quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

LINHA DE FUGA, PRODUÇÃO DESEJANTE E DEVIR

                                       Jorge Bichuetti

Corpo nu. Vento na pele, arrepios. Maresia. No horizonte, uma poesia bela escrita pela própria vida nos confins do infinito.
Ondas bailam na areia, um barco branco cruza a linha do horizonte...
Água de coco, uma caminhada com a nossa alma serpenteando os territórios dos sonhos.
A música dos coqueirais, o sol penetrante. Luz e cores. Liberdade e magia.
Na praia, o encontro com o mar rompe o burburinho da vida medíocre.
Um espaço que corta e retalha a tirania do cérebro; um canto desacorrentado onde a pele e o coração emergem, eloquentes, como nossos interlocutores de um tempo atemporal e de uma singela vida de natureza passional e de paixões naturais.
A praia, no singelo, despertar de um corpo mortificado pela vida de asfalto e assalto, de cartão-de-ponto e asfixia pelo terno suado e pela forca da gravata, pela matemática e pelo boom da bolsa é uma linha de fuga.
Um campo florido, um riacho. Um banho de cachoeira. Nas bênçãos de Xangô e Oxum.
Amigos, risos e cantigas. Uma viola ecoa, um riso percuciona, calando os estribilhos rabugentos da nossa vida  cinzenta pelas frustrações e desilusões, deste mundo de vendedores e vencedores.
Um mergulho, água caindo nos ombros que já não sustentam o mundo nem ousam carregar a idiotice frenética de uma vida aprisionada nos quartéis da opressão institucionalizada.
Cheiro-de-mato. Brisa suave  e terna. Corpos plenos na aventura de experimentar a alvura da liberdade.
A cachoeira e sua selvagem alegria, a nossa vida liberta do concreto e imersa na poesia verde de um riacho é uma linha de fuga.
Um bar e os amigos... O rosto pintado na ousadia da luta...
Um ato de generosidade la luta contra a fome e a miséria...
Um amor apaixonado, uma amizade...
Diretas já... Anistia... A parada gay...A luta pela paz, pela preservação da natureza, pela fim do machismo e em defesa das mulheres...
Um núcleo de economia solidária, uma rádio pirata...
Um poema escrito na epiderme de um sonho.
Um roda-de-samba, um bloco de carnaval...
Uma rede-de-balanço, uma pipa no ar...
São linhas de vida, linas de fuga.
A linha de fuga é a produção desejante que se consuma , driblando os registros e controles que nos impedem de acessar nossos desejos, sonhos e invenções, para vivermos nos limites do instituído pela lógica capitalista , edípica e normôtica que tendem a nos capturar , seduzindo ou nos violentando, para que vivamos somente o previsível, o permitido e o esperado.
Nosso inconsciente é pura produção e produção do novo. Contudo, o novo é inadequado , neste mundo de vendedores e vencedores.
O sistema nos vigia e nos condiciona, impondo-nos demandas que não traduzem nossos desejos nem dialogam com o nosso projeto de felicidade.
E, assim, o novo é revolucionário e subversivo.
Capturados, sobrevivemos cinzas, infelizes e adoecidos.
A linha de fuga é um modo de viver libertário que escapa da rede de repressão normativa.
O normal é o terno e a gravata, a prisão num escritório fechado, o trabalho repetitivo, a acumaulação, a exploração, o consumismo, o individualismo narcísico, o ciúme, a posse privada, a competição...
... é o carro novo, a fotografia na coluna social, o racicínio pragmático, o desamor e a violência.
O diferente  é surrado, isolado, inviabilizado.
A linha de fuga é uma maquinação que escapa, dribla e enngana os mecanismos de destruição da singularidade.
Não somos felizes, assim, tão-somente sorrimos na s fotografias.
Necessitamos de nossas lendas, nossos desejos , nossos caminhos...
Muitos olham os que experenciam na vida a potência das linhas de fuga e os classificam como derrotados.
No entanto, todos são derrotados. A questão é saber se seguiremos os alvitres do status quo e nos tornaremos exemplares da infelicidade adornada de ouro e prata; ou se vamos na ousadia da reinvenção de uma vida caçar nossa alegria nos coração dos nossos desejos genuinos.
Uma outra vida é possível. A simplicidade, a partilha, o a coletivização, as paixões libertas, a generosidade, a solidariedade, a natureza não peças de um discursos, são carne e osso de uma vida onde o chão florido se faz leito caloroso e o céu estrelado, nosso teto e, nesta vida, o amor ciranda em nossos peles e a alegria caminha nos nossos passos.
Dela e nela, renascemos... subejtivações livres: voo na imensidão, canto de passarinho.














2 comentários:

Thiago Luis disse...

caro jorge, suas palavras assombram. e assombrados algo se mexe no intimo-mútuo de dentro de nós. linhas de fuga. mas não fugidias: tais linhas proclamam e contróem um encontro. lê-lo é confraternização de um bom encontro. e cada bom encontro transforma a solidão em comunhão. amizade.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Thiago, amigo-poeta e companheiro de dsonhos e caminhadas, persistamos na escrita que descortina a aurora, um novo tempo, e uma vida chamada liberdade.
Te admiro muito.
Abraços jorge