segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

POESIA: AS ASAS DE SAMPA

                           PEQUENA HOMENAGEM POÉTICA AO ANIVERSÁRIO DA CIDADE DE SÃO PAULO

                  PAULI-CEIA: UMA UTOPIA NO AR
                                             Jorge Bichueti

Como seria São Paulo,
se esta velha senhora,
pudesse voltar de novo
aos seus dias de criança?!...
uma criança travessa
que, para além da fuligem,
enxergasse no horizonte
as aves da esperança,
voando na amplidão
do seu céu,
na vastidão dos seus véus.

Uma nova cidade...
No hoje, um novo tempo,
feito de amor e saudade,
nesta terra cujo povo
já se chamou liberdade.


                 TROVAS
                        Jorge Bichuetti

Quero São Paulo liberta
dos fantasmas da opressão;
uma cidade coberta
de estrelas, luar e paixão...
              ***
Dizem que a Cracolândia
é, de São Paulo, a escória;
não é a voz do Tietê:
u'áz do lixo sem memória.
              ***
Frei Beto, anjo menino,
vida guerreira na fé...
Luta... o amor é seu hino;
liberdade, seu axé...
               ***
Corinthians, por ti, sou louco
de uma paixão com ardor.
contigo, nada é pouco;
teu gol, u'ato de louvor.

                                    DE NOVO, SÃO PAULO
                                                Jorge Bichuetti

Chaminé. Fumaça. Cinzas
no ar e no olhar...
Trovoadas de buzinas e sirenes,
relâmpagos de fhashs e neón....
Tanta dor a apitar...

A velha garoa
já não cai mansa,
se confunde com tempestade,
e, agora, toda tarde,
perfura o barro
de um pútrida inundação.

Um menino na rua fuma a morte,
é a fome driblando a vida
do crack que erra o gol...
E as moças da avenida,
deusas do riso e do prazer,
choram, no escuro do medo,
as uzes que se apagaram
no tiro alvo do adeus...

Já não há abre alas,
rosas de ouro ou de prata,
nem mesmo na ponte
ou na lata, se ouve
uma voz venturosa
com a cantiga saudosa
da sua doce maloca.

No alto, arranha-céus;
no asfalto, a lágrima vertida
que não é prece escrita
na areia,
nem é um canto de bordel,
que na magia da fé,
já foi templo-oração...

No asfalto,uma lágrima vertida,
que sangra na solidão,
sem um rap sapateado
na rebeldia
de uma revolução...

Anchieta, Tarsila e Andrade...
Boêmia e fé, paixão e flores
da paulicéia alegre
das ruas e dos cafezais...
São Paulo, linda nostalgia,
ninguém irá lhe roubar
seu pasado de alma errante,
sua vida andarilha,
sua insurgência armada
de lutas, sonhos e canções
que os deuses soube escutar...

Volte, São Paulo... Renasça..
todo o país espera
seu destino de farol,
suas andanças na folia.
todo o o Brasil espera
a terra de um povo-sonho
de Quixotes, Lamarcas e Marighellas,
de operários e poetas,
estudantes e mendigos
que no imaginário encarnam
a doce e terna utopia
de uma aurora-com-paixão...

Negue, são Paulo.. Negue...
os dinosauros de concreto
que são úteros de pedra
onde se escondem os homens,
robôticos e vegetativos,
de cálculos matemáticos
e de espírito fabricado no site da solidão.

Para eles, paulicéia, a flor
                               as palmeiras
                               o curió
                               e cachoeira,
não passam de delírios... de sonhos quixotescos
da São Paulo altaneira
que o cinza a deseja morta,
longe do canto de liberdade,
do canto de uma cidade
onde, de novo, a alegria,
fará da ternura e da vida
sua força-ousadia,
seu caminho-oração.

PINTURAS DE TARSILA DE AMARAL

2 comentários:

Paulo Lacerda disse...

Querido amigo!

Ao conclamar uma cidade renovada, reforça os cantos de uma proposição não só política, mas de reconquista de vida e autonomia para uma cidade tão apaixonante. O recanto dos homens metropolitanos, dos excluidos paulistanos, do engravatado e daquele que se enforca em meio a solidão sufocante. Do que não encontra amor em meio às rochas tão belamente esculpidas em meio ao neon. A cidade pede, tal qual intrincado sistema orgânico um pouco mais de vida e ternura, força e postura, diante do ato de ser cidadão paulistano!
Obrigado pelo ósculo de tão bela poesia Jorge!

Abraços do amigo Paulo André

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Paulo, meu querido amigo, suas palavras me levam ao céu:
primeiro, por sua crítica positiva, sou humano, e um pouquinho de vaidade cabe; segundo, pela descoberta que temos muita coisa em comum, então, me parece que podemos desejar e sonhar com grande caminhadas de sonhos e partilhas.
Lhe quero com paixão,
admiração e poquieto de tirtagem.
Abraços, abraços com ternura.
Jorge