P. QUAL É A RELAÇÃO ENTRE A VIDA E O AMOR, PENSANDO OS ESTERTORES CONTIDIANOS QUE NOS OBRIGAM A VIVER ENTRE SURTOS DE RENASCIMENTO E MORTE?...
"O BEIJO E A LÁGRIMA
Quero um beijo, pediu ela.
Um sismo
abalou o peito dele.
E devotou o calor
de lava dos seus lábios,
entontecida água na cascata.
Entusiamado,
ele se preparou para, de novo,
duplicar o corpo e regressar à vertigem do beijo.
Mas ela o fez parar.
Só queria um beijo.
Um único beijo para chorar.
Há anos que não pranteava.
E a sua alma se convertia
em areia do deserto.
Encantada,
ela no dedo recolheu a lágrima.
E se repetiu o gesto
com que Deus criou o Oceano. MIA COUTO"
P. A ARTE É CATARSE, CRIATIVIDADE OU SONHO VIVO?...
" O POETA
O poeta não gosta de palavras:
escreve para se ver livre delas.
A palavra
torna o poeta
pequeno e sem invenção.
Quando,
sobre o abismo da morte,
o poeta escreve terra,
na palavra ele se apaga
e suja a página de areia.
Quando escreve sangue
o poeta sangra
e a única veia que lhe dói
é aquela que ele não sente.
Com raiva,
o poeta inicia a escrita
como um rio desflorando o chão.
Cada palavra é um vidro em que se corta.
O poeta não quer escrever.
Apenas ser escrito.
Escrever, talvez,
apenas enquanto dorme.MIA COUTO"
P. QUEM SOMOS NA MATURIDADE DE UMA VIDA?...
"A ADIADA ENCHENTE
Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.
Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.MIA COUTO"
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