quinta-feira, 15 de novembro de 2012

POLÍTICA E ARTE: O OUTRO MUNDO POSSÍVEL E NECESSÁRIO...

                                             Jorge Bichuetti

Ante as tramas da vida, podemos recuar e acomodar nosso coração no ventre árido do conformismo, da alienação e da apatia existencial. As crises que vivo e as que me afetam, nas encruzilhadas que percebo colocadas para o mundo, me fazem reafirmar minha Utopia Ativa: eu creio no socialismo libertário, associação de livres produtores, um socius autogestivo, de relações transversais, vida de inclusão e cidadania, liberdade e justiça social... Creio na ética da amizade; na potência dos bons encontros e da alegria; na sustentabilidade ecológica e nos direitos humanos... Creio... na superação de todo fascismo e de todos microfascismos... No fim das instituições totais... Na sociabilidade solidária e terna, nova suavidade...
Eu creio no amor... Não creio na intolerância e nos preconceitos... Não creio na estigmatição marginalizante das minorias... Não creio na força bruta... nem no egoísmo e no orgulho... Vejo a ternura governando a vida no horizonte azul e nas noites enluaradas; nas flores e frutos da estrada...
Na dor do crack miro a vida e vejo pássaros... muitos de asas quebradas pelo vendavais da exclusão... Creio no cuidado... que acolhe nas potências insurgentes e rebeldes do amor... Os que querem engaiolarem a cidadania tresloucada e nômade do povo da rua e dos usuários de crack reeditam a violência da repressão quando a vida é questionada na sua realidade cinzenta e engravatada... Não se cuida sem alegria e arte, compaixão e rebeldia criativa...
O alarme já se acendeu: em nome da vida, andam decretando a morte física ou a morte civil da diferença, das singularidades nômades que não se enquadram na nossa perversa lógica de exploração e triunfo midíatico...
Urge descrimanalizar as drogas ilícitas e montar uma rede de cuidado baseada na cidadania, na vida de alegria e partilha e na arte-guerrilheira que sepulta as cinzas do cotidiano ao martelar a existência acordando
as forças inovadoras do alvorecer, do por-vir já dado no desejo e sonho dos que negam o status quo...
A arte é política militante... não por reduzir-se aos panfletos partidários... mas, por ser agenciamento que singulariza, subjetiva novos modos de viver e andar a vida...
O mundo está na rua... Na rua, lutando...
Não sejamos a covardia ressuscitada de Pilatos...
"O sangue da humanidade é sangue nosso" - escreveu Juvenal Arduini...
É sangue nosso o sangue doído dos povos guaranis-caiovás; é sangue nosso o sangue, hoje sob a navalha das forças repressivas, dos povos da rua, dos meninos do crack, das minorias violadas nos territórios dos becos escuros das nossas cidades...
O amor não é virtude abstrata; é vínculo e relação concreta de cumplicidade, ternura e partilha solidária...
Há cruzes no caminho; há povos crucificados... cidadania violada; assassinatos e mortificações arbitrárias...
Se cuidar é amar e incluir; acolhendo com carinho, ternura e solidariedade... Temos que gritar e dizer o nosso não à barbárie que nega, violenta e mata a vida e os sonhos dos que solitários sofrem as chibatas da exclusão...
Pelos povos indígenas... pelo povo da rua... pelos usuários de crack... pelos oprimidos e explorados... pelas minorias, inventemos a poética da resistência e canto de luta... que desperte na vida nosso afirmação de que não negociaremos as asas da liberdade...

Entre pedras, flores...
A vida voa nas asas da liberdade...


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