domingo, 24 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: O EN-CANTO DA CAMINHADA...

                                               Jorge Bichuetti

Madrugada de estrelas e luar... Uma singela rosa assinala a vitalidade da roseira amiga; companheira dos momentos de encanto da aurora e das horas de reflexão e leitura do anoitecer.Meu quintal é um ente familiar, da família: participa, opina, resiste, teima, acaricia, me embala... A Luinha acordou comigo, mas ela não se sente animada com a produção do blog: gosta dele pronto. O que ela gosta mesmo é de festa... Penso que seus olhinhos me dizem que deveria ser uma roda... ela ama as rodas com canções, prosas, sonhos... um brilho que emerge nas pessoas quando estas se dão à alegria do encontrar-se.
A vida é uma longa caminhada... Nela, nos descobrimos... Primeiro, é um fascínio pueril; depois, ousamos e passamos a lutar por ser... algo mais. Queremos nos refazer: temos sede de ternura e generosidade. Ai, já não nos sentimos satisfeitos com o nosso egoísmo primevo. Desejamos crescer, amar, brilhar... ser para alguém e para a vida um acorde singelo, porém, presente na vida que se tece ansiosa por ser uma grande sinfonia de amor e paz.
Caminhamos, lutando...
Há um encanto na caminhada... Podemos ser a alegria e a suavidade, a compaixão e a bondade... Podemos ser a valsa e o sapateado flamenco... Podemos ler, escutar, conversar... ter serventia.
Nesta busca que é caminho; necessitamos de cantos encantados que nos vitalizem, nos energizem, nos inspirem... O caminho se dá nos en-cantos da caminhada.
Cantinhos da vida - livros, lugares, canções, pessoas... poesias, encontros...  en-cantos: que nos permitem força e coragem de superar o homem velho e tecer no entre das lutas o homem novo.
Que cantos da vida descobrimos ou criamos que nos fortalecem na empreitada da vida, longa caminhada de crescimento e renovação?...
O ser humano afeta e é afetado... Se só habitamos espinheiros, começamos a banalizar e a achar natural viver , alegrando-se, com a pontaria das nossas alfinetadas...
Porém, se, por exemplo, lemos Cora Coralina, se escutamos uma Cantata de Bach, se cultivamos um jardim de margaridas, rosas e girassóis... Se conversamos sobre a ética do amor, do cuidado e da compaixão... Se dançamos na alegria da roda singela dos amigos que se confraternizam celebrando o cáracter estelar da amizade... Se pensamos a violência numa conversa com Gandhi, Tagore, o Pobrezinho de Assis... Se auscultamos a história e vemos o amor à natureza dos povos indígenas e dos celtas... Ah! se fazemos algo que nos sensibilize e nos enterneça, começamos a pensar, a sentir e a viver, dando vida aos valores que nascem destes cantos encantados do caminho.
Somos seres guiados pela decisão, pela vontade...
Contudo, nossa razão é subserviente e afetada pelo que criamos de convívio... pelo que cultivamos no quintal do nosso coração.
Há anjos e anjos... Há sociopatas e sociopatas...
Os encontros nos afetam, positivo ou negativamente...
Neles, nós colorimos o horizonte existencial que buscamos...
Não intensificaremos nossa capacidade de amar... nem edificaremos nossa coragem de lutar... enchendo nossa vida de futilidade, banalidade, encontros deprimentes e que valorizem a megalomania, a guerra e o desamor, a exclusão e a insensibilidade...
Não creio, com autenticidade e veracidade, que já tenha valores nobres... Os busco... semeando no meu caminho encontros e en-cantos que despertem no meu coração o sonho de amar e ser um "cavalo" da paz... Solidariedade e compaixão, ternura e liberdade são, ainda, valores éticos que florescem nos jardins e quintais onde se cultiva a vida adubando-a com as essências florais do amor incondicional...


4 comentários:

Claudia Sousa disse...

A sincronicidade da vida é algo surpreendente. Ontem estava dançando em círculo, novamente, é claro...rs... E nosso "mote" era justamente o homem novo, anjo, nobre, defensor da vida, servil no sentido mais generoso daquele que se sabe, se sente feito das estrelas, poeira dos céus a cair suavemente e auxiliar na "ampliação" da vida. E aí, querido mestre, leio este texto maravilhoso.
Seus textos, a dança, as amizades me co-movem...
Só discordo da ausência de "valores nobres". A nobreza já está dentro, sempre esteve... Mas sem dúvida que eu, que você, que todos, precisamos fazê-la viva, presente.
Abraços com muita saudade. Espero vê-lo no próximo final de semana.

Gisele Queiroz disse...

Despir-se do que se aprendeu...
Esquecer-se do que foi ensinado...
Desencaixotar as emoções verdadeiras...
Isso exige um estudo profundo,
uma aprendizagem de desaprender.
Uma luta para toda uma vida.
Muita paz pra vc Jorge.
Gisele

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Claudia: como nos encanta na vida ver a fusão da generosidade com um espírito com bativo. Rodas, círculos - fogo. Na fogueira, acendemos a chama da esperança. Abraços, Até o final de semana; jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Gisele - um caminho, uma vida: viver renovando-se no sonho de ser o amor e a vida... Abraços com carinho, jorge