domingo, 2 de janeiro de 2011

O SUPER-HOMEM

                                 Jorge Bichuetti

O homem se aventura e desbrava horizontes; contudo, ele vive diuturnamente em relação com a sua inegável fragilidade.
Para os valores do instituído, nossa fragilidade é limite, negatividade e infelicidade...
Deleuze, em vários textos, assinala, entretanto, que fragilidade é território alisado, onde o homem pode se reinventar e reinventar a própria vida.
A fragilidade é caosmose: situação de fertilidade para processos de mudança e eclosão de devires inusitados.
Muitos enxergam em Nietzsche um apóstolo da fortaleza. Sendo sua ideia do Super-homem, nestas leituras, capturadas pela lógica da dominação bruta e da violência cruel.
Nietzsche não deixou, porém, espaços para estas derivações facistóides.
No livro, Humano demasiado humano, advoga que somente os que foram acorrentados, logram forças para a transição libertadora e inventiva de um novo modo de ser e viver.
Recordando o próprio Nietzsche, anotamos: "o que não mata, fortalece".
Podemos nos reinventar e reinventar a vida... Somos, afinal, um entre o animal e o além do homem.
Cabe seguir a caminhada, superando o modo de viver e existir hegemónico e criar um modo de ser que se dá na potência terna de uma nova suavidade.
Podemos...
Podemos amar e partilhar, cantar e dançar, rir e chorar, brincar e voar, sonhar, sonhar e sempre sonhar.
Podemos construir mãos generosas e livres, corpos encantados, relações fraternas e solidárias...
Podemos... materializar a igualdade e a liberdade, a justiça social e a inclusão e o apogeu da cidadania numa política de direitos humanos no privado e no público.
O homem é um projeto inacabado, tarefas e mudanças: um território dos devires.
Contudo, necessita, para tanto, de se desprender da brutalidade, reinventando-se nas potências ternas e alegres da simplicidade e do amor, da bondade e da solidariedade.
"Gente é feita para brilhar"... Brilhemos...
grávidos de uma estrela bailarina.

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