quarta-feira, 6 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: NO ENTRE, O AMOR...

                                                   Jorge Bichuetti

O sol nasceu, tímido; porém, retornou luminoso... As nuvens o turvam... não elas não o turvam, elas se colocam entre ele e o nosso olhar.O céu azul, com nuvens brancas, rosas e liláses... se revela  um painel de serenidade e ternura. Os álamos sentem o brilho do sol... Já a roseira a vejo louca por ser vista na sua florescência nova: cachos e cachos, um perfume inebriante, uma presença pacificadora. A Luínha já está nos folguedos da sua vida de travessuras, cheia de si, quer o mundo.
Escrevo com  a alegria de prosear no aconchego da aurora... Novo dia, vida remoçada.
Todos demoramos a nos despojar da tralha que trazemos do ontem. Mágoas, ressentimentos, irritação, limites, frustrações - as emoções e vivências negativas tendem a grudar na nossa pele.
Se a deixamos incrustadas nas nossas feridas e cicatrizes, continuamos a viver; porém, um novo dia não começa...
As tristezas circulam no ar... Como nuvens que turvam o nosso olhar, não logrando, contudo, apagar o brilho do sol.
Como é difícil introjetar e manter o brilho do sol dentro de nós!...
As nuvens são fugazes e passageiras, voláteis... todavia, nós as cristalizamos no céu da nossa alma e as reificamos, melancólicos e apáticos...
Tudo passa... Menos o amor.
O amor é força vital que energiza e movimenta a vida.
Todos exclamam e manifestam seu desejo de amar...
Todos exprimem sua corrosiva carência...
Poucos amam... Ou melhor, poucos vivenciam os encontros numa postura ativa de ativar, atiçar, intensificar no entre o amor...
O amor não é uma dádiva, nem uma mercadoria... Ele acontece e acontece no entre dos encontros.
Se o outro é um invisível para o nosso coração, nos contactamos, mas não vivenciamos um encontro amoroso.
Permanecemos despovoados, solitários e carentes...
Olhar que não vê para além das nuvens... é olhar que não enxerga as pulsações da vida que fala, canta, clama na pele e no coração do outro.
Para que num encontro ocorra um entre fértil e fecundo para a emergência do amor, precisamos de presentificar nosso corpo num gesto, num olhar, num escutar, num ver e sentir, num prosear marcado pela ternura, pela compaixão, pela generosidade, pelo carinho, pela fraternidade... E para que outro se presentifique, urge escutá-lo, vê-lo, senti-lo com os olhos do coração... é necessário deixar nossa pele ser afetada pelo outro, vida de história, caminho e sonhos...
Precisamos, assim, fugir da vida líquida e dar solidez aos nossos encontros com o outro, com a natureza e com a própria vida.
Neste sentido, reafirmamos para que possamos redimensionar o nosso dia e a nossa vida: o amor floresce nos en-cantos da solidariedade.

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