terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

DIÁRIO DE BORDO : NOSSA TRIBO

NÍDIA MODESTO
jorge bichuetti


   Estamos tristes e solitários...
   Deleuze dizia que " somos todos desertos , povoados de tribos, faunas e floras."
   Agora, estamos com a nossa tribo sentindo a dor da partida de uma terna amiga e de uma destemida guerreira.
   A Saúde Pública e a Luta Antimanicomial se vê, hoje, sob o peso da partida de quem tanto fez, lutou e sonhou, realizou...
   Nídia Modesto partiu... Sua morte é dor e lamento para nós, seus amigos; e para a psicologia e a saúde coletiva, um terrível vazio...
   Num tempo de poucos guerreiros, quando falta criatividade e coragem, ousadia e perseverança, sofremos a partida da pessoa meiga e sensível, sempre cúmplice dos projetos de vanguarda que tratavam de materializar o direito à saúde.
   ... O céu ganha uma estrela... Ela e seu devir ternura e generosidade, amizade e liberdade
   Prossigamos... honrando seu legado.
   Na dor, perguntemos:
   - O SUS permanecerá no campo dos sonhos?
   - A Reforma Psiquiátrica viverá no campo dos discursos?
   - Enfim, quando se materializará a radicalidade da constituição que não tergiversa, garante a todos o direito à saude? 
   As lágrimas são férteis...
   Cada perda, nos deve acordar e diante da realidade sofrida do nosso povo, ainda excluído e na miséria, intensificar em nós o desejo de caminhar, lutando pela concretização dos sonhos.
   E para ela a amiga que parte, lhe entregamos a suavidade de Cecília Meireles:


"No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta."



 

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