quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: QUEM SOMOS?...

                                                 Jorge Bichuetti

Aqui, estou... Na minha mirada primeira, os álamos , embalados pelo vento, silenciosos, lacónicos, dialogavam com vida, e, embora, não ecoasse nenhuma palavra, os vi festejando a chuva, alheios as intempéries das catástrofes que só se dão no encontro da águas com a negligência do estado.
A Lua, minha pequena princesa, está aninhado nos meus pés, sabendo-se dona  do meu coração. Ela me escuta... Vê minhas angústias. E de tanto observar o mundo humano, já não nos inveja; exceto quanto  o cheiro de um assado lhe revela que entre nós, os humanos, a cozinha é, inegavelmente, um lugar sacrossanto; sendo, o restante da vida um misto de lixo e luxo, ambos, igualmente, incompreensíveis.
A Terra é azul... As matas verdes... O arco-íris multicolorido...
Porém, nossas vidas são cinzas...
Onde mora a miséria humana?
No socius, a vemos na exclusão e na segregação, na marginalidade e na violência, no desamor e nas injustiças sociais.
Estamos imersos num mundo de exploração, dominação e mistificação...
E como tardamos no grito necessário... Não dizemos basta...
Somos servos das expectativas alheias, arautos da morte.
Não da morte que chega como uma transação solitária na consumação de um ciclo vital.
Somos arautos da morte que se imiscui na vida , transformando-a em menos vida, vida apequenada, vida estropeada, vida agonizante no vazio das repetições medíocres, vida asfixiada nas fuligens de cinzas da vida que poderia ser e não ousamos viver.
Não tem sido bem sucedida  esta nossa vida de covardia e acomodação.
Também, nós nos descobrimos, neste socius de opressão e aniquilamento, uns aleijados existenciais.
Copiamos o modo de viver dominante, não desmoronamos em nós a subjetividade capitalística; e, assim, nos descobrimos medíocres, vazios e sem sentidos, pobres de espírito e anémicos de coração, sem paixões e sem sonhos, robôs padronizados que longe dos próprios desejos,não conseguem potencializarem a própria alegria, nem afirmar a vida.
Por que negamos nossa singularidade?
Por que não exploramos nossa multiplicidade?
Por que fugimos dos devires e da diferennça?
Lá fora, o sol brilha... Tímido, discreto.
Os romãs frutificaram. O limoeiro cheira, convidativo.
Será que nunca aprenderemos com a vida, deixando-a florir e brilhar, encantar e inovar-se.
Somos únicos, incapazes de uma redução à uma lei geral...
Não somos escravos da falta, nem um teatro maquiavélico reproduzindo o mesmo script.
Somos a potência singularizante do desejo, e a multiplicidade rizomática do dos eus que se conjugam na simplicidade de uma caminhada pelas experimentações do novo.
Podemos devir... Devires.
E em nós dormita a aurora da diferença que haverá de pintar a vida e o horizonte como se os raios do alvorecer fecundassem o chão da Terra e as centelhas da nossa própria pele.
Alguns pássaros, cantam...
Uma borboleta beija uma flor. Êxtase e vida...
Terá a vida auscultado as entranhas deste escrito, ou, tão-somente, como eu rabiscam seus atos profetizando os escritos das estrelas e as garatujas sábias de uma doce criança?!...

2 comentários:

Guilherme disse...

Me impressiono com tua velocidade, é tempo Aion de acontecimentos em agenciamentos.Considero teu Blog como uma clínica nomade e que atualiza as linhas de virtualidades sufocadas pela massa cinza dos modos de produção capitalistica/ edípica, e criam saídas diversas, como dizia deleuze,+ ou - assim "Não importa como responder as questões, mais como sair delas".
Quando o leio sinto seus textos como um "vazamento" sem pudores, sem moralismo, sem fascismo.
E a suavidade de um poeta que faz das palavras vida afectuosa e sinsera, que atravessa e arrasta os corações daqueles que ousam experimentar a diferença como modo de vida.
Um abraço
guilherme elias

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Há um tempo do amor; diferente do relógio... Próximo dos afetos e pronto a vida que se faz libertação e prazer, ternura e carinho.
Não quero a rapidez do cronos; desejo a velocidade do carino, do beijo e do abraço; e da invençao de uma uma idéia nova, de um novo caminho, de uma nova aurora.
Abraços . Jorge