Fator 50
FERNANDO YONEZAWA
O Sol é maior...
O Sol é mais próximo hoje.
Ele vem abraçar esse solo cinza de cidade;
dizer que não tem mais jeito de ficar tão longe
espalhado pelo azul...
Precisa arder nossa nuca,
avermelhar os coitados homens-brancos,
tacanhos e fracos;
sob um amarelo cada vez menos luminoso
e cada vez mais vermelho...
Oscilamos desesperadamente como moscas,
inflamados estamos
do bafo quente e sufocante de nossa razão demente,
bafo quente do Sol nos avisando do progresso que fizemos...
Adoecemos o céu desse mundo;
fizemos do lar um depósito de fuligem
e aflição...
Tudo arde com secura...
Seguimos reto
sem ouvir a nossa pele
e com olhos fitando em riste
o Sol e o mar não interessam,
o que importa é vender...
Tudo arde com secura,
neste mundo da gente
nem a gente conta mais;
bravos são os que corroem
de conformismo
e de sucesso
Venda...
Venda...
Sucesso de venda,
milhares de vendas,
principalmente, para os olhos...
O modelo mais pedido,
aquele igual ao dos cavalos;
lambuza a pele de creme
para continuar doendo por baixo;
mas a pele não se vende
e não se venda...
O louco bigodudo alemão já disse:
ninguém ouviu porque ele era louco.
Temos uma doença de pele;
somos nós
a doença de pele dessa Terra sem terra...
Depelamos o mundo,
pensando tão bem...
Depelamos a gente,
e ficamos todos branco-lagartixa....
Matamos de fome e de sexo os pretos;
de máquinas e lâmpadas, os amarelos;
de gripe e de balas, os vermelhos...
Sim, de tanto avanço que nos enaltece,
morremos na nata fervente
que nos deixa sem pele...
Mas o louco bigodudo alemão tinha avisado:...
tudo fica puro
branco...
Nenhum comentário:
Postar um comentário