terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

POESIAS : UTOPIAS AMOROSAS


                                                                     MEU FILHO

                                                                         JORGE BICHUETTI


Contente, caminha entre flores e frutos,
pássaros e estrelas...
Sonha, alegre; fazendo festa,
macaquices, cocoricós,
e , atento, olha as nuvens que voam
junto a pipa colorida;
enquanto, eu canto
ninando seu coração.

Caminhante, vai
pelas ruas, pelos bosques...
Joga bola
lançando o pó da Terra
nos olhos do Céu;
e recolhe conchas na praia
que se tornam ladrilhos
de um castelo de areia
onde vivem meus sonhos
de velho ferido
pelos foguetes da ilusão...

Meu filho é quase um deus...

Meu pequeno é um curió
que embalo nos meus braços...
Ele fala medroso
de diabos, bruxas e fadas,
piratas e serpentes.
Depois, é somente coragem, é índio, homem voador...
De sua frauda faz um abrigo
para os seus vôos de guerreiro
que um dia juntos haveremos de dar...

Uma coisa, contudo, me entristece,
me retalha a alma;
é que meu filho amado
se esqueceu de nascer...

Assim, meu corpo é um berço vazio,
chorando de solidão,
todavia sempre esperando ver
a porta se abrir, para meu filho chegar
e adormecer nos meus braços, me fazendo despertar

 
FANTASIA NOTURNA
            jorge bichuetti


É tarde,
o sol há de chegar.
Embora, longe,
eu hei de te encontrar.

Amar, amar!...
Encarno esta loucura
de viver por desejar-te.

Neste minuto, penso.
... Mas já não tento ser
a estrela
do teu louco perambular.
                                                                        

                                                         SONETO DA SAUDADE

                                                                     jorge bichuetti

Um fantasma me assombra e seduz. Recordando,
sinto-me povoado, envolvido em lembranças
que voltam do passado ardendo.É um bando
de fatos, fotos... São águas claras e mansas

inundando meu ser. Na tristeza, são crianças
lamuriando a ciranda existencial: um mando
da alma alucinada, indagante: desando?
Como podes estar longe, se és o elo, as tranças

com que teço o meu destino, a própria estrada?...
Sinto-te... Dói, porém, demais a tua ausência.
Não te esqueço.... Mas pesa a vida já passada,

e, então, delírio, sem lógica ou tenência;
contigo,canto... falo e numa língua orada,
grito: ao amor, um tempo; um ato de clemência!


 
 
                                                              DECLARAÇÃO TARDIA

                                                                         jorge bichuetti


Teu corpo de aço é estátua. De prazer...
A mão de Deus te fez, assim, anjo-profano.
Então, és: belo, céu no humano viver.
Um querubim terçando um, todo amor insano.

No amor? Bailas... Magia e fé, ritual e festas.
Na estrada? Gingas... Luz e ternura sensual...
Se tens contigo o fogo e o ardor, os emprestas
e o roçar carnal faz-se viagem sideral.

Aquietei-me nos teus braços e protegido,
sonhei... Mas foste. Eu, então, entorpecido,
ora vejo teus pés no chão, ora no ar...

Afônico, sussurro e verso meu lamento;
pois, pra mim, nem o oco do esquecimento
tornou sombrio o meu desejo de te abraçar.


                                                       AMOR DE FOLHETIM

                                                                  jorge bichuetti


Nossos olhares vertem, gota a gota,
versículos de um drama inesgotável.
Escrito na epiderme ainda brota
uma flor, u’espinho... barco navegável.

Persisto oculto, preso. a lua marota
desenha vultos. Vultos do intocável...
Os fantasmas espreitam a garota
e os meus pelos deliram o insonhável.

A paixão dilacera. Tal estorno
mostra a flor-de-papel em rude adorno;
porém, o coração contemplativo

nela encontra sentido e euforia,
e embalsamando o ideal de simetria,
acomoda-se num elo abortivo.

                                                                   MEU FILHO
                                                                       jorge bichuetti

Se ele corre nos vales, se balança
nos galhos de um frondoso arvoredo;
se ele... sorri travesso, sendo a criança
alegre- minh’ave-Deus , eu me concedo

o direito de ser feliz. Descansa,
então, meu desespero e no folguedo,
cirando nu’a total aventurança.
Torna-se a vida leve, um brinquedo.

Ó Deus, onde estará? Há quanto lido,
procurando meu filho, que de mim
se perdeu, antes mesmo de nascido...

Ó Deus, encontrarei ser tão amado,
alguém capaz de dar ao tédio um fim?
Ou sempre será ele um sonho aluado?

2 comentários:

Anônimo disse...

Querido Tio Jorge, tenho entrado sempre aqui pra ver as novidades! Gostei muito do seu blog, são tantas coisas pra ler, pra ver, as ilustrações são tão lindas, mágicas, e os conteúdos fascinantes! Você escreve muito bem, eu sempre soube disso e escreve com o coração, a alma, o que o torna encantador. Parabéns! beijão, Lála

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

o blog, Lála, é para aproximar, e criar um jeito de viajar pelo mundo da arte e das idéias, liberando nossa vida do tédio da rotina. Muitas poesias foram feitas, ali entre as sambaias da vovó, com saudades do rio Grande e vontade de sempre estar junto de vocês. beijos jorge