Jorge Bichuetti
Uma corda na figueira...
Uma bala perdida...
Um corpo na contramão...
Entre o êxtase e a overdose,
um passo
um trago
um cheiro
um sopro
nenhum beijo...
Só a vida
partida,
uma flor caída
no abismo...
Uma paixão rota,
sem o calor de um abraço
e sem a foto
do último adeus.
No silêncio,
tão-somente,
uma gota de sangue
num lenço branco
sem batom...
ESTE MENINO
Jorge Bichuetti
Tão criança,
na sua alma
bola de gude
pipas
e cabanas verdes de uma árvore qualquer...
No seu corpo,
a lata do crack
substitui a bola do gol;
e os sibilos da navalha
os trinados da metralhadora
e os gemidos do medo
ecoam no seu peito,
entre cantigas de ninar
que a vida não apagou...
Um dia, ele fechará os olhos
e partirá...
Partirá, sonhando com o seu peão,
peão-bailarina
que de sua mão nunca caiu.
Ele e a sua pureza,
o seu corpo furado
numa vala
numa esquina
no esquecimento de um mundo,
de um mundo que já diz adeus
nem amém...
MOÇO
Jorge Bichuetti
Um moço moleque,
um menino... na avenida.
Faminto. Sem sonhos...
Banido da vida,
sobrevive à margem...
Olhar tristonho,
palavras hostis...
Já não sabe seu nome;
no seu caminho,
já florescem ilusões...
Preso... Ninguém nota a sua alma.
Nossa gravata só enxerga
a magia da ternura,
se ela se posta
nos degraus da submissão.
Morto... esquecido,
por aqueles que não suportam sua valentia.
nem o aceitam com sua suave alegria.
Afinal, ele é bandido:
não usa armas oficial;
os outros servem a pátria,
sua guerra cabe no diário
dos registros militares.
Uma flor nasce no asfalto,
enquanto novos espinhos
rasgam o peito da nossa mãe
gentil, uma mãe que há muito
agoniza, estuprada,
nos livros da história.
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