quinta-feira, 8 de novembro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: PEDRINHAS MIÚDAS...

                                  Jorge Bichuetti

Um novo dia... Vida caseira; café quente... No quintal, os passarinhos vistoriam as rosas que prodigamente enchem de cor, poesia e encanto a quietude desta manhã de sol pouco e muitas nuvens...
Luinha segue meus passos... vendo-a, assim, ternamente mando-me, queria poder desenhar com palavras um horizonte azul com seus sonhos passarinheiros...
Não consigo... As palavras não germinam com a graciosidade das flores... Brotam nos passos e compassos do caminho... entre passos, riscos e rabiscos... Falta-me dom e inspiração para lograr a pintura com palavras de um texto-caminho...
Falo, então, na minha mineiridade, proseando com a vida que carrego no afã de ser entre o suor da labuta e a frescura do vento que emana da poesia... A poesia é arte-menina... Uma ciranda de palavras; orvalho do infinito... pedrinhas miúdas no riacho e cachoeira onde caminha e ricocheteia o próprio tempo...
Nestes dias de globalização neoliberal, de consumismo exacerbado e de existências sob o signo do espetáculo, sinto-me oprimido pela banalidade das grandes epopeias e seduzido pela beleza microscópicas das pedras miudinhas que tecem caminhos no território dos sonhos...
Assim, o canto dos passarinhos é sinfonia singela da esperança remoçada no alvorecer de um novo dia...
A beleza dos cachos de rosas brancas que se multiplicam, solidários, dando-se a todos, inclusive para os pássaros vadios, é lição da solidariedade sem fronteiras, da inclusão sem preconceitos, do amor ilimitado...
Na travessia para o trabalho vi... os bichos anônimos da rua... Nômades e pobres; porém, singulares e livres... Vi, pensando que só enxergamos derrota no povo da rua porque cegos, não sabemos ver os encantos da liberdade...
Entre os que povoam o universo das pedras miudinhas... descobri vínculos entre borboletas e cigarras com os nossos jovens maltrapilhos; contudo, vidas de busca das alegrias esquecidas, das miragens utópicas... do humano além do humano... estrelas cadentes ou caídas no chão... no chão que as sufocam com as cinzas da podridão da vidas vitoriosas... Eis que vi no povo da rua a liberdade azul que na imensidão é poeira estelar...
Caos criativo... O lugar do impensável... do novo germinativo que só ganha sonoridade no êxtase miraculoso das orações viscerais...
Pardais, andorinhas... a relva verdejante... os fios d'águas inomináveis... e estas muitas pedrinhas que calçam os caminhos ermos... brilham e falam silenciosos que o grandioso é pequeno, perto da força e da vida que moram na simplicidade...


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