AMANHÃ
Jorge Bichuetti
A lua adormeceu...
E eu, esperando-te
não vi o tempo
e o tempo, este mago,
no céu evaporou-se...
Agora, resta o amanhã
e, nele, a minha esperança,
esta doce criança,
que há de te encontrar
num abraço, num afago,
num veleiro em alto-mar...
Não há perdas
nem distâncias,
para os que na vida
conseguem
conjugar o verbo amar...
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
POESIA: FLORES, LUARES E AMORES
UMA ROSA VERMELHA
Jorge Bichuetti
Era vermelha a rosa
e nosso amor, todo azul...
Nossos corpos, chamas vivas
e nosso caminho, um jardim...
Tivemos medo do fogo...
Da vida, não desejamos
a ardência do amor
quanto o encontro
já não era um jogo....
Áz de ouro e sete copas,
cartas roubadas na mesa;
um beijo, alguns carinhos,
delírios da nossa incerteza...
Assim cada um seguiu
a estrada e seus desatinos,
deixando secar num canto
de nossas vidas apartadas
sem um abraço de adeus
a nossa rosa vermelha
e a nossa ardente fogueira
que nas cinzas se perdeu....
A MAGIA DO LUAR
Jorge Bichuetti
Teu corpo enluarado
era loucura e prazer;
alados, nos abraçávamos
num voo de bailarinos...
num felino anoitecer...
Uivávamos, atados
na ternura do ardor,
com a magia do luar
e nossos beijos divinos,
no sexo, parindo uma flor...
ISTO É O AMOR...
Jorge Bichuetti
O desejo floresceu
e, nele, enlouquecidos
esquecemos do amor...
O amor nunca destrói
os sonhos adormecidos
nas pétalas de uma flor...
Jorge Bichuetti
Era vermelha a rosa
e nosso amor, todo azul...
Nossos corpos, chamas vivas
e nosso caminho, um jardim...
Tivemos medo do fogo...
Da vida, não desejamos
a ardência do amor
quanto o encontro
já não era um jogo....
Áz de ouro e sete copas,
cartas roubadas na mesa;
um beijo, alguns carinhos,
delírios da nossa incerteza...
Assim cada um seguiu
a estrada e seus desatinos,
deixando secar num canto
de nossas vidas apartadas
sem um abraço de adeus
a nossa rosa vermelha
e a nossa ardente fogueira
que nas cinzas se perdeu....
A MAGIA DO LUAR
Jorge Bichuetti
Teu corpo enluarado
era loucura e prazer;
alados, nos abraçávamos
num voo de bailarinos...
num felino anoitecer...
Uivávamos, atados
na ternura do ardor,
com a magia do luar
e nossos beijos divinos,
no sexo, parindo uma flor...
ISTO É O AMOR...
Jorge Bichuetti
O desejo floresceu
e, nele, enlouquecidos
esquecemos do amor...
O amor nunca destrói
os sonhos adormecidos
nas pétalas de uma flor...
SOCIEDADE DE AMIGOS: REBELDIA POÉTICA OU VIDA INCERTA, NOSSA LOUCA CONTRADIÇÃO...
Fator 50
FERNANDO YONEZAWA
O Sol é maior...
O Sol é mais próximo hoje.
Ele vem abraçar esse solo cinza de cidade;
dizer que não tem mais jeito de ficar tão longe
espalhado pelo azul...
Precisa arder nossa nuca,
avermelhar os coitados homens-brancos,
tacanhos e fracos;
sob um amarelo cada vez menos luminoso
e cada vez mais vermelho...
Oscilamos desesperadamente como moscas,
inflamados estamos
do bafo quente e sufocante de nossa razão demente,
bafo quente do Sol nos avisando do progresso que fizemos...
Adoecemos o céu desse mundo;
fizemos do lar um depósito de fuligem
e aflição...
Tudo arde com secura...
Seguimos reto
sem ouvir a nossa pele
e com olhos fitando em riste
o Sol e o mar não interessam,
o que importa é vender...
Tudo arde com secura,
neste mundo da gente
nem a gente conta mais;
bravos são os que corroem
de conformismo
e de sucesso
Venda...
Venda...
Sucesso de venda,
milhares de vendas,
principalmente, para os olhos...
O modelo mais pedido,
aquele igual ao dos cavalos;
lambuza a pele de creme
para continuar doendo por baixo;
mas a pele não se vende
e não se venda...
O louco bigodudo alemão já disse:
ninguém ouviu porque ele era louco.
Temos uma doença de pele;
somos nós
a doença de pele dessa Terra sem terra...
Depelamos o mundo,
pensando tão bem...
Depelamos a gente,
e ficamos todos branco-lagartixa....
Matamos de fome e de sexo os pretos;
de máquinas e lâmpadas, os amarelos;
de gripe e de balas, os vermelhos...
Sim, de tanto avanço que nos enaltece,
morremos na nata fervente
que nos deixa sem pele...
Mas o louco bigodudo alemão tinha avisado:...
tudo fica puro
branco...DIÁRIO DE BORDO: DILMA E AS MADRES
Sempre vi Las Madres de Plaza de Mayo como uma força libertáia: resistência e ousadia, sonhos e trabalho na construção de um novo dia...
