segunda-feira, 11 de abril de 2011

SINGULARIDADE, DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL.

                                                             Jorge Bichuetti

As políticas públicas e as práticas sociais permanecem limitadas pela noção de identidade; pelo socius dominante de segmentariedade... Somos nomeados, diagnosticados e classificados... ganhamos da vida uma identidade num socius que hierarquiza, exclui e normatiza a vida para que ela não possa emergir na sua tresloucada diversidade...
Somos um código que nos liga a um sistema de cuidado, de intervenções e de repressão...
O mundo gira e não vê que não foi produtivo o ideário da normatização... Dos homens em série...
Somos impermanência, mudança, obra inacabada, projeto, um conjunto de tarefas... Somos o novo... Somos devires... E somos seres da diferença...
Criamos generalidades... Banalizamos a dor e a restringimos as nossas gavetas de classificados...
O homem genérico é uma mistificação; e uma crua e dura realidade na submissão que inibe , suprime, evita a vida que brota e germina nas nossas vidas. A vida do seres humanos é singularidade e diversidade..
Incluir é fazer caber na cultura e na sociedade a singularidade e diversidade...
Os excluídos não são uma massa amorfa; desvitalizada; alienada de suas histórias, multiplidades de raízes e de sonhos...
Se os encontramos , assim, encontramos o produto de uma sociedade segmentarizado e normativa, que subjetiva a diferença, negando-a, e criando corpos servis, submissos, incolores e invisíveis...
São corpos sucateados, mortificados, destemperados pelo mundo de homens cinzentos: brancos; burgueses; heretossexuais; endinheirados; vitoriosos; corpos malhados e plastificados; racionais e pragmáticos; com todas as aptidões sensoriais e mercantis (compradores, vendedores ou objetos comercializáveis)...
A inclusão social necessita superar a estigmatização, a discriminação e a marginalidade da diferença...
A inclusão social precisa dar voz e expressão, capacidade de existir, livremente para dos diferentes;  e libertar as algemas e correntes do socius que suprime a diferença: singularidade e diversidade...
Somos hoje subjetividades capturadas: perdemos a vida e a expressão da nossa s tribos...
" Somos todos desertos, povoados de tribos, floras e faunas" - afirma Deleuze...
Pensamos, agimos, vestimos, amamos, convivemos, sonhamos, todavia, como se fôssemos todos filhotes adestradas do império... Vivemos à la plin-plin... Sonhamos hollywoodianos... Nossa cultura é a voz massificada da internet...
Um trabalho de inclusão social, assim, é , fazendo um paralelo com as ideias do livro "Kafka: uma literatura menor", um trabalho de práticas sociais menores...
O menor não é inferior; nem a desvalia... é a ruptura radical com o pensamento, com o modo de viver, com as relações da "maioria", não numérica, mas dos dominantes, da hegemonia do Capital... interiorizado nas subjetividades excluídas como desvalia, apatia e despersonalização...
Um trabalho menor , na compreensão de Guattari percute a vida e agencia: a expressão viva e vitalizante da singularidade e do devir; coletiviza, rompendo a narcísica solidão do individualismo e a amorfa diluição das massas acríticas; e emerge militante...
A militância é motor, sustentação e produção de vida da inclusão da singularidade e da diversidade...
Na luta, nasce um porvir... uma utopia... um grupo sujeito...
A vida clama... ela é potência; ela é salto e efervescência... é o novo... o alvorecer...
E incluir é libertar a vida que foi um dia excluída dos caminhos onde trafegam a alegria e  a liberdade, a poesia do porvir e a alteridade da diversidade e da diferença, que se materializadas, atualizadas, dão ao mundo um novo brilho, pois, já se pode viver e sonhar numa vida, assim, cruamente descolorida...

4 comentários:

Anne M. Moor disse...

Será que um dia seremos ouvidos? Nesse meio tempo, continuamos na luta.

beijão
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, falamos , clamamos, poetizamos, gritamos... mas iremos abrir as janelas da vida... Abraço com carinho, gratidão e imensa ternura; Jorge

Tânia Marques disse...

Mais um excelente texto, tenho sempre a vontade de multiplicar o que escreves, por isso, pretendo levá-lo para o Palavras e Imagens. É um texto que nos incentiva a pensar a vida de outro jeito, liberto das amarras sociais, desta bosta toda aí que a gente vê rolar na mídia de esgoto. Como é difícil para as pessoas perceberem que a vida e a morte estão totalmente banalizadas em nossa sociedade. Que a crueldade do ser humano reflete o sistema e que este que quer esquadrinhar todas as indivuidualidades e subjetividades de acordo com um padrão formatado pelo consumo, diga-se de passagem, desde consumir ideias até produtos, relações parasitárias e de fachada. Beijos, querido!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tãnia, acordo total co9m suas ideias... Inclusive, estar no seu blog é honra e alegria... Banalizamos a vida: hoje, selecionando frases do obra de Juvenal Arduini, um pensador que as escreveu( as que hoje analiava) depois de 90 anos e dois AVC, vi um pensamento claro: banalizamose vulgarizamos a vida; não dá mais... é hora de rebelar-se, insurgir-se e reinventar-se...
Abraços com carinho;
Jorge
PS. Desculpe, só agora estar trabalhando os comentários é tive tarefas junto aos estudantes... beijos.