terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

MÚSICA E CLÍNICA DO DEVIR

DEVIR CAZUZA: VAMOS PEDIR PIEDADE?...
jorge bichuetti



A clínica lida com o sofrimento humano. E o terapeuta corre um risco: pessoalizar toda dor, desconhecendo que a vida existe num mundo concreto.
Vivemos numa sociedade de controle.
Assim, comumente, diante da clínica se vê na lágrima do usuário a opressão, a pessoa humana amargando uma injusta situação de, de fato, estar excluída.
E principalmente carregando por cruz preconceitos, agressões, violências oriundas do sistema.
Vítimas, sofrem. Mas são vítimas do poder dominante que se manifesta na culpa, na piada de esquina, e no seu existir, cerceado, vigiado e desumanamente criticado.
São ritornelos sociais que nos fabricam cópias submissas e que nos fazem sentir desvalia quando em nós emerge algo de singular, diferente.

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Cazuza - o poeta do devir - analisou e é, em si, um analisador do nosso tempo. ''Meu par na contramão'', com suas '' mil rosas roubadas'' tem sido fonte de leituras e intervenções que vem tornando rica a minha experiência de desmontar os registros e controles que evitam o homem devir-se livre.
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Sessão melancólica. Escuto. Um jovem fala: vinte anos, HIV +, homossexual... Conta o sermão do pai, o afastamento dos irmãos. Lacrimejando diz que desde o dia fatídico do exame positivo, vivia isolado. Só...
Conta, então: uma piada, os risinhos dos colegas de trabalho.
Decido intervir. Mas a minha condição de cidadão não me permite interpretar. Recolho no coração uma ressonância musical e canto: '' Agora eu vou cantar pros miseráveis/ que vagam pelo mundo derrotados/ pra essas sementes mal plantadas/ que já crescem com a cara de abortadas... Vamos pedir piedade / Senhor, piedade/ pra essa gente careta e covarde...''
Cantei a música toda. Ele encolhido, ouvia... E depois dialogamos muito.
Sobre valores, direitos. Sobre vida.
E ele expontaneamente disse: às vezes, nos dizem menos, morto, indigno e sem lutar, aceitamos...
Ele saiu. Eu fiquei...
Na penumbra do consultório, holofotes, arco-íris, borboletas cantavam ainda: Ideologia/ eu quero uma pra viver.
Doutra vez, perante o sofrimento de um desempregado, arrisquei-me: ''Brasil, mostra a tua cara/ quero ver quem paga / pra gente ficar assim...''
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Cazuza : A clínica do devir lhe é devedora.
Ousaste. Foste um sonho vivo.
Agora, temos a tua música sempe que necessitamos de acordes capazes de urrarem
ensurdecendo a opressão imbecil e de acordes que como um beija-flor, aceite o sol e encalorado deseje o mel e a delícia.

"EU QUERO A SORTE DE UM AMOR TRANQUILO.."

Um comentário:

Anônimo disse...

Não tenho muito a dizer.Não acredito em opção sexual.Ou será que o boi lá da fazenda escolheu ser homossexual?
Segure a vida como se tivesse uma âncora de toneladas. Lance e mesmo assim o barco leva todos aos seus destinos.Não se deixe engolir pelos seus hormônios indecentes, cheios de pegadinhas inacreditáveis e autônomas.E por outro lado, uma pedra no caminho.....e tibum lá vamos nós, todos nós.Viva a compaixão recíproca.De