Nas Casa Rosada, Dilma - presidenta do Brail - encontra-se com as mães e sente o valor da vida , sua e delas, que são vidas de luta...
Um filho perdido na escuridão de uma ditadura cruel e sanguinária...
Uma presidenta que vem desta mesma luta: da luta por liberdade e pelo sol que se escondia, detrás do fuzil e do canhão dos opressores malditos que nos deram por herança uma vil e amarga covardia...
"Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós..."
Justiça... Direitos Humanos: já não uma utopia... è um caminho sem volta, no desejo vivo e claro de se ter dignidade no caminho de um povo, cainhos das nossas vidas...
PELA VIDA E PELA LIBERDADE, PELOS DIREITOA TÃO HUMANOS: APROVAÇÃO IMEDIATA DA COMISSÃO DA VERDADE E DO FIM TODA E QUALQUER ESCURIDÃO...
DIÁRIO DE BORDO: TRABALHO, DESEJOS E SONHOS
Jorge Bichuetti
Nunca pensei que a vida fosse um mistério... Viver e amar, caminhar e sonhar... Me pareciam tão naturais que nunca, de fato, disse o quanto era feliz no meu trabalho.
O trabalho com a loucura, com os portadores de sofrimento mental, tem sido, para mim, uma escola de liberdade e solidariedade, de paixão e com-paixão, de cidadania e direitos humanos...
Crescemos com medo da loucura... Era o perigo na esquina, o medo imposto pelos que cuidavam de nós...
A loucura , todavia, é expontaneidade e magia, ternura e poesia... O avesso do mundo sisudo é sério que mata, violenta e explora; exclui e marginaliza; nos impede de brincar, desejar e sonhar...
Com eles, descubro lágrimas e sorrisos, espinhos e flores, a rede de balanço e os passos febris e mágicos de uma nova dança.
Os loucos deliram; os normais, mentem...
Na mentira, reconheço as velhas e caducas manipulações mistificadoras...
Nos delírios, o virtual... As utopias, as paragens paradísiacas dos sonhos...
Pichón-Riviere dizia que havia "locos lindos" e "locos de mierda".
Loucura é diferença, singularidade, multiplicidade e devir...
Um perigo real para um mundo que nega o novo.
E, assim, a diferença é esquartejada pela instituído que a teme no sua potência instituinte de desbravar novos alvoreceres.
Negado e excluída, ela se vê capturada pelo adoecimento que a engaiola nos padrões dominantes...
Vira vida silenciada, mortificada, inibida e dilacerada...
Cuidamos desta dor...
E cuidamos, fomentando a construção produtiva e inventiva de caminhos para os desejos e sonhos que moram nas entranhas da aurora...
Há na loucura uma vivência de fronteira... Uma encruzilhada...
Um caos... E no redemoinho deste caos se misturam os detritos do nosso passado e o adubo fértil das florescências do nosso porvir.
O caos é criativo: caosmose...
Já dizia o livro santo que os que miram fixos para os escombros do ontem se petrificam, viram estátuas de sal.
Cada dor é uma pedra no meio do caminho...
Alguém ali a colocou, outros passaram e não a tiraram; e nós, muitas vezes, somos incapazes de carregá-la...
Cuidar, então, é bifurcar, ramificar, contornar e, deste modo, derivar nvos caminhos na direção de um novo amanhecer e de novos horizontes, para além da nossa história de para além de nós mesmos...
Trabalhamos com o humano na luta por uma vida direitos mais que humanos...
Por tudo isso, digo: nos entres das relaçoes com a loucura há uma vida, mais vida do que esa vida tão impregnada de morte...
Há uma vida emergente... Uma vida que se fossemos nomeá-la a chamaríamos de vida-esperança...
Nunca pensei que a vida fosse um mistério... Viver e amar, caminhar e sonhar... Me pareciam tão naturais que nunca, de fato, disse o quanto era feliz no meu trabalho.
O trabalho com a loucura, com os portadores de sofrimento mental, tem sido, para mim, uma escola de liberdade e solidariedade, de paixão e com-paixão, de cidadania e direitos humanos...
Crescemos com medo da loucura... Era o perigo na esquina, o medo imposto pelos que cuidavam de nós...
A loucura , todavia, é expontaneidade e magia, ternura e poesia... O avesso do mundo sisudo é sério que mata, violenta e explora; exclui e marginaliza; nos impede de brincar, desejar e sonhar...
Com eles, descubro lágrimas e sorrisos, espinhos e flores, a rede de balanço e os passos febris e mágicos de uma nova dança.
Os loucos deliram; os normais, mentem...
Na mentira, reconheço as velhas e caducas manipulações mistificadoras...
Nos delírios, o virtual... As utopias, as paragens paradísiacas dos sonhos...
Pichón-Riviere dizia que havia "locos lindos" e "locos de mierda".
Loucura é diferença, singularidade, multiplicidade e devir...
Um perigo real para um mundo que nega o novo.
E, assim, a diferença é esquartejada pela instituído que a teme no sua potência instituinte de desbravar novos alvoreceres.
Negado e excluída, ela se vê capturada pelo adoecimento que a engaiola nos padrões dominantes...
Vira vida silenciada, mortificada, inibida e dilacerada...
Cuidamos desta dor...
E cuidamos, fomentando a construção produtiva e inventiva de caminhos para os desejos e sonhos que moram nas entranhas da aurora...
