Fragmentos..............
Paulo Cecílio
.................................................talvez tenha sido o café muito forte ou o escuro do estômago mas os dedos estão frios e finalmente os olhos se dão o direito de navegar um instante na água salgada
Os olhos quando ficam assim são o sinal mais familiar de que a angustia vai ceder um tiquinho...
lá deve estar se deu sorte seu tiburcio com a mão no queixo olhando aquele filho lindo sendo comido pelos espasmos do tétano dona maria rezando atras da santa sem encontrar : bastaria um espelho e ela veria os olhos de deus mastigarem sua pele queimada de cinzas do fogão de lenha onde habitaram as esperanças dos moleques esfomeados que lambiam barro perto da bica ao som daquela água sonhando com sexo tântrico talvez melhor seria rir com o serafim jumento desesperado no curralito arrastando o urro e seu pau imenso no barro donde deus tirou a costela que Eva botou pra cozinhar e fingir que é mistura pros guriS enganados sorrirem enquanto este inverno longo não passa mas como é longo este inverno parece a fieira de bois como indianos no paiol tem palha de milho seca e carrapato barbeiro na fenda de espiar gemura de amor em meio do nada
quantas palavras terá dito tiburcio em sua jornada? poucas penso amassado como papel crepom nos cantos da face que não se ajeita nem quando sorri e denuncia a estupidez das agendas nobres do doutor encardidas de sebo nestes papeis se assina a sina o destino se decidem os kilos os sonhos as noites em que restarão forças para camila ferver suas veias que mastigam banguelas meu membro desesperado
Tiburcio terá dito poucas palavras silabas mesmo saíram do aço branco da foice do armazém da esquina tinindo em aroeiras proibidas vermelhas como menstruação
Mas no armazém da esquina ai estão todos os segredos do relógio dos mundos que se prenunciam porteiras velhas jatobás paineiras frieiras caminhões velhos com lona encerada cobrindo imensas pretas gordas que vão girar gigantescas colheres de imbuia dentro do leite grosso nos dias de festa sabe lá o que se comemora.......................
FRAGMENTOS: MAIS PEDAÇOS
Paulo Cecílio
.............as negras farão doces e carnes com cheiro de fumaça espantando borrachudos medos mentiras trarão a esperança intima de que afastamos a mão do carrasco...
comemora-se talvez o medo atávico da solidão da existência da escuridão que ninguém diz e que nos cola a alma como sombra gelada os pés muitas vezes querem correr repentinamente à lugar nenhum comemora-se para que o roçar quente de outra pele confirme nossa carne....
estamos aqui décadas depois testemunhas do futuro que nos engolirá viajantes de carroças e aviões tresloucados que rasgam o tempo como se pudessem no duro de seu nariz metálico ir tão rápido que ela ficasse para traz a sombra gelada muda que ninguém fala somos todos filhos da angústia e por isto comemoramos berramos como bodes velhos bocas tremulas de desespero risadas cômicas azuis como o sangue sem oxigênio do garrote asssassinado
urge um deus que cancele a sentença definitiva impagável que calada cada um traz no bolso da calça sob o chapéu nas carruagens trepidantes na cicatriz do umbigo
urge acender fogueiras soltar rojões engolir quentões que anestesiam nossa incompreensível existência emudecer definitivamente esquecer cercas mesas entalhadas cópulas não consumadas esquecer o esquecimento abandonar a língua fria do azedo tamarindo deixar as frutas apodrecerem indolentes impessoais que no chão reproduzem nesta terra outras frutas nesta dança insuportável diante de nossa inacreditável finitude
temos a barriga cheia de carnes e doces do dia que comemoramos agora é bosta feia de se dizer feia de se carregar incômodo reis generais pomposos se contorcem diante deste dano colateral: a bosta depois da farra e finalmente o juiz bate o martelo que se cumpra agora o deserto eterno nesta hora pior que merda imploram alguns a última refeição o ultimo prato quente na negação pura do bicho negro que espreita calado o próprio silêncio........... ............
FRAGMENTOS......
Paulo Cecílio
...........................não que inexista beleza na finitude o tempo medido ecoa muitas vezes no alívio do perdão definitivo quando a dor arranha fundo quando gargalha sem fim nos lembra a justiça intrigante que finalmente abate cega todas as sensações....................................
a fruta podre de madura no chão está no lugar perfeito e ninguém se detém para observar seu dissolver ao sol o que machuca é ver uma florada levitar diante da ventania inesperada que desloca manguinhas verdes do alto de seu acolhimento ao impacto duro do chão....................
fruta verde caída invoca promessas que jamais cumpriremos brisas que se perderão anônimas..........
nega, nega calada a carne doce-madura agora inviável a pêra verde no chão machuca a estética da morte: sequer a desejam as bocas tesas dos ruminantes....................................................
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