segunda-feira, 11 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: ACORDES DA MADRUGADA...

                                       Jorge Bichuetti

Madrugada. Meu quintal ainda dorme.. O céu, não... Estrelas faiscam, espiando meu respirar... Parecem conhecer meus sonhos. Não aprendi, todavia, auscutá-las na sua  palavra silenciosa. A noite é silêncio... Barulhos da vadiagem que distante parecem preces, como se as criaturas da noite encontrassem, nos becos do destino, anjos e catedrais...
Minha Luínha dorme, sonha... espera... lhe contei que hoje íamos falar com amigos distantes que tanto amamos.
O amor não tem fronteiras... A saudade, no entanto, acampa nos nossos corações e os ocupa... ali, reina com seu véu nevoento, cheio de nostalgia e anseios de ressurreição. Ressurreição do passado.
O amor é força da vida que movimenta o destino;o destino é a argila que manuseamos entre a poeira da saudade e os sonhos diáfanos dos bons encontros... Se a economia move a história; o amor tece as epopeias prosaicas das nossas vidas banais...
E ele nos faz especiais... Flor de singela beleza; diamante incrustado no peito...
Amamos... e como sabemos do amor, se o estudamos na nau dos poetas ou nas lágrimas dos apaixonados...
O amor é território da alegria e da tristeza, da partida e da chegada, dos encontros e dos desencontros... Caminha entre a magia das ilusões e o feitiço dos desencantos... Mas, sempre belo e sempre fazendo bela a vida.
Embora, quanta dor nasça oriunda do amor... amor negado, amor temido, amor desencontrado, amor, esgotado, amor sufocado, amor moribundo... quantas dores!...
Aqui, já as pensamos com Freud, Foucault, Deleuze-Guatttari, Espinoza, Nietzsche, Baumann... Não, hoje, a veremos no versar  dos nossos poetas populares.
Ressoa: "mora na filosofia; pra que juntar amor e dor."...
O amor é vitalizante e humanizante sob o signo da alegria. Se amor cabe dor partilhada; mas não comporta a dor nascida da composição de um bem-querer com um mal-querer... Não comporta o querer que longe é desejo, perto, desprezo... Não comporta o querer que se afirma noutros queres, gerando ciúme, insegurança, solidão... Não comporta o querer humilhante, que necessita ver outro apagado, cinzento... O amor gosta mesmo é de ir por ai de mãos dadas, de flores, luares e serenatas... De carinho, carícias e afagos...
Por isso, pede criatividade... Algo que lhe tire do cinzento da rotina... Não acho que devo continuar... O amor pede Vinicius de Morais:
"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure"



4 comentários:

marisley disse...

Sim, o amor assim como a vida pede criatividade. Sejamos criativos, alquímicos, possamos transformar dores em flores.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

E, assim, sobrepondo a força do amor nas correntes do tempo, inauguramos o alvorecer da ternura. Abraços

marisley disse...

Sim, o amor assim como a vida pede criatividade. Sejamos criativos, alquímicos, possamos transformar dores em flores.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marisley: o amor pede doação... nele, somos chamados a viver o ser... da partilha... voos na amplidão, abraços ternos, jorge