Há na loucura uma vivência de fronteira... Uma encruzilhada...
Um caos... E no redemoinho deste caos se misturam os detritos do nosso passado e o adubo fértil das florescências do nosso porvir.
O caos é criativo: caosmose...
Já dizia o livro santo que os que miram fixos para os escombros do ontem se petrificam, viram estátuas de sal.
Cada dor é uma pedra no meio do caminho...
Alguém ali a colocou, outros passaram e não a tiraram; e nós, muitas vezes, somos incapazes de carregá-la...
Cuidar, então, é bifurcar, ramificar, contornar e, deste modo, derivar nvos caminhos na direção de um novo amanhecer e de novos horizontes, para além da nossa história de para além de nós mesmos...
Trabalhamos com o humano na luta por uma vida direitos mais que humanos...
Por tudo isso, digo: nos entres das relaçoes com a loucura há uma vida, mais vida do que esa vida tão impregnada de morte...
Há uma vida emergente... Uma vida que se fossemos nomeá-la a chamaríamos de vida-esperança...
O CARNAVAL DA INCLUSÃO: SAMBA- ENREDO DO BLOCO MARIA BONECA
MARIA, MARIA NO PAÍS DA LIBERDADE
Compositores: Jorge Bichuetti e Odila Braga
Samba-enredo do Bloco Maria Boneca, carnaval de 2011.
Ó Maria, Ó Maria...
Doce flor do meu viver...
Vem, Maria,
Vem Maria;
Sem você não sei viver... ( refrão) – 2x
Caminhando, nesta vida,
eu não quero mais sofrer;
quero a vida, a liberdade,
o sol do alvorecer...
Hoje, estamos na folia
que é festa de prazer,
por direitos
tão humanos,
nossa luta há de vencer...
Refrão... – 2x
Ontem, Modesta Rosa,
era a Maria do amor;
hoje, da Penha e da Glória,
outras Marias com você...
É Maria , é Maria,
raça e luta pra valer,
nossa força ,
nossa voz,
e nosso povo no poder...
Refrão... 2x
Nesta rua toda em festa,
nosso grito tem valor;
o seu corpo, ó Maria,
é corpo livre da dor...
A lei é de liberdade,
já não é de servidão;
se alguém
lhe machucar
o destino é a prisão...
Refrão... 2x
O Maria , ò Maria,
doce flor do meu viver,
vem Maria me abrace
esqueça da solidão...
É Maria, ó Maria,
nossa boneca de esplendor,
que na rua da esperança
é a loucura
do amor...
Todos juntos, nesta festa,
já se pode até sonhar,
um sonho
de alegria ,
de poesia e de luar...
Refrão... 2x
*********************************
Na avenida, novamente, estarão os que lutam pela vida e pela liberdade
Um carnaval de todos: usuários dos serviços de saúde mental, trabalhadores, estudantes, artistas, escolas da rede pública, creches, usuários dos CRAS, o grupo Axé, e o povo...
Este ano com o tema da luta das mulheres: contra a violência e pelo direito à liberdade, alegria e justiça social...
MESTRES DO CAMINHO: CECÍLIA MEIRELES CANTA O AMOR
Cecília Meireles:
"De longe te hei de amar- da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância."
" Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira."
"Tenho fases, como a Lua; fases de ser sozinha, fases de ser só sua."
"No misterio do sem-fim equilibra-se um planeta. E no planeta um jardim e no jardim um canteiro no canteiro uma violeta e sobre ela o dia inteiro entre o planeta e o sem-fim a asa de uma borboleta."
"Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve..."
"De longe te hei de amar- da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância."
" Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira."
"Tenho fases, como a Lua; fases de ser sozinha, fases de ser só sua."
"No misterio do sem-fim equilibra-se um planeta. E no planeta um jardim e no jardim um canteiro no canteiro uma violeta e sobre ela o dia inteiro entre o planeta e o sem-fim a asa de uma borboleta."
"Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve..."
domingo, 30 de janeiro de 2011
SOCIEDADE DE AMIGOS: AS VENTANIAS DA PAIXÃO
Amares
Lia Mocho
São ternuras tantas
As canções do amor...
Marejados olhos,
mares de silêncio.
Carnaval de encontros
Ondulantes velas...
Navegando mudos
flutuantes versos...
Colo dos amigos,
Sonhos se revelam,
Ventos assobiam
Primaveras falam...DIÁRIO DE BORDO: ONDE MORA NOSSO CORAÇÃO?
Jorge Bichuetti
Trovoadas. A chuva assustou a pequena Lua e esta já, de novo, nos meus braços, acordou-me e queria que eu fizesse algo...Ela não compreende que o céu não me escuta...Converso com as estrelas, com o azul fascinante do firmamento, com os luares encantados... Falo, canto...Porém, se desejo alguma resposta, necessito de ler nas entrelinhas do silêncio.
Decidida a não se afastar de mim, e com medo do escuro, vim com ela para este canto da vida, onde o eu coração e ela, se sentem tão acolhidos....
Assim, amig@s... Estamos no meio da noite... Nós e o blog...
O blog é... um ponto de encontro... uma festa de amigos... e um recanto onde junto com meus sonhos mora o meu coração.
