terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ALEGRIA, POTÊNCIA DE VIDA E DEVIR

                                                         Jorge Bichuetti

A humanidade idolatra a tristeza... Nela, depositamos nossa fonte de crescimento e mudança.
Talvez, não excomungamos de nós mesmos o funcionamento derivado da falta, nem nossa milenar culpa e ressentimento, e nem mesmo, nossa vocação a um devir "urubu"...
Na verdade, não é a dor e a infelicidade que fecundam a invenção, a criatividade e o devir.
A crise, sim, é fértil... contudo, identificamos cise e sofrimento, crise e tristeza, pois a negamos na nossa voracidade pela identidade, pela permanência e pela imutabilidade.
A vida sorri... Nos campos floridos, nos riachos transparentes... No ruflar das cachoeiras, no arco-íris e no luar... No pôr-do-sol... Na cantiga dos pássaros, no voo das borboletas... No céu estrelado, na chuva e no orvalho... Na água da praia beijando nossos pés, na rosa perfumada que nos anuncia um novo amor... Na ciranda peralta de uma criança... Na fumaça cheia de sabedoria que dialoga com olhar sereno de um velho...
A vida canta... Na magia dos poetas, no encantamento de uma obra de arte...
A floresta é uma sinfonia de esperança e quietude; a montanha, uma ópera de amor e paixão...
A doçura de um beijo, o calor de um abraço...
Um café quente, um sorvete gelado...
Uma boa prosa... Uma paixão enluarada de prazer e imensidão...
Podemos ser felizes...
Quase sempre não o somos, porque permitimos que a dor e o sofrimento cristalizem em nós u, deserto de desilusão e um abismo de destruição.
Uma pequena dor , se não estivermos atentos, anula toda alegria.
Então, escravos das lágrimas já não caminhamos, nem luamos,  perenizamos nossa desgraça, ainda que para isso, ingratamente, deixemos de ver e viver o esplendor da alegria que clama por nós nas pulsações incessantes da vida que sempre se renova...
O novo, a mudança e os devires podem emergirem, igualmente, da alegria que germina no coração dos que desbravam um novo sorriso no coração do destino.
Escutemos o que nos falam Espinoza:
- "A felicidade não é um prémio da virtude, é a própria virtude."
-e " Sendo todas as outras coisas iguais, o desejo que nasce da alegria é mais forte que o desejo que nasce da tristeza"
Nada é expontâneo. O mesmo Espinoza afirma:  
- "Todo ser é potência e a potencialidade de cada um se desenvolve na relação".
E somos nós que elegemos  muitas das nossas relações. Necessitamos optar pelos bons encontros que nos compõem, nos fortalece e nos enriquece; e, estes, se dão sob o signo das paixões alegres.
As paixões tristes nos decompõem, fragilizam-nos e nos limtam...
Sejamos perseverantes na produção e busca da alegria... Afinal, como assinala Nietzsche:
- "Não é a força mas a constância dos bons resultados que conduz os homens à felicidade."
Ser feliz, então, pede desejo, opção, luta, persistência e paixão...
que as lágrimas inevitáveis do caminho possam, deste modo, agirem tão-somente como motivação para que conectemos nossas corpos com potências alegres e com a construção da felicidade, nossa e de todos.

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