Madrugada de verão. Os passarinhos ainda dormem... A brisa orvalhada salpica os álamos e, eles, refletindo as últimas estrelas bailam entre a partida da noite e a chegada do dia... Sem sinos, sem cantigas... eu recomeço o novo dia no ziguezague de Luinha que segue meus passos, embora, não saiba, ao certo, aonde vou... Minha pequena saltitante...entre abraços e carinhos, brinca no silêncio da madrugada... Ela só deseja ser minha companhia.
O horizonte escuro, nublado, está cheio de cinzas...
Meu coração é caminhos e sonhos... risos e lágrimas; voos de ternura e trôpegos passos de indignação e rebeldia...
Eu queria poder decretar que a vida fosse, tão-somente, a aventura dos caminhos floridos e a a profecia solidária dos sonhos azuis...
Quando criança, inocência angelical, via a vida, assim...
Hoje, não... Há pedras, há espinhos...
Vejo imagens dantescas invadirem minha cinemateca mental...
Em São Paulo, a lei da força bruta, herança dos nossos piores anos de ditadura militar, forja uma guerra vil: a polícia versus o crime organizado... Ambos, funcionando às cegas... Guerra de Extermínio... Mortes e mais mortes... Violência diária; medo permanente... Ninguém cobra pelas vidas perdidas... O governo paulista não é responsabilizado... Tudo é tido como fruto da audácia dos bandidos... mesmo sabendo-se da teimosia da crença no belicismo... que inibe a aceitação da ajuda federal, disponibilizada há meses e dias... Ali, o crime agindo em rede vem derrotando a força bruta da repressão cega... poderio ostensivo, porém, inócuo...
Índios, aqui e acolá, agonizam pela vida subtraída na terra roubada...
A crise da Grécia, Espanha e Portugal... é abismo alheio... Foto no jornal; imagens na TV... Todos silenciam; omitem-se... como se as lições da história não nos revelassem que nenhuma crise é pessoal ou local... Apático, o mundo vê as ondas de lágrimas dos povos-irmãos... mas, reticente, espera no egoísmo a hora que ela a crise for de todos num tsunami mundial...
Assim, tratamos os povos árabes... assim, aviltamos nossas árvores acomodados diante das violáveis infringidas no nosso Código Florestal...
Na madrugada passarinheira, me pergunto: quantos Veta, Dilma! serão necessários para que finalmente um dia acorde a nossa consciência de povo, a nossa consciência de povo brasileiro, povo verdejante nas matas e de alma estrelada pelos altivez dos sonhos?...
Caminhos e sonhos... Dizia Monsenhor Juvenal Arduini: o horizonte nos seduz e damos novos passos...
E é ensurdecedor o grito da vida:O horizonte é a voz viva da própria solidariedade...
Se não o escutarmos, veremos nosos caminhos e sonhos naufragados no poço sem fundo da solidão de uma humanidade que reificada pelo império dos egos, destruiu o barco que se tece quando caminhos e sonhos nos levam a superar a conjugação do eu e tu, para encantar-se com potência da vida de alegria e paz nascida da conjugação amorosa do nós...
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