Os sonhos me transportam para além do aqui e agora; me dá a possibilidade de viajar pelo infinito e auscultar na magia de uma poesia as vozes do amanhã.
Não o leia, tão-somente, como se folheasse as páginas de um caderno de exóticas e estranhas anotações...
Escreva... Dialogue com os textos... E dê o seu recado...
Seja um seguidor...
Somos uma sociedade de amigos...
Uma utopia ativa...
Caminhamos, sonhamos: Por uma nova Terra, por um Povo Por-Vir...
Partilhamos as aventuras da jornada e juntos voamos... entre as flores que perfumam o chão e as estrelas que encantam nosso olhar, diante dos confins da imensidão.
Uma loucura nômade...
Buscamos a liberdade e vida...
E, assim , escutamos nesta madrugada a as palavras de Nietzsche, o velho passarinheiro:
"Quem chegou, ainda que apenas em certa medida, à liberdade da razão, não pode sentir-se sobre a Terra senão como andarilho — embora não como viajante em direção a um alvo último: pois este não há. Mas bem que ele quer ver e ter os olhos abertos para tudo o que propriamente se passa no mundo; por isso não pode prender seu coração com demasiada firmeza a nada de singular; tem de haver nele próprio algo de errante, que encontra sua alegria na mudança e na transitoriedade." Nietzsche - O andarilho - Humano demasiadamente humano POESIA : ASAS DO AMOR-TERNURA E DA TERNURA-LUAR
UMA LÁGRIMA
Jorge Bichuetti
( para Lia, a flor viva da ternura.)
Tua lágrima cai,
a minha, também,
cai... cai
e não te encontra,
nem consegue te abraçar...
Elas, sim, conversam
e numa reza
de fé, magia e esperança
rogam aos deuses do amar;
que não sejam lançadas
num oceano revolto,
num veleiro sem leme...
Tendo que ver seus desejos,
esperando o cais distante,
para a lua
refletrem,
na dor de quem já sabe sonhar...
MARIA PIROLA
Jorge Bichuetti
( com carinho, para os trabalhadores de saúde mental de Araxá.)
Mulher. Do trapézio
do circo
da vida...
Uma loucura no ar,
fugindo dos espinhos do chão...
Um pouso de com-paixão,
para os que ousam sonhar...
não me condenes,
se temo tuas carícias,
és uma plural da delícia
do chão florido
da noite adormecida
nas vielas do firmamento...
que se perdeu
e ao tentar
encontrar-se,
descobriu-se:
uma árvore
sem frutos proíbidos,
um paraiso sem chaves,
um desejo de amar
sen medo
ou covardia;
pura ousadia
de ser
para se eternizar
no carinho de um beijo
no afago de um abraço
na explosão de um orgasmo
e na quietude serena de uma crente ou descrente
apaixonada oração...
Jorge Bichuetti
( para Lia, a flor viva da ternura.)
Tua lágrima cai,
a minha, também,
cai... cai
e não te encontra,
nem consegue te abraçar...
Elas, sim, conversam
e numa reza
de fé, magia e esperança
rogam aos deuses do amar;
que não sejam lançadas
num oceano revolto,
num veleiro sem leme...
Tendo que ver seus desejos,
esperando o cais distante,
para a lua
refletrem,
na dor de quem já sabe sonhar...
MARIA PIROLA
Jorge Bichuetti
( com carinho, para os trabalhadores de saúde mental de Araxá.)
Mulher. Do trapézio
do circo
da vida...
Uma loucura no ar,
fugindo dos espinhos do chão...
Um pouso de com-paixão,
para os que ousam sonhar...
MEU AMOR
Jorge Bichuetti
Tens o corpo de Apolo
e a alma de um querubim;
estrelas faíscam teu corpo
como se fosses
na vida
a flor do amor sem um fim...
Tua ternura exala
um perfume de sedução,
tuas palavras
sinfonizam
a magia de uma oração...
Este amor é encantamento,
chama vela encruzilhada,
és um doce passarinho
que voa,
enamorado,
entre as estrelas da jornada...
Meu amor,não me condenes,
se temo tuas carícias,
és uma plural da delícia
do chão florido
da noite adormecida
nas vielas do firmamento...
AMOR DE LUAR
Jorge Bichuetti
Amo esta vida
onde o tempo,
já não marca
nem demarca
os sonhos
os desejos
o amor...
Numa noite estrelada,
já nem sei se fui
ou serei
ou se, ainda, um trago a mais
me dará
num gole
uma tira do infinito...
Infinito amor,
amigos amantes,
um verão
primaveril
e um infernoque se perdeu
e ao tentar
encontrar-se,
descobriu-se:
uma árvore
sem frutos proíbidos,
um paraiso sem chaves,
um desejo de amar
sen medo
ou covardia;
pura ousadia
de ser
para se eternizar
no carinho de um beijo
no afago de um abraço
na explosão de um orgasmo
e na quietude serena de uma crente ou descrente
apaixonada oração...
DIÁRIO DE BORDO: EU OUVI O TOQUE DOS TAMBORES...
Jorge Bichuetti
Ontem, estive com os amigos na magia da noite e vi, na e com a pele, que se pode ser diferente...
Ativo, e não somente um lamento reativo.
Uma afirmação da vida, e não apenas um medo da morte...
