. Por isso, o anonimato em minhas observações, meu coração é para quem eu respeito. Sei claramente que minhas palavras são polêmicas e tenho o intuito de dizer isto, numa sociedade que carece de entendimento e cultura. Estamos num espaço cultural, generosamente criado pelo seu esforço. As pessoas tem de ver que do outro lado tem o outro. Elas vivem na acomodação, como se vivessem em ambiente homogêneo. Não vivem. Em todos os sentidos. A natureza nos dá a vida e apenas nos pede que a nutramos. Então, com a responsabilidade que me foi dada, prossigo na luta, já ensinando os passos àqueles que vem após mim. Desde que me conheço por gente, minhas mãos são sujas e sangrantes, impossível viver sem a valentia e a doçura. Assim, somos todos um só, o povo negro e as gentes das ruas. Brasileiro comum, não nasci em berço de ouro, lutei para aprender alguma coisa, curioso pertinaz pelo conhecimento e nascido rebelde e guerreiro, me enojo da injustiça e das panelinhas mafiosas que os latino brasileiros tem que fazer para ficarem ricos, seguindo sua propensão cultural. Um lado bom da simplicidade: estamos do lado certo da vida. No passado, quando a gente via um homem pobre (se não fosse pela bebida), a gente tinha respeito porque a gente sabia que ele era forte e nós tínhamos plena ciência que ele sofria a punhalada da injustiça social. Hoje a pobreza é sinal de vagabundagem (ou um possível assaltante). Mesmo com a falta de empregos. Aprendi honestidade, amor pelos livros, respeito pelos que estão do meu lado. Agradeço a cocada e o guaraná. Por favor, diga ao povo das matas que a indústria e a lavoura por lá chegarão em breves tempos, penso eu. A humanidade precisa de alimentos, mas estou na luta para que algum (des)governo crie duas ou três reservas naturais de preservação permanente do tamanho de São Paulo, naquela imensidão amazônica. E que obrigue os habitantes a respeitarem a água. Caro Jorge, estou com todos aqueles que lutam pelo direito de viver em paz e em liberdade num mundo em que ninguém se arvore arbitrariamente e pela força como donos da verdade. A maioria tem a força, mas a minoria mantém-se preservada se no caminho da ética e do respeito. E esperemos a lei que punirá os ultra-radicais da sociedade. Sei muito bem que existe violência. Amigos não faltarão a uma pessoa de natureza afável como você. Conte conosco. É verdade, seu jardim está cada vez mais belo. Agradeço a oportunidade de participar do seu espaço. Por favor, deixe-me saber se causo inconveniência, pois às vezes isso acontece comigo. Estou acostumado. Sou apenas um louco funcional. E você sabe que os loucos são os mais pacíficos homens da terra. Abraços do João.

Anônimo disse...

Me desculpe se meus comentários tem um quê dessa natureza paulofreiriana. Realmente não estou em uma cátedra. Abraços, João.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

João, companheiro e caminho na vida, que as lutas nos ergam nos voos da compreensão de que a mudança é saltos no infinito, na esteira galopante do devir. abraços ternos, jorge