terça-feira, 12 de julho de 2011

DIARIO DE BORDO: A VOZ DO SILÊNCIO

                                            Jorge Bichuetti

Madrugada... Silêncio e quietude. Tudo dorme. A brisa acaricia as flores singelas e frágeis dos altivos álamos.
Nenhum pio... No escuro, o céu estrelado nos seduz e mirando-o, calamos... A Luínha respeitosa aninha no meu colo; e contemplo solitário a imensidão... Vou descobrindo pouco-a-pouco as vozes da vida... Os escritos da natureza que não se expressam na semântica gramatical dos idiomas humanos... Falam  diretamente... E a escutamos pela pele.
O ser humano rabiscou a vida, diagramou o tempo e o destino, e, agora, tudo lê na sua parafernália lógica... Assim, encheu mundo de palavras... e se sente angustiado com o silêncio...Lhe tranquiliza pensar e crer que o mundo lhe obedece, servil... mecânico, previsível... um mundo sem desejos, emoções e sonhos...
A natureza pulsa, sente, opina, flui e influi... ela é a guardiã da vida. E dela andamos desconectados...
Como na vida íntima tudo está nos escaninhos da razão resguardado pelo lógica e pelas palavras que foram, gradativamente, divorciando-se das pulsações do coração e das expressões vivas da nossa pele.
Nunca silenciamos... Fazemos tanto barulho, para nunca escutar o que diz e que sente o nosso coração e a nossa pele.
Refletimos, matematicamente... Meditamos, no barulho dos valores preconcebidos...
Nunca silenciamos... e nunca sabemos dos nossos desejos e sonhos. Governamos nossa vida negociando entre a matemática dos interesses pragmáticos e a álgebra dos valores morais preconcebidos, instituídos, dados... Inclusive, valores e interesses que nunca dialogaram com a ética do existir nem com o horizonte da paz e da alegria.
Quando dizemos que vamos pensar, vamos somar-subtrair, multiplicar, dividir... Pensamos, racionalmente, escutando a voz tirânica do cérebro, órgão domesticado pelo imediatismo, pelo espírito de competição e pelo nosso servilismo a uma vida de deveres e obrigações, nunca vida de desejos e sonhos...
Nossas verdades vem de fora para dentro;sendo o fora... a razão e a moral...
Como seríamos distintos se escutássemos o coração e pele que falam no silêncio; e falam de ética, vida, alegria, harmonia, integração, generosidade... enfim, de amor: desejos, sonhos e ética.
Não lemos os sinais da natureza, nem os do nosso corpo...
Assim, quando nos despertamos já estamos no olho de um furação... ou exaustos, angustiados, com depressão, fobia e pânico.
O canto da vida fala eloquente...
Meus álamos me ensinam paciência, resignação, esperança e tolerância... O ventos que lhes refrescam o corpo, lhes roubam as folhar secas... e sábios, confiam, esperando o verdejar.
Minha rosas perfumam...e altruístas se reconhecem plenas e alegres... os homens passam, os pássaros também... contudo, elas se sabem eternizadas no perfume que os enternecerão pelo caminho dos novos voos.
O sol me afaga.... e me conta da multidão dos que por ele são alimentados; me ensinam que são filhos da Mãe Terra, meus irmãos.
Os pássaros cantam e passam...vão corroendo meu ciúme: eles cantam a alegria que mora no coração da liberdade.
Outro dia, briguei... com as ervas daninhas que cresciam num canto do quintal... Tive raiva, cólera, ira... Machucam minha pequena Lua. Depois, de certo tempo, vi aquele chão árido, renovado; novamente, fértil...  Guardei comigo a lição.
E, hoje, quando um novo dia começa... Dialogando com as estrelas, as ouvi... magas do infinito, nada me falaram de extraordinário, somente, me pediram: escuta, amigo, o teu próprio coração!...


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