O luar no céu e a roda girando com a efervescência das poesias que iam musicando: as histórias, as lembranças, as anétodas e uma e outra lágrima que na intensidade terna da dos carinhos multiplicados, caía...
Cada lágrima caída só chegava ao chão, depois de se descansar por alguns minutos num ombro oferecido, silenciosamente, no afago de um abraço...
Liberdade, liberdade: abre as asas sobre nós...
Amizade, amizade: já não suportamos este viver tão só...
Éramos poucos e uma multidão... Corpos alegres e um diálogo mudo o velho passarinheiro:
- "E aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música" Nietzsche
A lua não choramingou a minha saída, celebrou a alegria... Na volta, lhe contei tudo, mostrando-lhe a força e a magia do luar...
- "E aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música" Nietzsche
A lua não choramingou a minha saída, celebrou a alegria... Na volta, lhe contei tudo, mostrando-lhe a força e a magia do luar...
***
Egito. Quinto dia de protestos...Já se soma mais de 80 mortos... Os feridos contabilizam mais de 2000.
O ditador Hosni Murabak, aliado aos militares, endurecem e usam abertamente armas letais.
Tudo teve início há duas semanas com a queda do ditador da Tunísia...
Os protestos e a luta popular se estende e já envolve a Argélia, a Tunísia, a Líbia, a Jordânia e o Iêmen...
É a luta pela liberdade e pelo direito de autodeterminação dos povos.
A repressão sangrenta só revela a natureza do regime ditatorial.
Se Deus tivesse assento nos organismos internacionais, já teria se pronunciado:
- Cuidado, cuidado... Por muito menos caiu e virou pó Sodoma e Gomorra...
Ou ainda, inspirado, em Inácio Ferreira, um valente escritor uberabense, já falecido:
- Pau neles, meu Pai, porque eles sabem muito bem o que fazem...
***
Séria e audaciosa, Dilma Roussef compara as vítimas das ditaduras latinoamericanas às vítimas do holocausto... E encontro , na próxima semana, com as Mães da Praça de Maio, que representam a luta pelos direitos humanos e pela vida e pela justa punição aos responsáveis pelo terror que lhes roubara, de seus braços, seus amados filhos...
***
Atenção, Brasil: nesta semana, volta ao congresso nacional o debate sobre a criminalização da homofobia, a legislação do aborto e união civil entre pessoas do mesmo sexo...
O voto é nosso... Nós os elegemos...
Pressionemo-los, então, para que a vida e a liberdade não sejam aviltadas pelos que ortogamos o papel de ser a nossa voz...
Direitos Humanos é vida e liberdade, justiça e inclusão social...
Lutemos... Grite e clame... Sua voz pode fazer a diferença...
***
Amigos, seis anos depois do cruel assassinato da Irmã missionária Dorothy Stang, seu projeto de sustentabilidade e apoio as florestas na Amazónia, via agricultura familiar, está sendo sepultado...
não permitamos que seu martírio tenha sido em vão...
***
Lilian Ruggia implora á presidenta Dilma que lhe ajude: seu irmão é um desaparecido político, morto pela ditadura militar brasileira...
É, ele, Henrique Ernesto Ruggia, morto aos 18 anos, numa emboscada na Foz do Iguaçu...
Juntos com ele, morreram Onofre Pinto, José Lavecchia e Vítor Carlos Ramos...
E quantos mais...
O adiamento da aprovação da Comissão da Verdade é um ato de cumplicidade com um Brasil cruel e assassino que não o queremos mais...
***
Vamos seguindo... Nem sempre cantando....
... Não queremos perder o direito de sonhar.
O dia seguirá... O sol partirá e uma nova noite de luar virá ,e olhando no fundo dos meus olhos inquietos, a mesma Lua, dos meus encantos e a companheira fiel dos meus sonhos mais ousados, irá me perguntar:
- De novo, você partirá?
Não parto... Reparto, partilho... e a levo comigo com sua magia, para que quando os destinos perturbarem meu sossego, posso eu numa roda de amigos, ouvir uma viola resistente, negando as normoses num velho canto de esperança e rebeldia:
- " Não me venha falar da malícia de toda mulher,
cada um sabe a dor e a delícia
de ser o que é...
Não me olhe como se a polícia
andasse atrás de mim...
Cale a boca
e não cale na boca
notícias ruins..."
BONS ENCONTROS: SOBRE A MORTE E O MORRER
Sobre a morte e o morrer
Rubem Alves
O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define?
Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...
Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.
Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”
Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...”
Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.
Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".
Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.
Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.
Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?
Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.
Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".
Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.
Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.
Wallter Benjamin
Se ao mundo predissesses teu morrer
na morte a natureza ir-te-ia à frente
volvendo com mandado intransigente
no eterno esquecimento o próprio ser
O céu se rosaria docemente
por do teu corpo a roupa enfim descer
florestas tingiria o teu sofrer
de negro e a noite o mar barca silente
Luto sem nome com estrelas mede
a estela ao teu olhar no arco celeste
e a escuridão de espesso muro impede
que a luz da nova primavera preste
A estação vê nos astros que pararam
as cisternas que a morte te espelharam.
Canção Póstuma
Cecília Meireles
Fiz uma canção para dar-te;
porém tu já estavas morrendo.
A Morte é um poderoso vento.
