domingo, 16 de janeiro de 2011

SOBRE O DESEJO E O AMOR

                                                                       Jorge Bichuetti

O amor é fogo... Arde. Excita, pulsa... Atordoa, mas não enlouquece. Leva-nos a um mundo que nós, filhotes da lógica formal e da racionalidade técnico-instrumental desconhcemos. Que mundo é este? Canaã, a Cidade do Sol... Ou ainda um Reino Estelar?...
O desejo e o amor não são, isto desde Freud, submissos ao princípio de realidade; o percebia movendo-se segundo o princípio do prazer que é, por natureza, mágico, inventivo e amigo dos instintos e das paixões.
Não é extranho, assim, que a poesia e a arte saibam mais deles do que a própria ciência.
Um fato inegável é que os tememos... Moram eles na vizinhança da loucura. Situações limites, são frutos e flores da encruzilhada, nascem-crescem-perpetuam-se na fronteira.
O Cristo funda um novo tempo, norteando-se pelo que pode o amor...
Capturamos o cristianismo, e dissociamos o amor do desejo; ao mesmo tempo que o desejo era normatizado num processo de redução que o restringiu ao coito, à genitalização, ao familialismo, a possessividade ao ciúme, à monogamia, e à sua forma edípica( triangular, leia-se  um terceiro excluído), reprodutivo e repetitivo, e sempre um retrato nublado do primeiro vínvulo que é o nosso vínculo com os pais.).
Assim, amor e desejo tornou-se um teatro de scripit previamente escrito. Universal, e, portanto, encapsulado e protegido da singularidade, da multiplicidade e dos devires.
Um amor robotido, um desejo castrado: produtos da falta, jogam o homem e a vida numa miséria e indigência absoluta. Somos, então, mendigos do afeto.
Não mais um caldeirão efervescente de pulsões...
Não a um inconsciente que pura produção desejante...
E, igualmente, não a um amor sem fronteiras...
O desejo é construtivismo, não possiu objeto; nem se movimenta pela falta: é potência, excesso, criatividade...
E o amor é abundandância, florescência primaveril e frutificação de um perene outono...
Somos , contudo, normatizados. Assim, caminha a humanidade: castrada, impotente, infeliz... carente, platônica...
Temos medo de amar, temos medo de nossos desejos...
E quando amamos e desejamos, amamos e desemos no quadriculado das induções restritivas e normativas.
Neste quadro, Foucault vê o ápice do encontro heterossexual nos processos prévios de sedução e enamoramento.
O sexo é pecaminoso... A relação sexual anémica, pobre e desvitalizada.
Ele concluiu que a homossexualidade padecia do inverso. Sexo clandestino - explorado e exaurido; com um vazio... A pobreza amorosa.
Sendo o amor que não dizer o nome, mergulhou numa exaustão de uma hipersexualidade em detrimento do carinho, da ternura, da cumplicidade, do charme da conquista e das trocas enriquecedoras do amor-desejo na riqueza de um vínculo, partilha de caminhada.
Hoje, portanto, vive a humanidade a necessidade de uma nova revolução sexual.
A homofobia - crime hediondo- nega que os gays avançaram na ruptura da repressão sexual...
E os avatares do sexo livre negam que necessitamos de incorporar nos encontros ternura e carinho, cumplicidade e partilha, doação e corresponzabilização.
O devir mulher emerge como uma necessidade de todos.
E a liberdade da exploração do prazer, um direito de todos...
Só, assim, teremos " a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida", e uma vida sexual que seja produção de saúde e vida, um voo na imensidão no carinho de um beijo e o prazer potencializado uma relva estrelada de alegria e comunhão.











2 comentários:

maryllu disse...

Legal seu texto. Precisamos mesmo de outras revoluções sexuais. E temos medo, com razão.

http://maryllu.wordpress.com/2009/03/17/ai-o-amor-o-amor-o-amor/

Um abraço

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marylu, temos medo... do amor e da solidão.
Um dia, descobriremos que um cadinho de ternura nos transforma em bravos guerreiros , no amor e na partilha.Ai, o medo vai...
Pois penso que as repressões e os nãos do instituido nós enfrentamos com ousadia e coragem.Abraços
jorge