quarta-feira, 7 de novembro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: NA DANÇA DAS NUVENS

                                      Jorge Bichuetti

Tempo nublado; silêncio na madrugada... A Luinha me ensina que a tristeza vista no imediatismo do meu coração é falsa...
Acostumamos a idolatrar os dias ensolarados... e, de fato, são belos e bela é a vida na possibilidade de agir, andar, encontrar amigos e companheiros; contudo, a quietude dos dias nublados revela-nos os limites do nosso modo estar no mundo...
Vivemos acelerados, falamos e agimos preenchendo a vida para que esta não tenha nenhum vazio...
Compramos, vendemos...  Nos mostramos, olhamos a estamparia do mundo... O tempo é tempo ocupado...
Assim, nos dias nublados tendemos a ficar melancólicos... Qual será o nosso medo?
Penso que temos medo de nos encontrarmos... De ver desnudados sonhos reprimidos, fragilidades camufladas...
Ninguém cresce longe do próprio coração...
Urge ousadia e coragem para viver o tempo livre, desbravando nosso próprio mundo desabitado...
Pensar, cochilar... ler um poema, ouvir uma canção... O ócio é criativo. Ele pode não ser utilitário para a lógica do mercado e do espetáculo... mas o é para que cuidemos de nós...
Robóticos, não brincamos...
Utilitaristas, não sonhamos...
Só conhecemos o que pode a força bruta... pouco sabemos do que pode o corpo no bailado das nuvens, vivenciando as potências da ternura e da suavidade...
Antes escreviamos longas cartas; hoje, trocamos pequenas mensagens previamente codificadas no reducionismo de calar a força das palavras e de, ruidosamente, evitar as lições do silêncio...
Não fujamos da dança das nuvens...
Tempo livre... é tempo de mar e brincar, dar-se a preguiça e dar-se aos voos da vida sonhada...
Todos, nos dias atuais, sabem os dados que nos identificam socialmente... poucos, e muitas vezes nós próprios, desconhecemos o que somos nas batidas melodiosas do nosso coração... Nele, mora nossa história... e nosso eu adiado.


Um comentário:

Anônimo disse...

"ninguém cresce longe do próprio coração"...bela reflexão.Como nos distanciamos dele...e ele está lá pulsando e nos mantendo vivos. Muitas vezes vivos pela metade.