E é um suspiro tão tímido, a Arte...
É um suspiro tímido e breve
como o da respiração diária.
Choro de pomba. E a Morte é uma águia
cujo grito ninguém descreve.
Vim cantar-te a canção do mundo,
mas estás de ouvidos fechados
para os meus lábios inexatos,
— atento a um canto mais profundo.
E estou como alguém que chegasse
ao centro do mar, comparando
aquele universo de pranto
com a lágrima da sua face.
E agora fecho grandes portas
sobre a canção que chegou tarde.
E sofro sem saber de que Arte
se ocupam as pessoas mortas.
Por isso é tão desesperada
a pequena, humana cantiga.
Talvez dure mais do que a vida.
Mas à Morte não diz mais nada.
O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela. Fernando Pessoa
sábado, 29 de janeiro de 2011
POESIA; ANJOS DA RUA
O VELHO
Jorge Bichuetti
Co'u'a garrafa de cachaça,
o velho se consumia,
mergulhado na desgraça
das dores de nostalgia.
A rua era a liturgia
da alma que não descansa,
que de si mesma fugia
nu'a árida errante andança.
Aposentado de guerra,
sem lar, pátria ou família,
era a dor que não se encerra...
Alucinava, noite e dia
solvendo o fel-da-terra,
na guerra que longe ia...
MARIA DAS FLORES
Jorge Bichuetti
Era na noite a festa
dos loucos e vagabundos,
mas, no amor, era honesta,
era a flor dos nauseabundos
jardins da dura miséria...
Era a Maria das Flores,
u'a mulher de reza séria,
se muitas fossem as dores...
Atire a primeira pedra,
aquele que nunca amou
no fogo que o cio medra...
Assim, pensava o Senhor,
homem santo de beleza,
sem malícia ou pudor...
UM ANJO MENINO
Jorge Bichuetti
- Ladrãozinho, ladrãozinho,
gritava o policial...
Tudo isto por um pãozinho,
e a fome roncando: miau...
O POBRE E O SAMARITANO
Jorge Bichuetti
Bêbado, caído no chão,
chorava o pobre infeliz,
tão tristonho
via passando os homens
de um bem
que não o acolhia...
Fiel na fé, o ébrio
de sonhos angelicais,
esperou...
E ali, morreu,
todos passaram,
o samaritano não passou.
Jorge Bichuetti
Co'u'a garrafa de cachaça,
o velho se consumia,
mergulhado na desgraça
das dores de nostalgia.
A rua era a liturgia
da alma que não descansa,
que de si mesma fugia
nu'a árida errante andança.
Aposentado de guerra,
sem lar, pátria ou família,
era a dor que não se encerra...
Alucinava, noite e dia
solvendo o fel-da-terra,
na guerra que longe ia...
MARIA DAS FLORES
Jorge Bichuetti
Era na noite a festa
dos loucos e vagabundos,
mas, no amor, era honesta,
era a flor dos nauseabundos
jardins da dura miséria...
Era a Maria das Flores,
u'a mulher de reza séria,
se muitas fossem as dores...
Atire a primeira pedra,
aquele que nunca amou
no fogo que o cio medra...
Assim, pensava o Senhor,
homem santo de beleza,
sem malícia ou pudor...
UM ANJO MENINO
Jorge Bichuetti
- Ladrãozinho, ladrãozinho,
gritava o policial...
Tudo isto por um pãozinho,
e a fome roncando: miau...
O POBRE E O SAMARITANO
Jorge Bichuetti
Bêbado, caído no chão,
chorava o pobre infeliz,
tão tristonho
via passando os homens
de um bem
que não o acolhia...
Fiel na fé, o ébrio
de sonhos angelicais,
esperou...
E ali, morreu,
todos passaram,
o samaritano não passou.
DO INDIVIDUALISMO ÀS REDES SOCIAIS
Jorge Bichuetti
O individualismo é produto de uma subjetividade que desumaniza e vulnerabiliza o homem.
Só, podemos tão pouco...
Na solidão, toda dor, toda ferida, todo problema, ganha uma dimensão diabólica. Monstruosa. Tudo parece insuperável, invencível...
A raiz é clara: o individualismo se molda sobre o narcisismo e a onipotência.
Assim, nos torna um deus que rodopia sobre si mesmo.
A solidariedade abre, vincula, agrupa... Nos dá potência.
A potência nasce dos bons encontros e estes germinam na fecundidade das paixões alegres.
Canta Chico Buarque: " Todos juntos, somos fortes... somos arco, somos flecha... todos nós no mesmo barco, não a nada a temer...."
Um grupo assentado no narcisismo é frágil e opressivo... Se articulando pelas identificações com um ideal de ego, o faz carrasco do próprio coletivo que internaliza uma submissão e uma forte repressão. Fora do grupo, o mal... a morte, o inimigo. E para se evitar este lugar, nega-se a si próprio e torna uma cópia amorfa cujo padrão modelador é o grupo despótico. Não há lugar nem ar para a singularidade, nem para a multiplicidade.
A onipotência , igualmente, torna a vida insustentável.
Não nos permitimos humanos, frágeis, limitados incompletos... Somos um deus sem um paraíso...
As redes sociais nos possibilitam uma nova sociabilidade.
