Quanta Saudade!... saudades de Conceição; de Montevideo, do rio Grande... Saudades de Lú e Maga, irmãs do coração que são mais do que mães... Saudade!... O meu quintal me olhou misericordioso; não sabia que a natureza conhecia o peso que carregamos nas agruras da saudade...
Papagaio no ar; no chão, bola de gude... Corre... Corre... No mato, gabiroba, jenipapo... e as aves livres revoando com sua cantoria... Terra das olarias e diamantes... e como ainda estou lá: meu coração é um diamante esculpido na lama da lagoa, entre rãs, sapos, e minhocas... e o medo das serpentes que nunca apareciam...
Eu queria Mario Benedetti e Jorge Drexler, neste amanhecer...
Amanheci no quintal e o descobri compassivo e compreensivo, tão alheio ao humano ciúme que nos leva a crer que podemos ser o centro do mundo. Oh! tolo narcisismo...
Mas, já velho... não recalcitrei... vivi o que dava o meu quintal... E recebi tanto amor que acabei decidindo que o luar e a última estrela, que os álamos, a roseira, o limoeiro e o romã, os beijos e as desgastadas samambaias queriam conversar ... queriam falar de amor.
A Luinha, logo, pensou que seria sobre ela... falo dela qualquer dia; mas, não, hoje, pensaremos o amor no trivial das dores do caminho.
Sofremos por amar... ou o que nos dói é a ferida narcísica de ser amado pela pessoa elegida?
sofremos pelas perdas... ou porque nas perdas, paramos a vida e deixamos de produzir sonhos e alegria com os que, do nosso lado, estão?
Na traição, nos machuca... a nossa dor... ou a alegria do outro?
O amor é doação, ternura, compaixão, liberdade, cumplicidade,partilha, companheirismo, lealdade e responsabilidade.
Amamos uns... e amamos a humanidade.
E a dor nasce, infelizmente, não do ato ativo de amar... a dor é a lamúria do não ser amado.
Lá fora, uma multidão de vidas fenecem à espera do nosso amor.
Contudo, resistimos: queixamos, lamuriamos, lamentamos...
Não damos oportunidade à vida que nos oferece no caminho o banquete do amor.
Cristalizar o coração no amor impossível é uma mistura de orgulho e egoísmo; narcisismo e onipotência... Um volumoso quantum de irracionalidade.
Amar é abrir-se para o universo; ser amado é a ilusão de aprisionar o universo no nosso cordão-umbilical...
Do ponto de vista, filosófico, que hoje abordamos, a minha angélica Luinha é mestre: poliglota e vadia... Divinamente dada ao borboletear, ao encontrar-se e se dar aos que lhe agraciam com a ternura de um afago.
Amar é brilhar, encantar-se, voar... Não é prisão, nem estagnação...
Amemos... ao próximo, a vida, a natureza... Amemos sem sovinice.
Nunca esquecendo que nos entornos da lâmpada acesa e nos floreios dos jardins, pululam os que voam à procura da luz e do calor do amor...
Quebremos os espelhos e deixemos de sofrer: quebremos os espelhos e amemos o outro, não procurando nele o nosso reflexo... quebremos os espelhos e sigamos, não nos prendendo aos que só amam no outro a sua imagem refletida.
Amemos os que caminham, florescendo...
Amemos os que caminham, se dando...
Amemos os que vivem a poesia do amor, longe da necessidade de fazer sofrer...
Afinal, já cantava o poeta: " mora na filosofia, pra que juntar amor e dor..."
2 comentários:
Olá Jorge,
Mais uma vez me surpreendi ao ler esse texto - esse diário de bordo, que mais parece um texto feito para minha reflexão hoje... refleti, refleti... a elaboração virá. Lindo texto, obrigada por dividi-lo conosco.
Abraços
Elania
Elaina: o diário são diálogos entre um coração na madrugada e a vida orvalhada no sonho da aurora. Abs ternos, jorge
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