domingo, 14 de fevereiro de 2010

poesias: entre o melancólico e o novo dia

MEUS PÉS

                                                                                       jorge bichuetti

Cansados. Calosos. Dolorosos...
Caminham. Clamam. Rumo? Querem companhia.
Sangram. Pedras? Espinhos? Eles suportam...
Neles, a poeira gruda.
Escuro no escuro, teimosos, eles vão...
Indo, sentem. A estrada não pesa,
sentem o peso de irem
... sem terem os teus pés para brincar.

Meus pés caminham por vingança ou pura ousadia,
eles querem e vão, nas nuvens sapatear...

 
SAUDADES DO CAMPO

                                                                             jorge bichuetti
De novo, o olhar inquieto; mãos trêmulas, coração palpitante...
O mundo gira; homens formigam no centro da cidade...
De novo, enfrento o desafio inclemente do tempo
que orquestra a vida, pautando os seus momentos.
Hora de decisão...
A cidade dança robotizada, o campo sonha perfumado...
Num, a labuta... Noutro, a meditação...
Volto... e deixo distante o campo e suas emoções...
Talvez, viver, este urbano viver,
fosse mais fácil, se do campo comigo viesse
a força do alazão,
o canto da cigarra,
a liberdade dos pardais
e o cheiro forte de terra molhada,
docemente orvalhada de pulsões naturais...
Talvez? Sim, talvez...
Pois, o cheiro da fumaça, da gasolina e das lixeiras,
dominam-me, anestesiando,
num torpor inebriante de tédio e solidão.

                                                                      MEU FARDO
jorge bichuetti

No espelho noto o meu rosto amarelado
de tristeza e desânimo. Meus traços
delineados, parecem gado atado
numa prisão, gaiola de mil laços.

Mesmo, assim, vou... Eu não prendo os meus passos.
Errante, vou... Seguindo, Só de lado.
Nunca me retalhando. Sou pedaços
do fardo vitorioso e enviesado

do pecado. Confesso... Quase louco
percebo no infinito o tão, tão pouco
me mantenho real... Vivo visões

que me apura, depura; libertando
o meu querer. Assim, passo, voando
como quem ao bailar beija os salões.

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