quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

PADRE ANCHIETA, UM DEVIR TERNURA NAS SELVAS BRASILEIRAS

                                                       Jorge Bichuetti

O devir é um vir-a-ser, novo, singularizante... Um novo modo de ser e existir que reinventa a vida e os homens... Ele não se dá por cópia, repetição ou imitação, nem por identificação... Ele acontece... Brota como um flor na imensidão do deserto, oucomo as chamas das estrelas que anônimas e silenciosas espantam a escuridão da noite e a torna noite enluarada de encantos, encantamentos, paixões e cantigas dde amor e fé...
A ternura é um modo de ser e existir: suave, meigo, doce, amável, sereno, afável, acolhedor e impregnado de carinho, um carinho sem fronteiras, um carinho de corpo e alma, pele e coração.
O devir ternura nos humaniza para além do demasidamente humano do nosso individualismo eegóico e narcisista... É generosidade e amor, doação e partilha...
Claudio Ulpiano foi um dos esquizoanalistas que o valorizava, situando sempre numa parceria com o devir guerreiro...
Visão preciosa, pois ternura não é servilismo nem covardia, timidez e medo, é uma afirmação de vida  na suavidade amorosa dos encontros marcados pelo acolhimento e pelo cuidado, pela meiguice e por um carinho visceral.
                                                     ***
No Brasil, temos um homem que encarnou a ternura e dela vez sua arma guerreira num trabalho pioneiro de inclusão e cidadania.
O devir ternura aconteceu e possuiu um dos primeiros heóris da luta pelos direitos humanos: o franzino e enfermo, incansável e amoroso, dedicado e amante do amor fraternal - o nosso padre José de Anchieta, um dos fundadores da cidade de São Paulo e desde 1980, um beato, um santo tupiniquim.
Nasceu em Tenerife, Ilhas Canárias, no ano de 1534, e estudou em Coimbra(Portugal)
Aos 17 anos se tornou jesuíta... embora, tivesse ao longo dos seus muitos anos uma vida franciscana, um jesuíta mais franciscano dos franciscanos...
Veio para o Brasil e se destacou no trabaho de cuidado dos índios, sendo para eles sacerdote e médico.
Falava o tupi...
Era poeta, educador, teatrólogo...
Um homem gentil...
Amava os índios, mal suportava a convivência com os colonizadores, brutos e corruptos, violentos e estupradores...
Esteve preso com os tamoios, voluntariamente, por 5 anos, em ubatuba, onde escreveu na areia um poema à Virgem Maria.
Era um pacificador, um protetor das mulheres, dos órfãos e dos miseráveis...
Profundamente, terno... amigo. suave como o canto de uma patativa, doce como os frutos maduros da nossa selva e tinha a meiguice das flores campestres...
Andava, incansável, longas distâncias para cuidar e socorrer, protteger os índios das cruedades dos colonizadores e pacificá-los nas suas lutas tribais.
Escritor.
Morreu em 1597... seu sepultamento foi acompanhado por 3000 índios numa caminada de 90Km, de Reritiba( hoje, anchieta) até Vitória....
Era a personificação da ternura, num devir forjado num corpo sofrido pela coluna danificada, num ambiente hostil de brutalidade dos colonizadores e no seu amor incondicional, ativo, cuidador e comprometido, aos índios...
Um devir ternura nas selvagens matas do Brasil... uma ave humana que se divinizou e deviu-se flor-estrela água do orvalho e cantiga de ninar na voz de um menino-anjo...

2 comentários:

Ricardo disse...

Caro Jorge... espero poder chamá-lo simplesmente "Jorge", dispensando as formalidades do "doutor" e do sobrenome:
Sinceramente, ainda não pude "explorar" mais profundamente seu blog. De qualquer forma, pressinto-o cheio de bons e belos (o "kalós kai agathós" grego. Rsss)textos.
Fiquei surpreso em ver uma referência ao Cláudio Ulpiano, na primeira parte do post de hoje. É alguém de muito valor, mas, academicamente falando, parece-me, com menos reconhecimento do que mereceria.
Agradeço-lhe imensamente por ensinar-me - afinal, continuamos aprendendo sempre - que existe algo como "esquizoanalista". Apesar de não ser da área "Psi", "esbarro" sempre com alguns conceitos dela... e não conhecia a expressão.
Aliás, a Filosofia ganha, necessariamente, em potência e densidade quando se aproxima da ciência Psicologia... acho até que poderíamos dizer que ganha quando se aproxima de qualquer ciência, pois consegue "beber na fonte" científica sem se "contaminar" com uma dogmática acrítica.
Quanto a este ponto, especificamente, acho que Spinoza - o meu "Norte" filosófico - tem muito a dizer sobre uma "psicologia filosófica"... ou sobre uma "filosofia psicológica". Rsss.
Apesar do que surgiu nos últimos tempos de estudos spinozanos, acho que ainda falta um aprofundamento num "Spinoza existencialista". Rsss. Que nenhum spinozano me leia, caso contrário, desejará queimar-me vivo. Rsss. Dizendo melhor, então, um "Spinoza existencial"... pronto!
Fiquei alegre ao perceber que a maior parte de seus posts tem como referência "bons encontros"... aqueles que aumentam nossa potência de viver, como diria Spinoza.
Parabéns pelo seu blog e obrigado pelas visitas e pelos comentários feitos no meu.
Grande abraço,
Ricardo.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Ricardo, fico feliz com seu contato, aliás, se não criamos redes multiplitária do novo, somos capturados pela solidão de quem vivenciam a potência dos sonhos sem fontes de alimentação para seus voos na imensidão. Gostei dos textos do Prof. Claudio, não o conheci e sinto, como você, que existe num meio onde deveria frutificar ternura e gratidão incomprensíveis silêncios.
Seu blog me anima, estimula e me dá aconchego.
Obrigado pelo seu carinho, Jorge.