quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

CARTA DO SUBCOMANDANTE MARCOS À CUBA

Há no Caribe, estendido ao sol, qual verde caimão, uma engrandecida ilha. Chama-se ”Cuba” o território e “Cubano” o povo que aí vive e luta.
A sua história, como a de todos os povos da América, é um longo emaranhado de dor e dignidade.
Mas há qualquer coisa que faz com que esse solo brilhe.
Diz-se, não sem verdade, que é o primeiro território livre da América.
Durante quase meio século, esse povo manteve um desafio descomunal: o de construir um destino próprio como Nação.
”Socialismo” chamou esse povo ao seu caminho e motor. Existe, é real, pode medir-se em estatísticas, pontos percentuais, índices de vida, acesso à saúde, à educação, à habitação, à alimentação, ao desenvolvimento científico e tecnológico. Isto é, pode-se ver, ouvir, cheirar, saborear, tocar, pensar, sentir.
A sua impertinente rebeldia custou-lhe sofrer um bloqueio económico, invasões militares, sabotagens industriais e climáticos, tentativas de assassinato contra os seus líderes, calúnias, mentiras e a mais gigantesca campanha mediática de desprestígio.
Todos estes ataques provieram de um centro: o poder norte-americano.
A resistência deste povo, o cubano, não requer só conhecimento e análise, mas também respeito e apoio.
Agora que tanto se fala de defunções, há que recordar que há já 40 anos tentam enterrar Che Guevara; que já por várias vezes declararam a morte de Fidel Castro; que à Revolução Cubana marcaram, inutilmente até agora, dezenas de calendários de extinção; que nas geografias onde se desenham as actuais estratégias do capitalismo selvagem, não aparece Cuba, por mais que se esforcem.
Mais do que como ajuda efectiva, como sinal de reconhecimento, respeito e admiração, as comunidades indígenas zapatistas enviaram um pouco de milho não transgénico e um pouco de gasolina. Para nós, foi a nossa forma de fazer saber a esse povo que sabemos que as maiores dificuldades que padece, têm um centro emissor: o governo dos Estados Unidos da América.
Como zapatistas pensamos que devemos ter os olhos, os ouvidos e o coração voltados para esse povo.
Para que não vá ser que como a nós, se diga que o movimento é muito importante e essencial e blá, blá, blá; e quando, como agora, somos agredidos, não há uma linha, nem uma revolta, nem um sinal de protesto.
Cuba é muito mais que o estendido e verde caimão do Caribe.
É um referente cuja experiência será vital para os povos que lutam, sobretudo nos tempos de obscurantismo que se vivem hoje e continuarão ainda por algum tempo.
Contra os calendários e geografias da destruição, em Cuba há um calendário e uma geografia de esperança.
Por tudo isto dizemos, sem estridências, não como palavra-de-ordem, com sentimento: Que viva Cuba!
Muito obrigado
San Cristóbal de Las Casas, Chiapas, México
Dezembro de 2007

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