Jorge Bichuetti
Para Bion, os coletivos caminham do narcisismo para o social(ismo)... Uma sociabilidade solidária. Um existir para além da volúpia e da ganância do ego. Um caminhar de partilhar. Plenitude do amar que se fertiliza na doação, nas trocas, no ser para o outro um devir Simeão.
... Um Devir Simeão - a generosidade anônima do camponês que sustentou o Cristo no calvário nos momentos das quedas e por ele carregou a cruz... emprestando-lhe os próprios ombros.
Muito da infelicidade, das tristezas e das dores do mundo nascem do narcisismo. Egos hipertrofiados que vorazmente querem receber e conquistar; porém, competem, sugam, sangram e eternamente carentes sempre querem algo mais... algo lhes falta. Raramente, doam e quase nunca, se doam...
Se estão com alguém fomentam vínculos parasitários, dependentes, de dominação e simbiose.
São vidas em permanente retração...
A solidariedade é a vida num intenso e fértil movimento de expansão. Conexões vitalizantes.
O capitalismo se centra no individualismo... Assim, gera solidão, exclusão e violência.
As relações não solidárias são horizontais, quando uniformizantes , e verticais, quanto de dominação e subordinação. Vida contra a vida... Vidas que se atravessam, suprimindo a beleza e a grandeza do singular... da diversidade.. dos desejos e sonhos.
A solidariedade ativa e viva é rede de relações transversais: libertárias, com voz e expressão para o outro na sua singularidade.
O amor sem solidariedade é uma falácia, uma simulação, é amor líquido, sem solidez...
Amor é doação, partilha, vínculo, generosidade, alegria, cumplicidade, ternura, sensualidade, carinho e amizade...
Todos somos chamados pela vida para um novo despertar...
Antes seguíamos códigos repressivos e normativos... Agora, a lágrima que cai, a ferida que sangue, a angústia que enlouquece... a dor do outro e da dor da vida gritam, rogam, imploram o nosso despertar para ser no caminho humanidade remoçada na arte de amar,dando-se... servindo... auxiliando... desenhando o novo na superação da competição pela cooperação. Nascente da solidariedade: rio de águas cristalinas que caminha para os braços e abraços do mar, amor universal....
Eis a potência revolucionária da solidariedade: revolução no modo de vida, na ética, na política e no conviver da vida que larga o casulo do narcisismo e voa, com as asas da solidariedade, para um socius de generosidade e ternura, amor e partilha. Vidas partilhadas nos caminhos da libertação.
O mundo se renova, transforma-se... e nós ainda lucramos: crescemos num existir em expansão; perdemos a vulnerabilidade da vida que se isola no corpo individual, passando a possuir a força da potência da vida coletiva.
O outro sou eu...
Eu sou humanidade...
Minha humanidade é amor em ação...
Eis as mudanças que nos darão novos sentidos, um horizonte azul... Um estar aqui em conexão com a imensidão.
Tecer redes...
Arquitetar encontros...
Experenciar a vida no caminho do amor...
Eis as tarefas que nos fecundarão com os ventos da liberdade. A liberdade de viver, não suprimindo nossa natureza, que é germe e germinação do amor...
Assim, nos en-cantos da solidariedade redescobriremos a capacidade de ser feliz. O resto é silêncio...
4 comentários:
Não há pernas que nos levem muito longe quando não somos capazes de estender a mão, meu amigo.
Belo texto!
Um abraço!
Que seu fim de semana seja de paz!
Wilson
Sabes Jorge o que eu penso sobre o amar e doar-se, mas as vezes é tão difícil!!!!
Êta vida complicada :-(
beijão
Anne
Wilson, uma mão, mãos... vida em expansão... TERNURA: novos horizontes. Abraços ternos, jorge
Anne, passar e seguir nos alivia, porém, há de se encantar com o horizonte. Abraços ternos. jorge
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