quinta-feira, 7 de julho de 2011

DIÁRIO DO BORDO: ONDE MORA O SENTIDO DO EXISTIR?...

                                         Jorge Bichuetti

Sol claro, céu azul... Amanheci entre papéis, sonhos e o meu quintal... Não posso afirmar, com certeza, se estou lento ou se as vozes da natureza prosearam demais. A Luínha vigia os pássaros, enciumada... A acaricio, tranquilizando-a. Falo-lhe da universalidade do amor e da vida como valor no encontro... Me olhou com o mesmo olhar que meus alunos usam para me pedirem que desça do voo sideral. Como eu sinto que os álamos, as borboletas e a relva me compreendem. A vida é bela. Devia ser diariamente celebrada: com cantos, danças, versos e rezas... Ou, então, com um singelo, mas verdadeiro, olhar de gratidão.
Viver é encontrar e se encontrar... Dos encontros, nascem, florescem, reluzem sentidos para o nosso permanente caminhar.
O ser humano é ser do caminho... Mas, o caminho é caminho não pela trilha que dá solidez aos nossos passos; o caminho é terra de encontros.
Os encontros nos iluminam, nos humanizam, nos tornam éticos, nos dão sentidos...
Viver alheio ao outro, à natureza, aos sonhos e ao infinito... é existir pela metade; existir no vazio.
Encontrar é sair de si mesmo, é criar pontes para o outro.
O encontro é mediado por pontes que conectam a vida.
A fome e a solidão do povo da rua, se as vejo, me permitem um encontro onde eu... ao trafegar pela ponte da compaixão, passo a ver, sentir, cultivar e experienciar a solidariedade como sentido... Sentido para a minha existência; sentido para um novo mundo... E deste encontro, eu não serei somente o que era... um no caminho. Serei caminho de partilha; e o caminho me fará um ser de partilha. andarei, então, no território do amor que pulsa na imensidão cósmica e já não estarei nos braços áridos e frios da solidão.
O encontro dá sentido à vida; dá vida à vida...
A lágrima e o riso, a prova e o verso, o palavra e o silêncio, a tempestade e a calmaria, o livro e as plantas,  os bichos e as estrelas, minhas luas... cada pessoa é uma oportunidade, uma possibilidade de um encontro.
Para encontrar-se com o outro preciso vê-lo, senti-lo, ouvi-lo... ele e sua vida; ele e sua história; ele e sua magia; ele e suas desilusões; ele e seus sonhos... Encontrar-se é estar com o outro.
O outro, quase nunca é visto e sentido. Conversamos, negociamos, educamos, namoramos... mas não criamos pontes para ir e circular, cirandar, vivenciar o universo singular do outro. Projetamos nós e que preconcebemos sobre o outro. E o outro torna-se invisível. Não existindo encontro... acabamos na multidão, solitários, despovoados...
Ontem mesmo... para prosear na nosso mineiridade... ouvi de uma mãe: meu filho não me escuta!... Lhe perguntei, gracioso: qual?... Me disse: o meu, só tenho um... Lhe contestei: um que caminha, ama, chora e sonha... e outro que está no seu ideal... na sua fantasia... na sua expectativa e que diz mais das suas frustrações e desejos do que da vida-sonho-magia-caminho do seu filho...
Tantos anos de convívio, e ela ainda temia encontrar o seu filho... E não percebia que o oprimia, cultivando um fantasma que o tiranizava, toda vez, que ele percebia que ser...  era magoá-la...
Ela me chorou... E eu desejei encontrá-la... falei dos meus desencontros e da beleza que a vida sentida e vivida na potência dos encontros.
Agora, escrevendo, digo: a arte de viver é  a arte de tecer pontes para o encontro do outro... Nascente do amor. Fim da idolatria; instauração de caminhos de partilha... Amor, simplesmente, amor...

2 comentários:

Anya Piffer disse...

Que produndo!
Sempre que leio seus texto aprendo algo.
Obrigada por dividir conosco.
Abs
Elania

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Elania, partilhar e caminhar entre amigos me faz feliz e voador. Abraços ternos, jorge