Jorge Bichuetti
Corpo nu. Vento na pele, arrepios. Maresia. No horizonte, uma poesia bela escrita pela própria vida nos confins do infinito.
Ondas bailam na areia, um barco branco cruza a linha do horizonte...
Água de coco, uma caminhada com a nossa alma serpenteando os territórios dos sonhos.
A música dos coqueirais, o sol penetrante. Luz e cores. Liberdade e magia.
Na praia, o encontro com o mar rompe o burburinho da vida medíocre.
Um espaço que corta e retalha a tirania do cérebro; um canto desacorrentado onde a pele e o coração emergem, eloquentes, como nossos interlocutores de um tempo atemporal e de uma singela vida de natureza passional e de paixões naturais.
A praia, no singelo, despertar de um corpo mortificado pela vida de asfalto e assalto, de cartão-de-ponto e asfixia pelo terno suado e pela forca da gravata, pela matemática e pelo boom da bolsa é uma linha de fuga.
Um campo florido, um riacho. Um banho de cachoeira. Nas bênçãos de Xangô e Oxum.
Amigos, risos e cantigas. Uma viola ecoa, um riso percuciona, calando os estribilhos rabugentos da nossa vida cinzenta pelas frustrações e desilusões, deste mundo de vendedores e vencedores.
Um mergulho, água caindo nos ombros que já não sustentam o mundo nem ousam carregar a idiotice frenética de uma vida aprisionada nos quartéis da opressão institucionalizada.
Cheiro-de-mato. Brisa suave e terna. Corpos plenos na aventura de experimentar a alvura da liberdade.
A cachoeira e sua selvagem alegria, a nossa vida liberta do concreto e imersa na poesia verde de um riacho é uma linha de fuga.
Um bar e os amigos... O rosto pintado na ousadia da luta...
Um ato de generosidade la luta contra a fome e a miséria...
Um amor apaixonado, uma amizade...
Diretas já... Anistia... A parada gay...A luta pela paz, pela preservação da natureza, pela fim do machismo e em defesa das mulheres...
Um núcleo de economia solidária, uma rádio pirata...
Um poema escrito na epiderme de um sonho.
Um roda-de-samba, um bloco de carnaval...
Uma rede-de-balanço, uma pipa no ar...
São linhas de vida, linas de fuga.
A linha de fuga é a produção desejante que se consuma , driblando os registros e controles que nos impedem de acessar nossos desejos, sonhos e invenções, para vivermos nos limites do instituído pela lógica capitalista , edípica e normôtica que tendem a nos capturar , seduzindo ou nos violentando, para que vivamos somente o previsível, o permitido e o esperado.
Nosso inconsciente é pura produção e produção do novo. Contudo, o novo é inadequado , neste mundo de vendedores e vencedores.
O sistema nos vigia e nos condiciona, impondo-nos demandas que não traduzem nossos desejos nem dialogam com o nosso projeto de felicidade.
E, assim, o novo é revolucionário e subversivo.
Capturados, sobrevivemos cinzas, infelizes e adoecidos.
A linha de fuga é um modo de viver libertário que escapa da rede de repressão normativa.
O normal é o terno e a gravata, a prisão num escritório fechado, o trabalho repetitivo, a acumaulação, a exploração, o consumismo, o individualismo narcísico, o ciúme, a posse privada, a competição...
... é o carro novo, a fotografia na coluna social, o racicínio pragmático, o desamor e a violência.
O diferente é surrado, isolado, inviabilizado.
A linha de fuga é uma maquinação que escapa, dribla e enngana os mecanismos de destruição da singularidade.
Não somos felizes, assim, tão-somente sorrimos na s fotografias.
Necessitamos de nossas lendas, nossos desejos , nossos caminhos...
Muitos olham os que experenciam na vida a potência das linhas de fuga e os classificam como derrotados.
No entanto, todos são derrotados. A questão é saber se seguiremos os alvitres do status quo e nos tornaremos exemplares da infelicidade adornada de ouro e prata; ou se vamos na ousadia da reinvenção de uma vida caçar nossa alegria nos coração dos nossos desejos genuinos.
Uma outra vida é possível. A simplicidade, a partilha, o a coletivização, as paixões libertas, a generosidade, a solidariedade, a natureza não peças de um discursos, são carne e osso de uma vida onde o chão florido se faz leito caloroso e o céu estrelado, nosso teto e, nesta vida, o amor ciranda em nossos peles e a alegria caminha nos nossos passos.
Dela e nela, renascemos... subejtivações livres: voo na imensidão, canto de passarinho.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
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2 comentários:
caro jorge, suas palavras assombram. e assombrados algo se mexe no intimo-mútuo de dentro de nós. linhas de fuga. mas não fugidias: tais linhas proclamam e contróem um encontro. lê-lo é confraternização de um bom encontro. e cada bom encontro transforma a solidão em comunhão. amizade.
Thiago, amigo-poeta e companheiro de dsonhos e caminhadas, persistamos na escrita que descortina a aurora, um novo tempo, e uma vida chamada liberdade.
Te admiro muito.
Abraços jorge
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