sábado, 30 de abril de 2011

DIÁRIO DE BORDO: ENTRE PEDRAS, O CAMINHO...

                                                Jorge Bichuetti

Os sinos badalaram, os pássaros cantaram... Ainda, assim, o corpo dizia que era muito cedo; madrugada. O inverno aproxima-se e dá desejos estranhos: cama, cobertores, chá quente, aconchego e sonhos... Levanto e na minha frente os álamos erguem para o céu, não estão encolhidos... Resistem, sonham... A pequena Lua aninha nos meus , esquenta-se e acalenta-me...
Entre pedras, o caminho... No caminho, os sonhos...
A vida se dá nos sonhos do caminho que resistem, superam, escalam, detonam as pedras...
Os sonhos removem pedras e movem moinhos.
Serão os sonhos uma instintiva faculdade psíquica, uma atitude política ou uma arte?...
Ou serão eles o próprio pulsar da vida que no caminho tece desejos e aspirações, encantada com a linha do horizonte?... Ou uma rebelião do tempo que impaciente deseja realizar no hoje o amanhã?...
Eles são a seiva do existir, do persistir, do investir, das ousadas e teimosas transformações.
O cinzento é a supressão dos sonhos do dia-a-dia.
Sem sonhos, a vida perde sabor e tempero; vira vidinha... medíocre existência, nublada desistência.
Me vejo, aqui, este frio e este vento gelado; contudo, bastou lembrar-se que tenho sonhos e sinto minha alma desperta, calorosa, pulsante, saltitante, existente.
Quero viver, quero caminhar.. entre pedras, desejo semear no hoje o amanhã e viver nas veredas da utopia a luta... a luta por novos horizontes de alegria e liberdade, justiça e paz, esperança e solidariedade, ternura e paixão.
Muito do que vemos e conhecemos como doença, desânimo, depressão, angústia, fobia  e desvitalização corporal é a fragilidade da vida que se retrai, inibe-se e decompõe-se longe da seiva vitalizante e energizante dos
sonhos.
Para se viver e sobreviver necessitamos de produzir um, muitos sentidos.
O sentido dado para vida no turbilhão do consumismo e no buraco negro do individualismo não é forte, autosustentável, e persistente.. se esgota, esvazia-se. Perde o sentido... Desmaiamos com ele, vegetativos.
Um canto de esperança... Um encanto na utopia... compõem um devir guerreiro e uma vida-corpo  que nos alimentam e nos mobilizam numa existência que perambula pelas pedras do caminho alentadas e revigoradas pelos fluxos energizantes e vitalizantes do devir e do porvir.
Sonhar, assim, nos parece o emergente que requalifica a vida.
Para o pragmatismo e o negativismo fatalista é vida evitada na ilusão; todavia, basta um olhar sobre a vida dos que sonhos e imediatamente reconhecemos que o sonhar possibilita-nos existir numa vida em expansão, vida reencantada na magia da estrela da manhã.

4 comentários:

Tânia Marques disse...

A nossa garra, o nosso estradear está acima de qualquer obstáculo. Não podemos perder a crença na luta nem as nossas forças, pois elas são a nossa existência. Somos imprescindíveis, porque não vivemos no vazio. Se às vezes sentimo-nos no caos é só para termos um motivo que nos impulsione a elaboração de novos devires. Beijos em nossas utopias.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, somos filhos dos nossos próprios sonhos; eles nos conduzem e nos dão coragem e oudadia de viver sempre semeeando as luzes do alvorecer.
Abraços com carinho, jorge

augustacarlos disse...

O frio me remete a fogão de lenha, chá de alfavaca com biscoito de polvilho....aconchego,proximidade.

Jorge sua essência é sonhadora, e quando se é sonhador as pessoas nos chamam de "loucos", futuristras, pessoas sem os pés no chão. Mas são os visionários é que nos premiam com os mais incríveis feitos. Sonhemos, sonhemos e levantemos voo nas asas da liberdade solidária, da cumplicidade dos sonhos compartidos e as realizações virão.
Não é maravilhoso sonhar juntos??!!!

Abraços

Augusta

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Augusta, agora, pela manhã, retorno a normalidade; vida de sonhos cheia de gente, o povo do curso, alguns nossos amigos da Upop. Sinto que sem os sonhos e sem as parcerias de caminho não teria sentidoa minha vida, vamos sonhar e lutar, desbravar horizontes... Assim, um dia, olharemos pra Lua com a certeza de termos vivido e doado o bastante.
Abraços com carinho, Jorge