terça-feira, 25 de janeiro de 2011

DOM QUIXOTE: UM NÔMADE, UM PERSONAGEM DO DEVIR

                                                                Jorge Bichuetti

Dom Quixote, um personagem novelesco... Um cavaleiro da aventura, um sonhador...
Muitos nele vêem a própria força da utopia, da ousadia guerreira e da potência dos sonhos que vitalizam a estrada e anulam no dia-a-dia o servil realidade de pensar e agir na materialidade das coisas e imersos no agora, não vendo no além do horizonte a aurora de um novo porvir.
Outros o reduzem a um esquizofrênico de asilo. Delirante, autista... Um enfermo visionário que fora do mundo real, padece com a sua loucura num abismo de ilusão, e que não consegue na vida um lugar e um papel que lhe tire da falência, da sua vida medíocre de um homem fracassado,  um perdedor contumaz e um louco sem razão.
Se ele, Dom Quixote, escutasse esta polêmica com certeza num dueto com Maria Bethânia, simplesmente cantaria: " quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz"...
A loucura tem sido uma explicação que simplifica e desqualifica toda produção de vida que efetue uma ruptura com a lógica formal, com o pragmatismo e com objetivismo reducionista que somente admite o real palpável e vendável.
Dom Quixote produz um universo virtual que rompe disruptivamente com a realidade nua e crua, ele mergulha no sonho e na fantasia e vive num universo mágico e glorioso.
Na instauração do mundo sedentário, mercantil e racional, ele produz na virtualidade de seus sonhos e fantasias um universo romântico e aventureiro, nômade e utópico.
Hoje, ele encarna o herói revolucionário que crê e dá sua própria vida pela concretização de um sonho, de uma utopia.
Se o sedentário necessita da perpetuação do instituido e da repetição da vida na sua medicridade, o nômade potencializa em si um desejo de ser artista, de produzir o novo, de criar...
Uns se adaptam à realidade, mesmo quando esta é injusta e estéril, infeliz e opressiva.
Não enfrentam jamais os moinhos de vento do sistema que garantem a conservação da exclusão e da violência, da morte civil e da vida cinzenta...
Acomodam-se... são normais.
Lineu Miziara afirmou no livro Salamandra que "a normalidade é a mediocridade institcionalizada."
Os sonhadores nômades se desterritorializam e se reterritorializam, sempre, metamorfoseantes, inventam novas linhas de fuga... Novas planos de atualização das virtualidades, de criação inventiva de um novo modo de viver e conviver.
Nem mesmo a psiquiatria ortodoxa, se limita, hoje, num diagnóstico firmado em elementos simplificadores de uma vida. Reconhecem que o sintoma não o é em si mesmo, mas no sofrimento vivenciado pelos que o apresentem...
O sonho não é dor...
A utopia , igualmente, não é uma ferida incrustada nas entranhas de uma vida.
Nós, homens comuns, é que padecemos de uma inexplicável servidão a um real execrável...
A utopia e o sonho é a poesia dos que , para além das agruras e cruedades do hoje, enxergam e enxergando lutam peloa chegada de um novo dia, um novo tempo, um novo alvorecer...
Nas crises, os espaços estriados se alisam... a covardia e comodissmo são capturam e reinstalamos os estriamentos que nos limitam e que limitam a pr´pria vida...
Outros, devém-se Dons Quixotes... Ousam sonhar... Aventuram-se na luta pela vida de seus sonhos... Heroicamente, semeiam as floradas e os caminhos do amanhã.
A utopia só é loucura para o passado que insiste em perpetuar-se... ela, porém, é a estrela-guia que norteiam a caminhada dos que, rompendo o sincronismo dos relógios, antecipam o nasmento do porvir.

3 comentários:

santuzza disse...

Com sua fantástica memória você cita Lineu Miziara: A normalidade é a mediocridade institucionalizada. Você conhece a importância que ele teve na minha vida depois que me separei.
Realmente ele tinha muita coragem e
Por isso dava inveja a muita gente. E parece-me que o conceito de louco era o que destoava da multidão. Hoje penso que é o contrário. E, D. Quixote é apenas um herói. Você também meu caríssimo amigo com sua Utopia ativa é um herói do qual me sinto muito orgulhosa de tê-lo como amigo Santuzza

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Santuza, minha amiga, nos irmanamos nos sonhos de vida livre e feliz... Nosso Lineu seria hoje um parceiro do que o mundo só percebe como uma inofensível ilusão.
Muitas lágrima s não são frutos da depressão, são o preço que mundo cobraa dos que ousam sonhar numa outra direção...
Abraços, Jorge

Débora D`padua Mel disse...

texto lindo: Me lembrou a afirmação de que a utopia é aquilo que quanto mais vamos nos aproximamos dela , mais ela se afasta. E para que serve se não a alcançaremos? Para que caminhemos....