Amanheceu... As nuvens no céu... movem-se alegres; bailam... Choverá. Meus pequenos passarinhos... aninhados nos altivos álamos contemplam o infinito e, embora não cantem, sonham... A minha Luinha já passeou comigo mirando o céu distante... Ela se preocupa com minha lucidez, quando lhe digo: veja, filha, é tão longe e tão perto... Podemos voar e triscar o azul, roubando da imensidão compassos de paz e serenidade... Ou melhor, podemos transladá-lo e semeá-lo no chão: um chão animado e feliz no cirandar alegre do encontro das flores da relva com as estrelas cósmicas que iluminam a escuridão...
Sinto raiva: alguém já maculou o coraçãozinho da minha pequena... Já lhe contaram que vivemos num mundo onde é proibido fantasiar; sonhar acordado... A imaginação é subversiva, u'a guerrilheira insurgente...Só os loucos podem...
Refletindo nas dores e no vazio que anda dominando os dias da nossa vida num mundo globalizado na banalidade cinzenta da vida metrificada pelos cálculos mercantis do lucro e das riquezas... penso, desatinado: como somos pobres!... como é poderosa a loucura!... Ela resistiu... ousou permanecer inventando novos mundos... não se contentou com o fiapo de vida que criou uma humanidade triste e cabisbaixa...
As flores nascem, brilham, perfumam... mas, murcham num vaso... num vaso no meio da sala... onde se é visto, não sentido... ali, fica...entre velas... escutando cifras e as cotações das moedas.. ou o scripit da novela alienada que fala de amores impossíveis e de traições vulgares... As flores, ali, murcham, pouco a pouco, com saudades dos poetas e das borboletas...
Os sonhos confinadas numa matemática interpretação, vivem acorrentados...proibidos de anunciarem profeticamente o porvir...
Já não cantamos, já não brincamos... Não borboleteamos nos caminhos azuis da utopia...
O mundo anda de cabeça para baixo: a morte anda vida e vida, morta...
Um cansados nos levam num trabalhador psi que irá nos recondicionar à normalidade fraturada nos reveses do cotidiano...
Assim, se passam os dias...
Assim, aproximamo-nos do fim...
Urge rebelar-se; insurgir-se... Indignar-se... e buscar com sonho e poesia, na companhia das borboletas azuis, um novo mundo...
Este agoniza, lentamente... na crueldade da matança e na vileza das desumanidades...
Nele, adoecemos...
O ser humano não se sustenta alijado do que pode a vida nas floradas da esperança e da ternura...
O ser humano robotiza-se e animaliza-se - animal circense, cheio de informação e acrobacias.... e, aos poucos, vamos mumificando-nos... zumbis entediados... marionetes fixadas no grande espetáculo da vida vazia...
Urge repensar nosso destino... Ousar, perguntar pelo mundo e pela vida que desejamos...
Necessitamos resgatar o nosso guerreiro que se viu num coma induzido pelo fatalismo, pela apatia, pela acomodação...
Busquemos Rosa e na ousadia do caminho, lutemos com coragem e esperança... Deixemos que nossos corpos se convertam no sonho e na poesia viva que nos anuncie um novo porvir... uma nova suavidade, uma vida de ternura, compaixão e solidariedade...
Escutemos,então, o grito vitalizante de Guimarães Rosa:
- "para onde
nos atrai
o azul?"
nos atrai
o azul?"
Na dúvida, ele nos esclarece:
- "O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem..."
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem..."
2 comentários:
Sejamos obstinados.
Safae: seguindo os sonhos que nascem no horizonte azul... busquemos o alvorecer da vida de alegria e paz... abs ternos, jorge
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