domingo, 17 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: ENTRE O BECO E A LINHA DO HORIZONTE

                                                      Jorge Bichuetti

Madrugada> Saímos e respiramos  o orvalho do amanhecer. Eu e Luínha... ela quis ir e a levei: aconchegado nos meus braços. A lua clareia com maternal ternura, dá alento; no silêncio, se escuta um acalanto... As estrelas faíscam adeuses... vão partir, logo, o sol chegará. O cheiro de mato, a altivez dos álamos, a generosidade da roseira... as árvores e as samambaias... Nossa Mãe Gaia, Pachamama, tudo me leva a um novo e intrigante pensamento: nossa vida circula entre o beco e a liinha do horizonte.
O beco é a nossa vida nos limites do que pode o nosso eu... limitado e vulnerável, prisioneiro de rotinas e protocolos, feito de angústias e desprazeres... que na calada da noite, ousa na penumbra uma e outra ousadia; para, logo cedo, despertar envergonhado...
A linha do horizonte é a vida que nos chama para ser... um além, novos eus, o novo e o infinito... um viver na amplidão do que pode um corpo, uma vida...  Uma vida onde as paralelas, realidade e sonho, se enroscam, se abraçam, se mesclam, se copulam, se fertilizam, se irmanam, se engravidam de vida nova.
O ser humano tem sede de imensidão... do novo, do inusitado, de ser e ir além...
Porém, quase sempre, nos acorrentamos da cinzenta rotina do viável, do permitido, do instituído...
Mas, o horizonte não se cala... ele chma, clama... provocante, instigante.
O horizonte revela-nos o que somos e negamos no nosso dia-aa-dia de prisioneiro das convenções.
E no beco, a vida treme, é claudicante, é medrosa...
Ousemos  viver na linha do horizonte...
Viver a intensidade do instante com a alegria de quem não se vê escravo do Cronos...
Brincar, amar, sonhar... Lutar, rebelar-se, insurgir... Disfrutar, enternecer-se, solidarizar-se...
Ser a alegria do amor que eterniza o instante; ser a coragem da luta que antecipa o porvir...
Ser o canto da liberdade; ser o encanto da ternura...
O tempo voa...
Um dia, sem que percebamos chegará a morte, e, então, sentiremos saudade da vida não-viivida...

2 comentários:

Tânia Marques disse...

E viva Deleuze e Guattari, por tudo que nos legaram: infintas possibilidades de descobrir a vida feliz, a vida que se espalha e espalha o amor, contagiando a todos. Beijos

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

tânia: sim, a eles devo a vida que dobra, desdobra e transborda num rodopiar pelos sonhos de devir e amar;Abraços ternos, jorge