quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

POESIA: ASAS DA RESISTÊNCIA

                                    BURACO NEGRO
                                                     Jorge Bichuetti

Uma corda na figueira...
Uma bala perdida...
Um corpo na contramão...

Entre o êxtase e a overdose,
um passo
um trago
um cheiro
um sopro
nenhum beijo...

Só a vida
partida,
uma flor caída
no abismo...

Uma paixão rota,
sem o calor de um abraço
e sem a foto
do último adeus.

No silêncio,
tão-somente,
uma gota de sangue
num lenço branco
sem batom...











                   ESTE MENINO
                             Jorge Bichuetti

Tão criança, 
na sua alma 
                 bola de gude
                 pipas
                 e cabanas verdes de uma árvore  qualquer...
No seu corpo,
                    a lata do crack
                    substitui a bola do gol;
                     e os sibilos da navalha
                     os trinados da metralhadora
                     e os gemidos do medo
                     ecoam no seu peito,
                     entre cantigas de ninar 
                     que a vida não apagou...

Um dia, ele fechará os olhos
e partirá...
Partirá, sonhando com o seu peão,
peão-bailarina
que de sua mão nunca caiu.

Ele e a sua pureza,
o seu corpo furado
                            numa vala
                            numa esquina
                            no esquecimento de um mundo,
                            de um mundo que já diz adeus
                                                         nem amém...


                                    MOÇO
                                         Jorge Bichuetti

Um moço moleque,
um menino... na avenida.
Faminto. Sem sonhos...
Banido da vida,
sobrevive à margem...
Olhar tristonho,
palavras hostis...
Já não sabe seu nome;
no seu caminho,
já florescem ilusões...

Preso... Ninguém nota a sua alma.
Nossa gravata só enxerga
a magia da ternura,
se ela se posta
nos degraus da submissão.

Morto... esquecido,
por aqueles que não suportam sua valentia.
nem o aceitam com sua suave alegria.

Afinal, ele é bandido:
não usa armas oficial;
os outros servem a pátria,
sua guerra cabe no diário
dos registros militares.

Uma flor nasce no asfalto,
enquanto novos espinhos
rasgam o peito da nossa mãe
gentil, uma mãe que há muito 
agoniza, estuprada,
nos livros da história.



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