POESIA: UM FILOSOFAR MENINO...

                                            NOSSAS FOLHAS SECAS
                                                                   Jorge Bichuetti

Caminho nos becos
estreitos da vida
estonteante, vou
ziguezagueando
nas linhas dadas
pelo rude destino
das folhas secas
pisoteadas pelos pés
dos noitivos cavaleiros
dos sonhos ambulantes...

As folhas secas forram
o chão e dançam no
vento, romarias do tempo:
na terra, folhas entrelaçadas
num tapete de sensuais abraços;
no ar, rodopios saltos
bailados na correnteza
imponderável do por-vir...

                                  UM PASSO
                                               Jorge Bichuetti

Meus passos volatizam
o pó da estrada;
eles são filhos do horizonte,
seguem o vento
da liberdade
da ternura
da justiça
de uma nova suavidade...

Meus pés não cansam
de sonhar
com a aurora
com a vida
de um novo despertar...

Doídos, calosos, rudes
e maltrapilhos...
Eles vão... eles são
a estrada...

Um passo no caminho
da luta, da utopia,
se faz compasso
de uma festiva
e popular
alegria...

                                           MEU NOME
                                                             Jorge Bichuetti

me chamo jorge,
nome santo
para uma vida profana...

antônio, exu,
entre o luar e as estrelas,
sou a mandinga
dos versos brejeiros
de uma poesia
singela
feito canto
de passarinho...

escuta, eu sou
zé ninguém;
contudo, na lida
dos sonhos das utopias
das guerrilhas
poéticas
das barricadas
de rezas,
eu sou
a flor o menino
a raça o temor
a graça o louvor
a massa o varal
do povo
tupiniquim
eu sou
a hóstia o resto
a folia a greve
o verdejar o delirar
do meu canto
Brasil:
Brasileiro...

                          AMOR ESQUERDO
                                                   Jorge Bichuetti

amores menores
à esquerda
do lar
na esquina
na praça
um beijo um
mais
um pouco um
terço
de paixão...

                                          BORBOLETEAR
                                                            Jorge Bichuetti

se me veres, aí
onde antes só
era uaí,
saibas: estou
puro desejo e, assim,
o jeito é sonh-ar
e borboletear...