Ressoa, a voz de Rosa Luxemburgo: " Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres."
A vida individualista tende à solidão ou à dependência simbíotica, já as redes sociais ramificam, bifurcam, rizomatizam, multiplicitam a vida e seus coletivos.
Se tecemos rede sociais aprofundamos a capacidade de estar com o outro, sem a tentação mútua de uma divina e impossível totalização.
Se, entretanto, ramificamos nossas conexões, passamos a contar com valores singulares multiplicados e que nos viabilizam uma vida de maior diversidade e de ricas multiplicidades...
Aliberdade, transversalidade, a ternura, a compreensão, conviviabilidade são valores que flexibilizam as redes e as protegem de uma captura totalizadora e normativa.
Eis o caminho da superação da solidão redes solidárias .... rdes libertárias... redes sociais criativas e afirmativas da vida e da própria liberdade...
Assim, voam as andorinhas sem medo ou timidez diante da amplidão do próprio infinito.
O individualismo é produto de uma subjetividade que desumaniza e vulnerabiliza o homem.
Só, podemos tão pouco...
Na solidão, toda dor, toda ferida, todo problema, ganha uma dimensão diabólica. Monstruosa. Tudo parece insuperável, invencível...
A raiz é clara: o individualismo se molda sobre o narcisismo e a onipotência.
Assim, nos torna um deus que rodopia sobre si mesmo.
A solidariedade abre, vincula, agrupa... Nos dá potência.
A potência nasce dos bons encontros e estes germinam na fecundidade das paixões alegres.
Canta Chico Buarque: " Todos juntos, somos fortes... somos arco, somos flecha... todos nós no mesmo barco, não a nada a temer...."
Um grupo assentado no narcisismo é frágil e opressivo... Se articulando pelas identificações com um ideal de ego, o faz carrasco do próprio coletivo que internaliza uma submissão e uma forte repressão. Fora do grupo, o mal... a morte, o inimigo. E para se evitar este lugar, nega-se a si próprio e torna uma cópia amorfa cujo padrão modelador é o grupo despótico. Não há lugar nem ar para a singularidade, nem para a multiplicidade.
A onipotência , igualmente, torna a vida insustentável.
Não nos permitimos humanos, frágeis, limitados incompletos... Somos um deus sem um paraíso...
As redes sociais nos possibilitam uma nova sociabilidade.
Ressoa, a voz de Rosa Luxemburgo: " Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres."
A vida individualista tende à solidão ou à dependência simbíotica, já as redes sociais ramificam, bifurcam, rizomatizam, multiplicitam a vida e seus coletivos.
Se tecemos rede sociais aprofundamos a capacidade de estar com o outro, sem a tentação mútua de uma divina e impossível totalização.
Se, entretanto, ramificamos nossas conexões, passamos a contar com valores singulares multiplicados e que nos viabilizam uma vida de maior diversidade e de ricas multiplicidades...
Aliberdade, transversalidade, a ternura, a compreensão, conviviabilidade são valores que flexibilizam as redes e as protegem de uma captura totalizadora e normativa.
Eis o caminho da superação da solidão redes solidárias .... rdes libertárias... redes sociais criativas e afirmativas da vida e da própria liberdade...
Assim, voam as andorinhas sem medo ou timidez diante da amplidão do próprio infinito.
BONS ENCONTROS: FOUCAULT SOBRE O ANTIÉDIPO
Introdução à vida não-fascista
Michel Foucault
[arquivo] - Durante os anos 1945-1965 (falo da Europa), existia uma certa forma correta de pensar, um certo estilo de discurso político, uma certa ética do intelectual. Era preciso ser unha e carne com Marx, não deixar seus sonhos vagabundearem muito longe de Freud e tratar os sistemas de signos – e significantes – com o maior respeito. Tais eram as três condições que tornavam aceitável essa singular ocupação que era a de escrever e de enunciar uma parte da verdade sobre si mesmo e sobre sua época.
Depois, vieram cinco anos breves, apaixonados, cinco anos de júbilo e de enigma. Às portas de nosso mundo, o Vietnã, o primeiro golpe em direção aos poderes constituídos. Mas aqui, no interior de nossos muros, o que exatamente se passa? Um amálgama de política revolucionária e anti-repressiva? Uma guerra levada por dois frontes – a exploração social e a repressão psíquica? Uma escalada da libido modulada pelo conflito de classes? É possível. De todo modo, é por esta interpretação familiar e dualista que se pretendeu explicar os acontecimentos destes anos. O sonho que, entre a Primeira Guerra Mundial e o acontecimento do fascismo, teve sob seus encantos as frações mais utopistas da Europa – a Alemanha de Wilhem Reich e a França dos surrealistas – retornou para abraçar a realidade mesma: Marx e Freud esclarecidos pela mesma incandescência.
Mas é isso mesmo o que se passou? Era uma retomada do projeto utópico dos anos trinta, desta vez, na escala da prática social? Ou, pelo contrário, houve um movimento para lutas políticas que não se conformavam mais ao modelo prescrito pela tradição marxista? Para uma experiência e uma tecnologia do desejo que não eram mais freudianas? Brandiram-se os velhos estandartes, mas o combate se deslocou e ganhou novas zonas.
