Uma estrela solitária me espia... O orvalho dá um cheiro de mato e o quintal, recanto de encontros, me fascina... Um luar tímido; e a Luínha nada quieta... Atiça os gatos vadios que perambulam na noite incerta... As poesias e as canções ressoam... voltam e me vejo, pensativo. Tenho 32 anos de luta social; já vaguei por muitos caminhos... Na miséria e na exclusão, conheci o sentimento de indignação. Com ele, o sonho da mudança, do novo, da vida humanizada e solidária. Na luta, a rebeldia me descobriu... Sou um rebelde no caminho das lutas e das construções do novo. Aqui, junto da roseira, do romã, do limoeiro e dos altivos álamos, revejo o caminho e nele, me descubro um que sendo multidão, segue, luta, resiste, inventa... Já menos iludido pela magia que colore e vitaliza os anos de juventude, tendo entender o que me faz persistente, insistente, obstinado... Um eco me desnuda: a voz de um homem franzino, digno e corajoso, me define - eu creio da justiça e na esperança... O missionário e poeta Dom Pedro Casaldáliga ecoa dando sentido, potência e vida...
A esperança é o canto do horizonte azul; a poesia encantado do céu estrelado; e a oração laica que como a terra orvalhada contagia com o cheiro de mato que impregna o ar, ela atiça e ativa o devir...e numa miragem surreal desenha no ar as entranhas do porvir.
Nunca cultivei uma esperança passiva e acomodada... Ela é força disruptiva que catalisa a indignação e alimenta a luta... o trabalho diário de buscar no agora o alvorecer.
A sinto, no sol que retorna e clareia...
A percebo, no vento que fecunda no tempo o reviver das flores numa nova primavera.
A escuto,no cantar dos pássaros que verdejam e poetizam a vida com o solfejar singela das cantigas matinais...
Eu creio na esperança... Amiga e companheiro da caminhada, das lutas, dos sonhos...
Ela é a voz, o cheiro, a palavra e os encantos do amanhã que nos potencializam para seguir desbravando na vida o horizonte da utopia.
Ela não é espera...
Ela não é apatia comodista...
Ela não habita as palavras, se as palavras se manifestam divorciadas das ações...
E ela, também, não habita as ações que somente acomodam a vida, suprindo esta ou aquela falta, sem a ousadia de sonhar e lutar por uma nova vida de dignidade e plenitude... do ser humano se realizando na liberdade e na solidariedade que são asas.. onde voamos para pousar nos territórios do amor e da paz.
A desesperança é a alienação da vida que se desconecta com o que pode a vida no pulsar dos sonhos; e, assim, torna-se sustentáculo da tirania, do fatalismo e do niilismo, que fagocitam os luzeiros do porvir e mantém o domínio da escuridão.
Podemos... reinventar a vida e o mundo... Assim, canta e ora os versos silenciosos , mas eloquentes, da esperança...
Continuemos lutando... Com ela, somos "meninos ... passarinhos com vontade de voar"....
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