segunda-feira, 4 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: NOSSO MUNDO INTERIOR

                                                 Jorge Bichuetti

Noite alta. Silêncio profundo. O céu turvo... não é triste; mas, nos chama para ver, sentir e encontrar o que andamos cultivando nos jardins do coração. O frio já nos deixa introspectivo. Lá fora, tudo é quietude e graça...
Um cacho de roseira novo chama atenção da Luínha; devagar, maternal, lhe coloco no meio de almofadas e travesseiros... Ela ainda tem muito o que sonhar...
Farei um café, escolherei minhas canções... Assim, será... Café pronto, retomamos nossa caminhada. 
A vida é paradoxos: palavra e silêncio; ação e reflexão; amor e ódio; serenidade e irritação; paz e desassossego; orvalho e ventania... Entre alegrias e tristezas, governamos nosso destino. Podemos dar sentido e rumo à nosso vida.
Vivemos no mundo - natureza-humanidade.. O luar e o pôr-do-sol; as estrelas  e as flores; os pássaros e as verdes matas; o riacho e as cachoeiras; o horizonte e o mar...
Vivemos num universo de poesias, canções, pinturas, esculturas, histórias e caosos...
E vivemos com o outro... Amigos, amores... inimigos, desconhecidos anônimos...
Em tudo, clama a vida que é ternura e amor...
Todavia, para conectar com o fora, não podemos desconhecer nem não tolerar o que somos... o que nossos na nossa intimidade.
Carregamos um universo dentro do peito...
Somos nosso jeito de pensar, mar, dialogar, sonhar...
Somos nossos medos e anseios; somos nossa coragem e ousadia..
Somos nosso auto-imagem e a nossa auto-estima... Nossa história, nossos sonhos..
Precisamos desbravar, habitar, semear flores e estrelas, poesias e cirandas no universo do nosso próprio coração.
Alguns segundos, na calmaria silenciosa e acolhecedora do silêncio, necessitamos ouvir nosso coração... Cuidar dele; niná-lo... Robustecê-lo; colori-lo...
Conhecer-nos... Conhecer nossos pontos vulneráveis; nossos pontos de potência...
Aprender a amar à nossa singularidade; aprender a dar vida à nossa multiplicidade..
O caminho é um perambular por lutas e sonhos...
Ninguém suporta viver sem caminhar. A vida estagna. Posso caminhar atado a um leito, mas preciso caminhar...
E caminhar é reinventar a vida e o mundo: semear, cultivar, colher os frutos da alegria... e cuidar das feridas e cicatrizes que seguem conosco como marcas do caminho.
Quem sabe de seus sonhos, sabe mergulhar no tempo, produzindo o alvorecer da vida transmutada que queremos para a nossa existência.
Assim, caminhamos... Mas, assim, não caminha a humanidade que anda prisioneira no cipoal das ilusões.
Contudo, o silêncio desta noite sem estrelas, é instigante, provocante: temos que descobrir, dar vida e brilho às estrelas que habitam o céu da nossa vida iíntima... Podem,os verdejar e florescer no coração da nossa intimidade...

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