O Anti-Édipo mostra, pra começar, a extensão do terreno ocupado. Porém, ele faz muito mais. Ele não se dissipa no denegrimento dos velhos ídolos, mesmo se divertindo muito com Freud. E, sobretudo, nos incita a ir mais longe.
Seria um erro ler o Anti-Édipo como a nova referência teórica (vocês sabem, essa famosa teoria que se nos costuma anunciar: essa que vai englobar tudo, essa que é absolutamente totalizante e tranquilizadora, essa, nos afirmam, “que tanto precisamos” nesta época de dispersão e de especialização, onde a “esperança” desapareceu). Não é preciso buscar uma “filosofia” nesta extraordinária profusão de novas noções e de conceitos-surpresa. O Anti-Édipo não é um Hegel pomposo. Penso que a melhor maneira de ler o Anti-Édipo é abordá-lo como uma “arte”, no sentido em que se fala de “arte erótica”, por exemplo. Apoiando-se sobre noções aparentemente abstratas de multiplicidades, de fluxo, de dispositivos e de acoplamentos, a análise da relação do desejo com a realidade e com a “máquina” capitalista contribui para responder a questões concretas. Questões que surgem menos do porque das coisas do que de seu como. Como introduzir o desejo no pensamento, no discurso, na ação? Como o desejo pode e deve desdobrar suas forças na esfera do político e se intensificar no processo de reversão da ordem estabelecida? Ars erotica, ars theoretica, ars politica.
Daí os três adversários aos quais o Anti-Édipo se encontra confrontado. Três adversários que não têm a mesma força, que representam graus diversos de ameaça, e que o livro combate por meios diferentes.
1) Os ascetas políticos, os militantes sombrios, os terroristas da teoria, esses que gostariam de preservar a ordem pura da política e do discurso político. Os burocratas da revolução e os funcionários da verdade.
2) Os lastimáveis técnicos do desejo – os psicanalistas e os semiólogos que registram cada signo e cada sintoma, e que gostariam de reduzir a organização múltipla do desejo à lei binária da estrutura e da falta.
3) Enfim, o inimigo maior, o adversário estratégico (embora a oposição do Anti-Édipo a seus outros inimigos constituam mais um engajamento político): o fascismo. E não somente o fascismo histórico de Hitler e de Mussolini – que tão bem souberam mobilizar e utilizar o desejo das massas -, mas o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora.
Eu diria que o Anti-Édipo (que seus autores me perdoem) é um livro de ética, o primeiro livro de ética que se escreveu na França depois de muito tempo (é talvez a razão pela qual seu sucesso não é limitado a um “leitorado” [“lectorat”] particular: ser anti-Édipo tornou-se um estilo de vida, um modo de pensar e de vida). Como fazer para não se tornar fascista mesmo quando (sobretudo quando) se acredita ser um militante revolucionário? Como liberar nosso discurso e nossos atos, nossos corações e nossos prazeres do fascismo? Como expulsar o fascismo que está incrustado em nosso comportamento? Os moralistas cristãos buscavam os traços da carne que estariam alojados nas redobras da alma. Deleuze e Guattari, por sua parte, espreitam os traços mais ínfimos do fascismo nos corpos.
Prestando uma modesta homenagem a São Francisco de Sales, se poderia dizer que o Anti-Édipo é uma Introdução à vida não fascista.[1]
Essa arte de viver contrária a todas as formas de fascismo, que sejam elas já instaladas ou próximas de ser, é acompanhada de um certo número de princípios essenciais, que eu resumiria da seguinte maneira se eu devesse fazer desse grande livro um manual ou um guia da vida cotidiana:
– Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante;
– Faça crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, mais do que por subdivisão e hierarquização piramidal;
– Libere-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna), que o pensamento ocidental, por um longo tempo, sacralizou como forma do poder e modo de acesso à realidade. Prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas. Considere que o que é produtivo, não é sedentário, mas nômade;
– Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo que a coisa que se combata seja abominável. É a ligação do desejo com a realidade (e não sua fuga, nas formas da representação) que possui uma força revolucionária;
– Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade; nem a ação política, para desacreditar um pensamento, como se ele fosse apenas pura especulação. Utilize a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política;
– Não exija da ação política que ela restabeleça os “direitos” do indivíduo, tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela multiplicação, o deslocamento e os diversos agenciamentos. O grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador de “desindividualização”;
– Não caia de amores pelo poder.
Poder-se-ia dizer que Deleuze e Guattari amam tão pouco o poder que eles buscaram neutralizar os efeitos de poder ligados a seu próprio discurso. Por isso os jogos e as armadilhas que se encontram espalhados em todo o livro, que fazem de sua tradução uma verdadeira façanha. Mas não são as armadilhas familiares da retórica, essas que buscam seduzir o leitor, sem que ele esteja consciente da manipulação, e que finda por assumir a causa dos autores contra sua vontade. As armadilhas do Anti-Édipo são as do humor: tanto os convites a se deixar expulsar, a despedir-se do texto batendo a porta. O livro faz pensar que é apenas o humor e o jogo aí onde, contudo, alguma coisa de essencial se passa, alguma coisa que é da maior seriedade: a perseguição a todas as formas de fascismo, desde aquelas, colossais, que nos rodeiam e nos esmagam até aquelas formas pequenas que fazem a amena tirania de nossas vidas cotidianas.
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